quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Ônibus, estes geradores de crônicas (e posts no Facebook)

"Observem estas pessoas que consultam os relógios e verificam pela décima vez a tabela de horário. Ônibus atrasado. Não é possível, este país não anda, precisamos reclamar na BVG, a companhia. O ônibus chega, vou olhar, está dois minutos atrasado".

Provavelmente, quando passei os olhos neste parágrafo de O verde que violentou o muro - livro em que Ignácio de Loyola Brandão conta a sua experiência de viver numa Berlim com um muro que gerou a ilha consumista/capitalista dentro da RDA - não imaginava o que estaria por vir.

Por conta do cancelamento do compromisso das quartas-feiras, tive que dar a volta com o ônibus, o que acabou caindo justamente no horário de pico. Este não importa se é aqui em Maceió, nos trens lá do Rio Grande do Sul ou em São Paulo. Se quem usa transporte próprio reclama de engarrafamento é porque não sabe, ou não se lembra, como é ter de ser levado pela multidão dentro de um ônibus, quando se consegue entrar!

Uma, duas, três paradas próximas ao principal shopping da cidade e lá se foi o vazio daquele transporte público. Quem conseguiu subir com espaços para sentar reclama que esperava há uma, duas, duas horas e meia e nada do "desgraçado" passar. "Não adiantou nem eu sair mais cedo", reclamava uma.

Sabe-se lá o porquê, mas o ônibus era daqueles que não se pode abrir as janelas da metade de cima. As de baixo, mesmo com o vento frio de inverno nordestino, tiveram que ser abertas para ver se algum ar circulava em meio a tange gente.

O ônibus seguia assim, super lotado, até que num dos pontos o motorista resolveu que cabia mais, as sete a dez pessoas que aguardavam, provavelmente também por muito tempo, a vinda de sua locomoção. Um reclamando aqui, outra acolá e começou a bagunça. Foi um tal de "não tá carregando a sua mãe, não, motorista". Outro de xingar o máximo possível. Sobrou até para o cobrador e seu bigode.

O tempo passando e nada do motorista seguir adiante. Mais reclamações. "Motorista, tem gente que ainda tem que fazer o café!". "Se encher mais esse ônibus vira!". E nessa as reclamações ganharam mais fôlego. Ainda mais pessoas reclamavam. 

Havia os que brincavam também. Pessoas pedindo para parar na próxima padaria para que todo mundo tomasse café, afirmando que cabiam ainda umas 30 pessoas lá para trás, que havia cadeiras vazias,... Depois de algum tempo, e desistência dos que estavam no ponto, ele seguiu.

Pela manhã, estive num ônibus em que uma senhora afirmava que tinha até parado na delegacia por exigir que o motorista andasse mais rápido, enquanto reclamava que o daquele dia estava bem lento - afinal, por que parar quando o semáforo para né? À noite, muita gente clamava o contrário, para que ele andasse devagar.

Num ponto depois, não adiantou pedirem para o motorista parar. Ele passou direto e alguém zombou dele, dizendo que deveria parar. No seguinte, ele parou porque desceriam. Mas antes, balançou um pouco o automóvel para lá e para cá. O "uoooouuuuu" coletivo foi seguido de mais xingamentos e pessoas falando que o ônibus viraria daquele jeito.

O medo se propagando e na parada seguinte houve quem descesse, suad@, cansad@ por ter de se equilibrar até mesmo em apenas um dos pés, pois para o outro não havia espaço.

Depois da maioria ter descido, um garoto disse que postaria no grupo do Facebook, recebendo incentivos de uma senhora, para que "colocasse mesmo", e de outro rapaz para que postasse no mural dele.

Eu, que pretendia escrever uma crônica sobre as mazelas de quem anda de ônibus, perdi a vontade urgente. Se andar em transporte público por aqui gera várias crônicas, também gera vários posts nas mídias sociais.

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