sexta-feira, 21 de junho de 2013

Muitas pessoas nas ruas


[Deve estar bem bagunçado. Se der, reviso amanhã, colocando algumas fotos, vídeos e áudios. Ah, o texto é beeeem longo]

Tinha pensado muito no tanto de criticismo iria levar em considerar numa análise pessoal e por aqui quanto ao movimento contra o aumento da passagem aqui em Maceió. Tinha pensado em escrever só na tarde ou na noite da sexta-feira, mas dado o rumo que se tomou nacionalmente, com forte preocupação de um golpe da direita, não conseguiria dormir - mesmo que pela segunda noite seguida.

Quem me conheceu por conta da militância sabe muito bem que eu não sou um militante para valer, admito. Tenho meu posicionamento ideológico, creio que bastante claro, radical, visando a transformação social para além de melhorias passageiras, mas não sou de participar de movimentos sociais, de atos legítimos, ainda que muito por conta da inviabilidade das atividades cotidianas de pesquisa - que no fundo ajudam à minha formação ideológica. Além de uma experiência não muito boa, por conta das práticas alheias, na época de militante estudantil.

Minha preocupação quanto a um criticismo exagerado era por considerar que a maioria das pessoas não teria o mesmo posicionamento ideológico meu e de colegas e amigos da época do Diretório Acadêmico, que, independente da trajetória, não o esmoreceram. E o principal, um dos meus motivos por nunca ter me aproximado de um partido de esquerda (de fato), eu sempre acreditei que quem sofre pelas contradições do capitalismo é que pode dizer melhor o quanto ele é pavoroso para o operário. Crer que ninguém precisará "encaminhá-los" a um processo revolucionário.

Enfim, ideias que eu não discuto/estudo há algum tempo à parte, minha ideia era chegar sem conceitos pré-concebidos sobre a multiplicidade de discursos, as brincadeiras exageradas ou não, possíveis demonstrações de preconceitos ou repetição sem pensar de determinadas falas, brados, hinos, etc.

Claro, o movimento das opiniões mudou graças à repressão escancarada e impossível de não ser publicizada por parte da PM de São Paulo na semana passada contra o Movimento do Passe Livre - com jornalistas de grandes empresas também sendo atingidos. Ficou tão explícito que Datena e Marcelo Rezende passaram a suavizar de forma extrema as opiniões sobre movimentos sociais e até a Rede Globo e a Folha, que teve repórter atingida pela polícia logo depois de um dos seus "editoriais raivosos", deu o braço a torcer. 

Ainda que esta mudança da "opinião pública" tenha gerado um novo padrão de manifestação, agora com "a minoria" sendo de vândalos e que o movimento era apartidário - gerando uma contradição e um novo "modelo militante" -, gerou uma série de manifestações em todo o país. E manifestações com mais e mais pessoas e com maior repúdio às ações repressivas como nunca d'antes. Maceió mesmo, com 2 mil pessoas nas ruas? Quando? [Sem contar com grevistas da educação e/ou movimentos de trabalhadores rurais sem-terra].


PARTIDOS
Na semana passada não fui porque fui convidado ao ato um dia antes dele ocorrer e não estava por dentro das coisas daqui. Na segunda, ainda não estava confiante de que seria algo tão interessante quanto prometia em São Paulo, além de alguns grilos que ficaram na cachola da época da graduação e a etapa final de uma observação de pesquisa. Mas já tinha confirmado a ida a uma possível nesta quinta, na página do ato nacional. Tempo também dos prefeitos diminuírem o valor das passagens pelo Brasil.

Ao longo da semana, já dentre os protestos de SP, comecei a ver na TV aberta manifestantes puxando bandeiras, quebrando e tirando as faixas dos mastros porque eram de partidos políticos. Violento mesmo. E os grandes grupos midiáticos se vangloriando, e, consequentemente, incentivando, à repetição de coisas assim.

Já tinha dado uma olhada na página do ato aqui e visto que havia uma discussão sobre a presença ou não de bandeiras de partidos, dado o exemplo midiatizado de outros Estados. Comecei a ler um dia antes alguns dos comentários e comecei a ver com estranheza coisas como "o voto é do povo, aqui é democracia e se o povo escolher não ter bandeiras não vai ter. Eu garanto!". Olha o que o voto faz diariamente, olha a representatividade proposta pela internet, olha a falta de contextualização e conhecimento sobre a atuação destes partidos - olha como o discursos é o mesmo da democracia representativa...

Uma amiga minha chegou a discutir e perguntar, "mas o que você fará para garantir". "Éééé...". VIOLÊNCIA. Opa. O movimento que grita "sem violência", veste branco pedindo paz e grita também "sem vandalismo", não teria vergonha em bater num companheiro daquela luta, que construiu aquela e várias causas desde sempre, ao contrário dos que chegaram agora, mas que né, são a maioria.

Essa era uma das coisas que eu pretendia observar no ato e confesso que em boa parte do tempo pensei em chegar antes para ver como seria dada essa decisão e, caso necessário, evitar que coisas como as citadas acontecessem por aqui. Além de tentar ter uma preocupação com os jornalistas que TRABALHARIAM cobrindo o evento. Por mais que seja de emissora a, b ou c o cara não deve ter microfone roubado, câmera tapada ou sofrer violência. Grite, xingue a empresa, vá até ela, mas a pessoa está ali para fazer o trabalho dela.
Uma colega minha, do PSTU, respondeu ao meu tuíter da madrugada deste texto sobre o que aconteceu com os militantes partidários ontem:

"Os Partidos de esquerda se retiraram aqui do ato quando algumas pessoas nos ameaçaram. Foi preciso fazermos um cordão de isolamento para manter nossa integridade física. Foi muito triste. Passamos o ato inteiro escutando palavras de ordem contra a gente, e depois vieram nos agredir. Tivemos que sair".


PROTESTO
Já no ônibus haviam alguns estudantes, gritando, chamando palavras de ordem, brincando, mas também convocando as pessoas nas ruas para irem ao ato. Inclusive, antes de descermos, um senhor se levantou e disse para protestarmos mesmo, afinal a geração dele não pôde fazê-lo por conta da ditadura militar [informação muito relevante].

Uma multidão de gente já caminhava a partir da Praça Centenário e vi o espaço dado às pessoas com bandeiras de partido. Menos mal que puderam levá-las, mas sob muita pressão, com gritos de "sem partido" e "abaixa a bandeira", com direito a estímulo por parte de quem estava no carro de som. Vai que acrescentaram uma pauta naquele momento...

Andei em direção ao início e só alcancei na altura da Praça dos Martírios (do Governo), observando os gritos, as pessoas vestidas de branco, com bandeiras do Brasil, com caras pintadas e até com camisas da Seleção da CBF - porque as bandeiras dos partidos não podiam, mas a da Seleção podia, Arnaldo?

Ainda assim, eram de 10 a 20 mil pessoas nas ruas de Maceió para protestar. Inacreditável. Incrível. Apesar de alguns problemas, como o locutor do carro da frente dizer que ali era um movimento da juventude livre que era "apartidária" e "sem ideologia". Mais uma balançada de cabeça minha. "Sem ideologia" existe?

O hino nacional era cantado algumas vezes e eu não canto o hino nacional por conta da sua criação, seus ideais positivistas - como "ORDEM e Progresso" da bandeira. Cantavam "Sou brasileiro com muito orgulho, com muito amor". E eu quieto. Não canto o hino há algum tempo por conta do seu significado - e sim, como apaixonado por futebol, canto o hino do clube que eu torço e me representa, que seja contradição!

Bombas e rojões assustavam muitas vezes, mas nenhuma crítica foi feita. Algumas vaias só foram ouvidas quando alguns batiam em portões e/ou pichavam alguns locais. De resto, muita brincadeira, fotos no Facebook - que é bem normal para os dias de hoje e a popularização do protesto - e amplos espaços entre os blocos. E foi isso que gerou a divisão em três partes, com uma partindo para a Av. Fernandes Lima, enquanto as outras seguiram para a orla de Pajuçara/Ponta Verde, chegar no apartamento do governador.

Como estava nesta segunda parte, segui, esperei muitas vezes para a aproximação de uma parte com bandeiras, mas demorava muito. O apoio das pessoas nas casas e prédios em que o ato passou era grande. Na orla, os turistas pularam para janelas e entradas dos hotéis para verem tudo aquilo. Toda respostas das pessoas em casa eram saudadas nas ruas. 

Aquela sensação em mim para saber a importância dos aplausos das pessoas que votam naquele vizinho que o ato visitaria ou em pessoas de pensamento parecido. Que ser saudado nas comunidades carentes e periféricas, como a que eu moro e que mal se comenta sobre isso, seria bem mais importante e relevante para uma transformação real...

Saí antes de chegar ao apartamento do governo porque eu pego ônibus e só tenho uma linha à disposição para chegar ou sair da parte nobre da cidade. Confesso que saí com estranhamento, mas surpreso com a quantidade de pessoas que se manifestaram. E uma das coisas que vi na Argentina e achei fantástico foi que todo mundo protesta. Vimos senhoras com super casacos de grife batendo panela numa noite geladíssima, quando já tínhamos visto um protesto interrompendo a avenida que o hotel ficava e uma greve geral dias depois. Nas condições reais, isso é interessante.

Porém, cheguei em casa, liguei o computador e vejo uma série de informações relatando até ESPANCAMENTOS a militantes de partidos políticos no Rio de Janeiro e em São Paulo, com o Movimento do Passe Livre de SP abandonando o ato porque foi EXPULSO por fascistas que tomaram conta do movimento por lá sob os argumentos do nacionalismo, apartidarismo e "sem ideologia". Depois me disseram que na Bahia perseguiram negros e membros de movimentos LGBT.

A coisa ficou tão grave que a minha time-line e amigos em mensagens começaram a considerar um novo golpe de direita no país!!!

Tudo bem que em Alagoas se foi protestar contra o governador usineiro, do PSDB, mas as bases de defesa explicitadas em outros locais do Brasil quando comparadas as daqui assustam, geram um pavor ainda maior em quem já sentiu na pele a repressão mesmo em dias de "democracia" e que leu e ouviu muito sobre as repressões na ditadura militar.

Trata-se de um movimento que apesar da pauta do passe livre e de combate ao aumento da passagem sempre se definiu de esquerda, articulado com partidos de esquerda e que cresceu e vem sendo apropriado por setores de extrema-direita muito porque, como comentava dias atrás com um amigo anarquista, as pessoas estavam muito mais para uma "marcha pela família, por Deus e pela Liberdade" do que para uma revolução das massas.

Mas nunca esperava uma guinada deste nível. Para ser sincero, não esperava algo assim nunca mais enquanto eu vivesse. Assustado, torcendo para que isso não ocorra e acompanhando o encaminhamento que a história dará.

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