quarta-feira, 17 de abril de 2013

“Eu odeio jornalistas!”


Imaginem a situação. Todos os passageiros dentro do avião, porta fechada e aí começa a atrasar a partida. Instantes depois, todo mundo tem que descer porque, porque, porque... Se sabiam, não falaram. No chão, muitas reclamações e nada de respostas válidas. Nada de saber a que horas o voo partiria realmente. Acabei descobrindo mais informações perguntando às pessoas da companhia que encontrava no caminho. 


Após ter a resposta definitiva – de que em breve sairia uma informação pelo alto-falante do Galeão, já que “Maceió era outro caso” –, acabei encontrando um lugar para sentar. Por coincidência, duas cadeiras depois, uma senhora do mesmo voo, fazendo caça-palavras e esperando o tempo passar. Conto as informações que havia conseguido e ela me pedia para avisá-la caso avisassem algo, já que não conseguia prestar atenção aos avisos sonoros. 

Entre nós, uma moça que estava preocupada se o avião dela, em direção a Fortaleza, sairia no tempo certo. Em pouco tempo de conversa, descubro que era estudante de Jornalismo do campus Juazeiro da Universidade Federal do Ceará – colocar UFC pode gerar dúvidas... Tudo bem que essa não seria a única pessoa ligada ao Jornalismo que encontraria naquela noite, mas a história é mais interessante para contar. 

A senhora era médica no Rio de Janeiro e ao saber que as pessoas ao lado, nós, tínhamos ligação com o Jornalismo, desandou a falar mal da profissão, quer dizer, dos profissionais. Foram muitas coisas do tipo: 

- Os jornalistas só falam mal. Só falam mal de nós médicos. Agora, de quem deveriam falar mal, não falam. 

Como (quase) sempre eu não coloco a faca entre os dentes e parto para briga, tentei com toda a paciência do mundo, apresentar contrapontos. A estudante ao lado, também com experiência no movimento estudantil, olhava para mim como se esperasse que eu falasse algo. Claro que admiti problemas da profissão, só que contextualizando as condições de trabalho. Afinal, é necessário que vendamos a nossa força de trabalho e, infelizmente, são pouquíssimos os espaços jornalísticos desvinculados a políticos. 

Não adiantou. Seguiram-se mais “sugestões”: 

- Mas vocês deveriam... 

- Vocês são muito mal formados. 

Até que chegou ao veredicto: 

- Eu ODEIO jornalistas. Olha que eu tenho amigos jornalistas e vivo dizendo isso para eles. 

100% de constrangimento. Respirada funda. Momento de contar até 10 e dar um sorriso amarelo. Eu sei, bem que poderia aproveitar que ela odeia os jornalistas e não passar a informação que ela precisaria depois sobre o novo horário do voo. Mas a minha formação, ao menos o que eu construí do que deve ser uma pessoa, para além de um jornalista, vai além disso. 

Desta forma, restou o seguinte: 

- Respeito a sua opinião e até concordo com alguns dos pontos colocados, mas discordo de você ao generalizar desta forma. Os problemas são bem maiores que isso. 

Silêncio natural. Afinal, quantas pessoas dizem sem qualquer receio que te odeia, sem ao menos te conhecer? Depois de algum tempo assim, ela tentou mudar a afirmação anterior: 

- Quer dizer, eu odeio o jornalismo, não os jornalistas. 

Será que realmente é menos mal?

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