segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

[Por Trás do Gol] A metáfora da vida - parte 2

"O futebol como metáfora da vida" é uma definição muito frequente, mesmo no ambiente científico, para tentar explicar o porquê deste esporte em particular atrair tantas pessoas e causar um amor inexplicável em quem participa dele. Confesso que, enquanto pesquisador, eu penso ser um conceito que me parece ser "lugar comum", que sempre necessita de uma maior explicitação para além da óbvia fuga da realidade em meio a algo em que se tem que buscar ser o melhor mesmo sabendo que a derrota pode vir na mesma proporção, como na vida.

Há alguns autores das Ciências Sociais e Humanas que avançam nesta tentativa de explicação ou que optam pela impossibilidade desta realização, só para citar os nomes mais "famosos" fiquemos em Bourdieu, Hobsbawm e Gumbrecht. Realmente, dá para criar relações e comparações com aspectos econômicos, sociológicos, antropológicos, culturais, políticos, e de tantas outras esferas da vida com o desenvolvimento do futebol que, afinal de contas, também faz parte dela.

Tudo isso para dizer que achei um tanto curioso o fato de os meus textos sobre o Palmeiras no ano terem uma recepção que alcançava muitas pessoas. Foram postagens que por conta de um 2012 recheado de problemas, como nunca dantes, que tiveram muitos relatos de trajetória pessoal. E lia de volta, ou via pela quantidade de pessoas que achavam os textos na internet, alguns "reconhecimentos" de trajetória. Incrível!

"A metáfora da vida" acabou sendo o título decidido muito antes de começar esta retrospectiva porque os períodos de alegria e tristeza foram parecidos com o futebol, que no final das contas foi um oásis no meio de desertos que apareceram na minha jornada este ano, por mais que o fim do ano não tenha sido propício a alegrias.

DE BARCOS A BETINHO: A VOLTA AO TÍTULO
Paulistão e Copa do Brasil começaram e em meio a suspeitas sobre um time pouco reforçado, somos apresentados ao argentino Hernán Barcos. O cara que sofreu piada até mesmo do vice de futebol após prometer repetir, ao menos, os 27 gols da temporada anterior com a LDU, mostrou ser o maior acerto em contratações de muitos anos de diretorias ruins do Palmeiras.

Mais que isso, Barcos além de fazer gols como centroavante, e até foram poucos, mas fundamentais, de cabeça, mostrou-se um atacante com muita habilidade, sabendo abrir espaços em locais com marcadores mais próximos. Um exemplo clássico disso é o gol que ele fez contra o Linense, pelo Paulistão, e que poucos lembraram dentre os mais bonitos deste ano, que teve drible da vaca no zagueiro e toque por cima do goleiro.



Rapidamente "El Pirata" virou ídolo, tirando um pouco do peso de Marcos Assunção, acrescido à volta ao bom futebol de Henrique e mesmo com a aposentadoria de São Marcos no início do ano. Parecia que, apesar de manter um elenco limitado, o time poderia alçar voos mais altos.

No Paulistão, como quase sempre, o time começou muito bem, mas perdeu fôlego no final do primeiro turno, ficando em quinto lugar. Em Campinas, pelas quartas de final, derrota por 3 a 2 para o Guarani e perda por muito tempo da contratação mais cara do ano, Wesley, que jogara pouquíssimas partidas até então.

Mas os problemas não ficaram por conta de Wesley, outros se lesionaram ao longo do semestre ou foram caindo de rendimento, casos de Cicinho e Juninho, ao longo do tempo. Houve também sequestro relâmpago da família de Valdívia, com ameaça de saída do clube, cirurgia urgente para curar apendicite no dia da primeira partida da final da Copa do Brasil, vários erros de arbitragem contra, etc. 

Parecia que não daria. Apesar da classificação às semifinais da Copa do Brasil após 13 anos, enfrentamos o favorito Grêmio, de Kleber e Luxemburgo. Partida sublime sob o comando de Felipão no Olímpico e classificação confirmada com gol do Mago na volta em São Paulo.

A final contra o Coritiba foi realizada em meio ao alvoroço do título da Libertadores pelos arquirrivais - o que comprovava todo o potencial sádico de 2012. No primeiro jogo, domínio total dos adversários no primeiro tempo, com vários gols perdidos, mas vitória com gol de pênalti no finzinho. Na etapa final, segundo gol marcado, mas polêmica gerada por um pênalti claro não marcado para o Coritiba. Esqueceu-se da expulsão infantil de Valdívia e de um gol "daqueles" perdido por Maikon Leite.

"Inferno Verde" no jogo de volta, no Couto Pereira, e um nervosismo que só os palmeirenses sabem como é, daquilo de que para nós nunca há título ganho, sempre virá com muitas e extremas dificuldades. O gol de Ayrton, futuro reforço palmeirense, deu o ar de desespero à final. Ainda bem que Marcos Assunção acertou mais uma cobrança de falta logo em seguida. Betinho, ele mesmo, BETINHO desviou de cabeça e marcou o gol do empate, o do título nacional que não vinha há doze anos.

INVICTOS, vencíamos a nossa segunda Copa do Brasil e garantíamos a volta à Libertadores.


AGORA TRANQUILIDADE? JAMAIS PARA O PALMEIRAS
O que todos esperavam para o Campeonato Brasileiro era uma fuga tranquila, ainda no primeiro turno, da zona do rebaixamento. Em determinado momento, isso parecia ficar claro, quando, por algumas rodadas, ficamos realmente fora deste espaço que não nos pertencia. Mas durou pouco.

O técnico celebrado por torcedores e pelos jogadores começava a afastar alguns atletas do elenco, os boatos extra-campo voltaram a ser transmitidos pela imprensa esportiva, os desfalques por lesão seguiram se multiplicando, assim como as convocações do Barcos para a seleção principal da Argentina, e a bola passou a não entrar.

Foi no meio de um turbilhão de emoções, recém campeão da Copa do Brasil, mas com sérios riscos de rebaixamento, que passaram a crescer às nossas vistas rodada após rodada que passamos agosto, setembro e outubro. O que parecia ser impossível para um time da grandeza do Palmeiras tornou-se uma certeza, mesmo com algum fôlego aqui ou acolá sob o comando de Gilson Kleina.


Fui ao (que restou do) Beira-Rio para ver, ao lado de tantos sofredores quanto eu, a derrota para o Internacional de virada e a polêmica da anulação do gol do Barcos por influência externa. O sentimento após a partida era de que seria impossível. E foi.

Após a derrota para o Fluminense por 3 a 2, que deu o título aos tricolores e que praticamente sepultou nossas chances na primeira divisão, todos viam que a situação era totalmente outra. Tudo dava errado, nossas bolas batiam na trave e iam para fora, enquanto as dos adversários voltavam para o atacante ter uma segunda chance e marcar. Contra o Flu, terminamos o jogo praticamente com três a menos após termos empatado uma partida depois de perder por 2 a 0. Correia, João Denoni e Patrick Viera sentiram lesões após as três substituições!

No dia 18 de novembro de 2012 veio a confirmação pela falta de nossas próprias pernas. Empate no final do jogo, com gol de atacante formado nas nossas categorias de base e que muito nos ajudou na até então única passagem pela Série B. Era o fim.

O REINÍCIO
A única palavra que deveria passar na cabeça de todos os palmeirenses era "reinício". Só que para isso ocorrer precisa chegar o dia 21 de janeiro e que o Conselho Deliberativo eleja um presidente que não tenha rabo preso com fantasmas históricos do Palestra, que não tenham medo de atuar pelo time, que tenham inteligência e profissionalismo para fazer o "campeão do século XX" finalmente entrar no século XXI.

Como todos os anos anteriores, vemos a lentidão da diretoria em contratar jogadores. Foram 20 jogadores mandados embora e apenas dois contratados, o lateral Ayrton e o goleiro (!!!) Fernando Prass - que coisa, após 18 anos o Palmeiras voltando a contratar um goleiro! Além disso, segue-se o risco de perder dois jogadores fundamentais do elenco, Barcos e Marcos Assunção, e muito por responsabilidade da atual diretoria. Péssima em todos os sentidos.

Se é para ser a metáfora da (minha) vida, que 2013 seja um ano muito melhor para nós!

Nenhum comentário:

Postar um comentário