sábado, 21 de julho de 2012

[Em busca do El Dorado] Eles sabem fazer

Quinta e sexta-feira ocorreu o Seminário Globo-Intercom, evento realizado desde 2007 numa parceria entra a líder do oligopólio midiático, através do Globo Universidade, com a Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação. Todo mundo que me acompanha sabe o quanto critico a posição político-ideologia de classe inserida nos conteúdos globais, mas ele sabem fazer audiovisual como ninguém aqui no Brasil.


A quinta-feira foi dia de ouvirmos as apresentações das pessoas ligadas ao Esporte da Globo na Central Globo de Jornalismo, o Jardim Botânico. Antes do pessoal do esporte, a diretora de responsabilidade social e RRPP da Central Globo de Produção, Beatriz Azeredo, fez uma abertura sobre a importância deste evento. O áudio do vídeo do Globo Universidade não funcionou e depois nos garantiu vários risos ao colocarem um filme no lugar ao trocarem de canal e aparecer frases do tipo "ninguém pode saber sobre essa plantação de cocaína" - haha essa nem eu sabia.

CERTA CENSURA
Para tratar da "Visão Geral do Esporte da Globo e Cobertura de Eventos Esportivo", o diretor da Central Globo de Esportes, Luiz Fernando Lima. A minha maior crítica fica justamente neste ponto. Ainda que a maioria das pessoas ali não pesquisem especificamente a relação dos esportes com a mídia, tod@s tinham coisas a perguntar ao diretor da CGE, talvez fosse melhor ter colocado um turno inteiro para isso. No final, a palestra durou mais que o dobro do tempo que eles tinham planejado e tudo atrasou no final.

Luiz Fernando falou algumas coisas muito interessantes. Funcionário da área de esportes da Rede Globo desde 1983, quando saiu de O Globo, destacou a mudança de visão sobre este setor durante este período, já que até 2000 não havia horários definidos para o esporte na grade. Ou seja, este formato de jogos às quartas e aos domingos é recente, pois antes dependia se o jogo "oferecido" seria melhor que o filme que eles tinham a mostrar...

Não faltaram provocações à emissora que talvez vá transmitir as Olimpíadas, pois não fizeram nenhuma campanha promocional sobre o evento. Luiz Fernando falou ainda sobre a preocupação em como será tratar um evento deste tamanho sem a emissora ter os direitos de transmissão - a Globo transmitiu todos os Jogos Olímpicos desde 1972. Segundo ele, há certa censura no pessoal para não seduzir o público para algo que não irão transmitir. Fala-se sobre o acontecimento, mas não que ele terá continuidade nos outros dias.

O diretor da CGE fez questão de dizer que "o evento ao vivo é a matéria-prima do nosso produto, o esporte". Assim, a tecnologia não deveria atrapalhar a compreensão do jogo. Assim, não adiantaria ter dezenas de câmeras quando 70%, 80% das imagens são mostradas através da central. A spider-cam só foi utilizada duas vezes (2008 e 2011) porque mantê-la geraria o dobro de custos por parte do que é normal.

INTERNET
A apresentação a seguir foi "Globoesporte.com, a plataforma na internet e a integração com a TV", por André Amaral, jornalista com todo o estereótipo de nerd, mas gerente de desenvolvimento e de inovação da CGE. O site é desde 2007 o líder absoluto no segmento, com 60% (!) de share de mercado. Com a formação da rede pela internet, hoje são 200 profissionais trabalhando em 20 redações com dedicação exclusiva ao espaço e páginas para 150 clubes.

André falou também sobre as mudanças (radicais) na página ao longo destes sete anos de existência e as propostas diferentes, caso dos quadrinhos feitos para comemorar o título corintiano da Libertadores, a mega-foto e a transmissão ao vivo da internet - que geralmente ocorre por "obrigação" de quem vende os direitos de transmissão de um evento.

Sobre a produção jornalística, ele admitiu que ainda falta qualidade na produção textual, que são publicadas com vários erros ortográficos, especialmente porque assim que a partida termina o texto tem que estar no ar. Além disso, num processo iniciado na Copa do Mundo de 2010, o repórter do site tem que ser para além disso um produtor de conteúdo, levando sua câmera nos espaços que visita para fazer matéria. Assim como, o intuito é se diferenciar de informações mais factuais com um texto melhor trabalhado, buscando detalhes diferentes e interessantes.

POLÊMICA DO GLOBO ESPORTE
Óbvio que as mudanças no Globo Esporte, com a participação, para o bem e para o mal, do Thiago Leifert em São Paulo, iria causar grandes controvérsias e várias perguntas sobre a "humorização" do jornalismo esportivo. Horas antes da apresentação de Alex Escobar e Afonso Garschagen (editor-chefe), Luiz Fernando Lima já havia dito que matéria com 70% de humor e 30% de informação não iria ao ar. Afonso deu uma relativizada nisso, com direito a vários exemplos:

"A ideia não é fazer humor, mas fazer esporte de forma bem-humorada. A nossa ideia é fazer entretenimento esportivo. [...] A preocupação diária é fazer televisão, não se e jornalismo ou entretenimento".

Dentre as perguntas da apresentação "Globo Esporte, nosso jeito de fazer o programa e de nos comunicarmos com o público", alguém tratou do caso Barcos, que numa entrevista coletiva foi comparado ao cantor Zé Ramalho. A resposta do Escobar foi que a situação foi perigosa demais, foi no limite, mas que seria fácil falar isso agora. A situação mostrou o limite que se pode chegar, ainda mais quando se trata de um jogador que não tem a cultura dos atletas brasileiros. Em meio a várias pressões e perguntas sobre o assunto, com destaque a Loco Abreu, o apresentador do Globo Esporte chegou a dizer que os jogadores sul-americanos "esquecem que a maior parte do salário deles sai dos direitos de imagem".

Sobre o modo Thiago Leifert de apresentar, pelo menos no que pude interpretar até ali, parece que o pessoal do Rio de Janeiro não concorda muito com o que ele fez, apontando sempre que ele é um rapaz inteligente, mas que comete exageros. Afonso lembrou que o jeitão de apresentar/fazer matérias deste jeito é bem antigo, casos do alagoano Marcio Canuto, de Régis Rösing e de Tadeu Schmidt. Além disso, os méritos do trabalho de São Paulo têm que ser repassados ao resto da equipe que trabalha com o Thiago.

EXTREMO
Para encerrar o seminário em si, Clayton Conservani tratou de "Planeta Extremo - a popularização da excelência". O repórter especial da Globo falou sobre o seu trajeto até chegar a esta posição na emissora. De matérias radicais, com ele fazendo tudo e praticamente sozinho, ele agora pode contar com uma grande e muito qualificada equipe para produzir um conteúdo claramente destacável, com muita qualidade de produção e pós-produção.

Para os quatro Planetas Extremos do ano no Fantástico, com reprise no Esporte Espetacular no final do ano, são seis meses de planejamento, cinco meses de gravação, três meses de edição e um mês de execução. O quadro mostraria o conflito da televisão atual entre a excelência e a banalização da notícia.

PROJAC/CGP
O dia seguinte foi de visita à Central Globo de Produção (CGP), conhecida como Projac. Percorremos várias áreas, desde a pré-produção, setores de efeitos visuais e efeitos especiais, até algumas cidades cenográficas, em que só pudemos entrar na de A Grande Família e na da novela que "tod@s" falam e eu nunca vejo, a Avenida Brasil.

Pouco falo sobre isso, mas é claro o cuidado profissional e com muita qualidade que a Rede Globo tem para produzir audiovisual. Além disso, tenho que destacar a boa vontade do pessoal que trabalha no dia a dia, mas que nunca aparece, em atender visitantes todos os dias e sempre com um sorriso no rosto. Alguns deles, como o pessoal dos efeitos especiais e visuais, verdadeiros artistas. É como produzir vários filmes por dia e com qualidade tecno-estética facilmente identificável e dificilmente realizada - a Record e o SBT que o digam.

De forma geral, o Seminário Temático Globo-Intercom foi bem interessante, especialmente pela possibilidade de "descobrir" coisas e o contato com outros pesquisadores dos mais diversos locais do país e com as mais diferentes formações teóricas, com direito a preocupação em reencontrar alguns deles no Intercom, em setembro.

2 comentários:

  1. Muito legal saber dos pontos de vista sobre certos atos da emissora platinada e dos jornalistas dela fora do habitual, dentro da programação.

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  2. Às vezes aparecem as vantagens de estudar futebol e de trabalhar tanto...

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