domingo, 27 de novembro de 2016

Um dia em 22 anos


Em algumas das últimas entrevistas coletivas das sextas-feiras, Cuca comentava que a ansiedade era normal, pois se tratava de uma espera de 22 anos. Eu sei bem quanto isso pesa. Minha primeira lembrança enquanto torcedor do Palmeiras é justamente do título brasileiro de 1994, com 6 anos de idade. Vivi cada detalhe destes 22 anos e posso listar bons e péssimos momentos.

De zoar a minha irmã após o título em 1994, enquanto ela estava no banheiro e ameaçava que ia falar com o meu pai; à raiva por perder o Paulista do ano seguinte para eles na prorrogação numa final no interior; a derrota muito cedo para o Grêmio em 1996, que gerou uma torcida pela Portuguesa na final, já que os tricolores gaúchos eram nossos grandes rivais naquela época; a irritação por ter uma festa de fim de ano na escola no mesmo dia do jogo de volta, e a maior ainda por perder o título brasileiro com dois empates; sair escorregando de joelho no corredor na casa de uma senhora amiga da família com o gol de Oséas nos últimos minutos daquela Copa do Brasil de 1998; e apagar tudo da final da Libertadores do ano seguinte, em que só ficou na memória a agonia por gravar depois da aula o Globo Esporte do dia seguinte (e não conseguir), mas descobrir na raiva contra Edilson e o mundo rival na final do Paulista que estava com catapora; não poder ir para a final da Copa dos Campeões do lado de casa, em 2000, por não ter com quem ir, mas comemorar mesmo assim; gritar com visita em casa com o gol contra o Boca, na Bombonera em 2001; e gritar, mesmo não podendo, com gol contra o Flamengo naquele sufoco de rodadas finais, que culminou com um rebaixamento, mesmo eu rezando para tudo o que era possível naquele jogo contra o Vitória de 2002; comprar a camisa da Série B horas antes do jogo contra o Sport, morrendo de medo de dar azar, e ver depois que o gol do título vestia o mesmo número da única camisa 1, verde, que tinha na loja e eu comprei; e antes disso ouvir o 7 a 2 do Vitória, mas também o 3 a 1 nosso no Barradão; ver a volta de 2004 e junto com ela as decepções de eliminações seguidas para o São Paulo na Libertadores nos anos seguintes; aprender a ser fã de Edmundo na sua volta, em 2006 e 2007; e guardar na memória o 5 de maio de 2008 que quebrava dois jejuns estaduais ao mesmo tempo, indo com a camisa ao estágio e à aula; sofrer com os amigos numa casa de outra amiga com o gol anulado pelo Simon naquele jogo contra o Fluminense, em 2009, sem entender a queda de rendimento num Brasileiro tão próximo; seguir sofrendo, mas com eliminações bizarras, como aquela contra o Goiás nas semifinais da Sul-Americana de 2010; ver o Palmeiras pela primeira vez, com o Marcos ainda em campo, num 0 a 0 contra o Grêmio no Canindé em que amaldiçoei o Leandro; comemorar o título da Copa do Brasil num mês que foi dos mais difíceis da minha vida, ficando resfriado de tanto querer comemorar em casa e mostrar a camisa do Palmeiras para o nada no Rio Grande do Sul; estar atrás do gol do Barcos anulado pelo Chicão por interferência externa no Beira-Rio e ficar com febre e gripado minutos logo depois da confirmação do rebaixamento daquele 2012 extremamente complicado; voltar a Maceió e ver pela TV aquele acesso sem gosto algum de 2013; quase morrer e, por isso, não querer ver o pênalti cobrado pelo Henrique, mas comemorar e chorar como se fosse o de um título o gol do Thiago no Barradão; gritar como nunca antes na vida, acordando vizinhos, num ano em que monstros internos saíram e minha mente suportou tanto que não tinha como ser diferente naquela final da Copa do Brasil: olhar para o que quer que fosse dizer que depois de tudo, tinha que ser nossa!


Já tratei disso em inúmeros textos e já comentei isso com diferentes pessoas, de diferentes lugares. Costumo dizer que se não fosse o Palmeiras, e o futebol, provavelmente eu só seria lembrado pelas pessoas por conta do trabalho. Esse time faz com que pessoas de diferentes Estados lembrem de mim quando o time vai mal ou quando o time vai bem. Minha relação é tudo menos racional. É de ficar nervoso até o título de 99 a ponto de ficar gelado; de tremer as pernas e todo o corpo na agonia do jogo; de chorar muito por conta do Palmeiras. Digo que a relação é para além do amor, pois nunca vivi isso com ninguém e é algo inexplicável, especialmente se comparar com o que sou normalmente. Além de tudo, tivemos nossas fases boas e ruins em períodos bem parecidos e isso é impressionante.

Serão 29 rodadas na liderança, mas ganhar este Brasileiro é muito especial porque nessa escala de semelhanças de fases, creio finalmente estar me observando melhor em problemas que carregava comigo sempre e conseguir evoluir de forma muito boa na vida profissional. Ainda que os últimos dois anos me façam pensar que ter problemas em relações pessoais, se é para o Palmeiras terminar o ano campeão - Libertadores termina tarde ano que vem, e tem Mundial ainda - até que vale a pena (rs).

Estou só esperando quem tanto provocou com "cheirinho", quem me dizia que o Atlético-MG é que seria o campeão; a imprensa que tanto disse que os outros é que jogavam bem, depreciaram o "Cucabol" até semanas atrás, que disseram que éramos passageiros, especialmente com a lesão do Prass e as idas de Jesus à Seleção - para fazer milagres também por lá. Dizia há meses que o Palmeiras só dependia dele e cumprimos nosso objetivo, com a melhor defesa e o segundo melhor ataque do campeonato, sem cartões vermelhos e com estádio cheio, apesar da estúpida decisão de MP e PM de barrar a festa nos arredores do Parque.




Esta também é uma vitória especial porque vi três jogos, vivi e construí enquanto torcedor 3 vitórias, duas delas em clássicos e com os gols saindo exatamente na trave em que eu estava atrás. Voltei rouco depois daquele 1 a 0 contra o Corinthians e fui para um congresso rouco no dia seguinte do 2 a 1 contra o São Paulo, do "time da virada" que tanto gritei; fora os 3 a 1 contra o Santa Cruz, com direito a amigo corintiano por perto.

Tive que controlar as lágrimas já ao final do jogo contra o Inter. No da semana passada, contra o Botafogo, foi muito difícil segurar. Hoje elas vieram com poucos minutos, mais ainda após o nosso gol e com toda a força ao levantar da cadeira e acompanhar em pé os últimos dez minutos de jogo contra a Chapecoense. A sensação agora é de um alívio impressionante, parece que é um imenso ciclo de vida que vejo pelos meus olhos, os mesmos que acompanharam aquele título brasileiro de 1994 e 22 anos depois, com muita estrada percorrida, veem um novo.

Sociedade Esportiva Palmeiras, "Verdão querido, de coração, é o campeão dos campeões!"


Um comentário:

  1. Belo texto. Expõe bem o sentimento de nós palmeirenses de maneira geral. Apesar de não ter tantas experiências como as suas, me identifiquei com boa parte delas. Agora somos ENEACAMPEÕES!!!!!!!!!!!!!!

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