domingo, 15 de março de 2009

Favelado milionário


O grande vencedor dos maiores prêmios do cinema mundial foi um filme indiano! Quer dizer, não genuinamente indiano. Slumdog Millionaire venceu desde o glamouroso Oscar a outros prêmios mais técnicos, como o Bafta (britânico) e de associações de profissionais ligados ao cinema. A grande questão que faço e que o mundo cinematográfico fez e tentou responder: quais os motivos de tamanho sucesso para uma produção de pequeno porte?

Mesmo tendo “conseguido” o filme antes mesmo da apresentação do Oscar, só assisti-lo algumas semanas depois, inclusive um dia depois da sua chegada aos cinemas brasileiros – que por milagre Alagoas ficou incluída.

Como não sou um exímio admirador do cinema, tento me apoiar em algumas fontes de jornais impressos e de blogs ou sites para ver a opinião de algumas pessoas entendidas no assunto. E aí que o filme não foi tão idolatrado assim. Não era um marco do cinema – como já não temos há algumas décadas.

A grande diferença é que era um filme que segue o modelo bollywoodiano de ser, com atores indianos, equipe quase que inteira da Índia também. Com um polêmico tempero Cidade de Deus (Fernando Meirelles) e, principalmente, a falta de apoio de grandes estúdios mundiais.

Mas há um ponto que representa quase que um consenso entre os analistas de plantão e este ponto está condicionado às mudanças pós-Bush e a um período de crise do neoliberalismo que o mundo pede.

A potência mundial se viu odiada pelos quatro cantos do mundo por suas atitudes autoritárias e imperialistas. Os grandes conglomerados mundiais acumulavam cada vez mais capital e o próprio sistema traz como uma de suas grandes contradições o fato de necessitar a circulação do capital, para mais um ciclo de alimento da sua acumulação. Eis a crise que afetou especialmente os países de Primeiro Mundo.

Em resposta a isso, os Estados Unidos elegeram a mudança através do democrata Barack Obama – claro que dentro do ligeiro limite deles. O mundo voltou a apoiar um mandatário estadunidense como se ele representasse o planeta. Sua principal função era olhar para todos os lados, fossem ricos ou fossem pobres.

Assim como no título original do filme, os favelados (ou vira-latas) se tornaram milionários num curto período de tempo. Ao menos as atenções passaram a ser para eles também. E é nesse processo que entra a permissividade da Academia para o filme dirigido pelo britânico Danny Boyle.

Entretanto, qualquer mudança no sistema capitalista – enquanto não for algo radicalmente transformador – terá seus limites. Não seria diferente numa de suas indústrias de alimentação, caso da atual produção cultural.

O grande fato que não tirei da cabeça desde que soube do primeiro prêmio de Quem quer ser um milionário? (nome do programa de perguntas e respostas do filme que virou tema por aqui) é que apesar de tão indiano, sua cabeça é britânica.

Quer dizer então que foi necessário que alguém de um país desenvolvido resolvesse produzir e dirigir um filme no local que mais produz longas no mundo para que o “mundo” percebesse que ali poderia sair algo que prestasse. O Oscar representou a pequena guinada ideológica da Academia e dos Estados Unidos: o tal do voltar o olhar para o mundo em sua volta, e isso é bem mais que se juntar ao Reino Unido para invadir Afeganistão e Iraque!

Quanto ao filme em si, ele apresenta um formato interessante ao interligar a vida do garoto ao jogo. Cada pergunta, ficcionalmente coincidente, explicava um momento específico na vida do protagonista, Jamal Malik. No final ele vira mais um representante do grupo que tem Lula no Brasil, Chávez na Venezuela e Obama nos E.U.A., o que quer nos fazer acreditar que todos podem. É assim que os outros slumdogs passam a vê-lo.

As aproximações com Cidade de Deus existem primeiro porque ambos mostram lugares no mundo em que as pessoas sobrevivem, apenas isso. Além da muito comentada comparação entre os irmãos indianos com os dos amigos do morro carioca, em que um vira bandido e o outro tenta não ficar igual.

Para finalizar, aconselho para quem assistir ao filme que fique até o final. Já que é durante os créditos que aparece algo tradicional por lá. A dança dos protagonistas lembra, e muito, os clipes dos anos 80; o que virou motivo de piada por aqui em vídeos na Internet de músicos indianos.

4 comentários:

  1. Legal, não sabia dessa forma como é contado o filme, relacionando o jogo com a vida do protagonista.
    Tenho que criar vergonha na cara e assisti-lo.

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  2. ai ai............
    eu escreveria sobre esse filme, mas, como vc sabe, preferi colocar minha conversa com o Barbosa.

    O filme é ótimo para a Tv: fácil, uma estória de amor, e um happy end (sorry aos q naum viram:(), além de ganhador de Oscar... a chamada já tá pronta.

    Naum q eu tenha odiado o filme ou algo parecido. eu até gostei, de verdade, nada q me fará lembrar dele para sempre.

    agora, duas coisas são problemáticas no filme. Uma está ligada diretamente com o pq do filme levar o Oscar. Q é isso mesmo q tu falou, é pq fala da Índia, tem, pelo menos, dois filmes ali melhores q ele (o leitor e milk). tudo bem, eu naum sou crítico de cinema, mas até o barbosa disse uma coisa interessante: "eu achei massa eles falando indiano, imagina os americanos lendo legenda!". Massa! mas, ai tem uma incoerência, parte do filme é falado em indiano e parte, pasmem!, é falado em inglês! alguém pode me explicar isso?

    outro ponto problemático é algo q é vendido sutilmente, mas desde q li um artigo (ou seja lá oq for) do ferrez (escritor da periferia de sampa, escrve pra caros e tem um blog. além de alguns livros publicados). a jogatina, a idéia do dinheiro fácil...

    eu falaria muito mais sobre o filme, mas deixarei para a nossa próxima conversa (traga a Piaui!)

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  3. Ânderson,
    aproveite a noite no COS!

    Quanto à mudança de layout de meu blog, cá está o link: http://btemplates.com/
    Acessa que há vários modelos compatíveis com o blogspot. Esta dica eu li aqui: www.malajornalistica.blogger.com.br, no post sobre a oficina que Isolda deu na SECOM deste ano.

    Quanto ao seu post, ainda não assisti ao filme, nem fiquei tão curioso assim. Na realidade, pelo que tenho lido e ouvido falar, não se trata de um filme ganuinamente indiano. Soa um pouco forçado tanto a produção do filme, quanto a premiação "Oscariana".

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  4. Assisti “Quem quer ser um milionário?” recentemente, foi decepcionante, não tinha lido seu comentário a respeito, pois queria assistir primeiro e tirar minhas próprias conclusões.
    No entanto, aprendi algo muito valioso, devemos sempre escolher o caminho da retidão, os maus sempre morrem no final e os bons vencem.
    :P

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