domingo, 7 de dezembro de 2014

[Por Trás do Gol] Palmeiras até morrer (literalmente)

Tinha acertado com o meu pai que íamos almoçar na casa da minha tia, mas tinha que voltar antes do jogo do Palmeiras "porque se é para morrer é melhor que seja em casa". Não precisava ser um profeta para saber o quanto seria difícil. O pior elenco da história desta Sociedade Esportiva não ia nos deixar tranquilos na última rodada que, por sinal, nem deveria ser problema.

Saí ontem com a camisa do Palmeiras para a aula do Espanhol e após a prova conversei com outros colegas, dois deles palmeirenses, sobre o difícil desafio de hoje. Difícil porque não dava para depender só deste time para fugir do rebaixamento.

Hoje, nova camisa, e na direção do ponto de ônibus um cara num carro solta um: "levanta a cabeça, palmeirense, que hoje é o dia". Não sei se era bom ou ruim, supomos que fosse torcedor de algum rival, tentando zombar antecipadamente. Já estava pensativo e preocupado 1h30 antes do jogo, fiquei ainda mais monossilábico.

Em casa, respondi um e-mail de auxílio a uma pesquisadora e, faltando 10 minutos para começar, fui à frente da TV. Era a hora de sofrer, gritar como se fora eu um dos trinta e tantos mil que estava no Parque. Não importavam promessas de renegar por conta do terceiro rebaixamento, minha relação com o Palmeiras não pode sequer ser designada com a palavra amor; é algo maior e independente de jogar com o Manchester United ou com o CRB no ano que vem. Por mais que eu tenha decidido esta semana que nos 5% da minha vida em que o emocional se sobrepõe ao racional eu passasse a ser menos extremo. Está no meu sangue, na minha mente, no meu coração e na memória de tantas pessoas que cruzaram comigo nestes 26 anos de vida.

Sabia que era importante fazermos logo um gol. Eu cantava o hino, incentivava, gritava, sozinho em frente à TV. Lúcio tenta jogar bonito, leva um grande xingamento e quase sai gol do Atlético-PR. Escanteio seguinte e gol. 10 minutos e o gol foi deles. Bahia vencendo em Curitiba e o rebaixamento na hipótese mais provável dadas as últimas rodadas. Gritei forte de raiva e as lágrimas vieram. O déja-vu ali presente.

Com lágrimas ainda no rosto, voltei a incentivar. Não podemos parar. Certa pressão e chute que desvia no braço. Racionalmente, é a nova interpretação desses lances e já fomos "prejudicados" com pênaltis assim neste Brasileiro. "Pênalti, juiiiiiiiiizzzz!". Ele marca. Eu vibro, quebrando a regra de vida boleira de nunca comemorar pênalti a favor, porque não é sinônimo de gol.

"Vou morrer!"

Tremo, seguro no primeiro móvel do lado. Tremo mais ainda. A vontade era de não olhar para a tela. A sensação era de que iria apagar a qualquer momento. Aí balbucio o "vou morrer" e minha mãe vem ao quarto e me diz que a bola vai entrar. A bola entrar e grita mais forte ainda. Mais de uma vez. Mais lágrimas. 19 minutos e muito jogo pela frente. Valdívia sendo ainda mais Mago.

Primeiro tempo rolando, mais xingamentos por mais erros de Lúcio, muitas palmas para Nathan -  muito melhor que o experiente pentacampeão mundial e muito mais novo -, tentar orientar o time de (muito) longe e mais xingamentos a cada erro e muito suspiro quando São Fernando Prass nos salva. Isso porque o time do Atlético era muito novo e supostamente o presidente deles queria que o Vitória caísse...

Final de primeiro tempo e hora de acalmar. Resultados nos garantindo no fio da navalha. Mas palmeirense é antes de tudo um pessimista. Medo de o empate aqui se arrastar até o final e sair o gol do Vitória nos últimos minutos. O Coritiba, ao menos, ia fazendo gols e mudando o jogo contra o Bahia, que virara mal menor com o segundo gol do time do GRANDE Alex.

Se no segundo tempo o time não passou tanto sufoco atrás, lá na frente pouco criava para além de Valdívia e de bolas tiradas na hora da finalização. Cristaldo e Mouche pouco faziam. Henrique seguia lutando sozinho, como fizera desde que chegou ao time. Cheguei a me jogar no chão duas vezes, após chances desperdiçadas por descuido - ou falta de qualidade mesmo.

20, 30, 35, 40 e nada mudava. Mais gritos, mais xingamentos e o coração acelerado - ainda que menos que no primeiro tempo. Voz quase nenhuma, inversamente proporcional à vontade de gritar, que não parava.

A mente contava os minutos em São Paulo e diferenciava os 2 a menos no Barradão. 4 minutos aqui e 5 lá, só para aumentar o sofrimento. Atlético enrolando aqui e nenhuma informação de lá. Fim de jogo em São Paulo e quase clamo para a emissora detentora dos direitos de transmissão do torneio mostrar o jogo do Vitória. Ela o faz.

Ataque do Santos e eu na torcida para o sufoco acabar antes dos 2 minutos que ainda faltavam. Vitória rouba a bola e arma o contra-ataque. Defesa santista aberta e o medo aumentando. Até que o jogador do time baiano erra e volta o Santos ao ataque. Eu peço para que eles segurem a bola para o jogo acabar - não critiquem, pois o Atlético encerou o jogo inteiro em SP.

Bola para o lateral dentro da área que, sozinho, toca para Thiago Ribeiro chutar. Gol! Saí correndo gritando aliviado. ACABOU! Chorei um monte depois de alívio. Tudo bem que a virada que eu dei na minha vida este ano foi espetacular, mas um novo rebaixamento do Palmeiras mancharia uma pequena parte disso.

Como disse há 3 rodadas, só não cairíamos se os outros fossem mal. Eles foram. Ufa!

Aproveito para dizer ao senhor Paulo Nobre que a sorte um dia acaba, passou da hora de entender que futebol não é especulação na bolsa de valores. Passou da hora de entender o quanto torcedores que nem eu AMAM esse clube, a ponto de ser o time que mais vende camisas (e mais as faz) no Brasil. Com Palmeiras sempre, com dirigentes e jogadores como vocês, nunca!

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