Já li alguns livros escritos por Graciliano Ramos, já vi filmes baseados em algumas de suas principais obras, já vi um monólogo baseado num dos seus contos e vi alguns episódios de uma série cujo ponto de partido é um dos seus trabalhos. E ainda falta muito a ler do autor nascido na cidade alagoana de Quebrangulo e o nosso maior expoente das letras. Nos últimos dias, já li dois outros livros, e o que destaco hoje é o de um ramo que não estamos acostumados: o infanto-juvenil A terra dos meninos pelados.
O que se esperar de um autor que fez parte da geração regionalista do modernismo brasileiro, a partir da década de 1930, que sempre destacou e refletiu, inclusive na sua linguagem, a dureza e rispidez da região do semi-árido nordestino, num local com ainda mais dificuldades como Alagoas, quando o mesmo resolve escrever literatura infanto-juvenil?
Com A terra dos meninos pelados, Graciliano ganhou em 1937 o prêmio de literatura infanto-juvenil do Ministéio da Comunicação.
Este livro representa uma viagem através da imaginação muito fértil de Raimundo Pelado, "um menino diferente dos outros meninos: tinha o olho direito preto, o esquerdo azul e a cabeça pelada".
Como os vizinhos mangavam dele, ficava a desenhar nas ruas e calçadas coisas do país de Tatipirun, onde todos são crianças que não têm cabelos e têm um olho azul e outro preto, fora as características geográficas inigualáveis.
Num dia, após escutar as zombarias tradicionais, ele foi atraído por algo. Atravessou a rua, foi para trás da casa e descobriu ainda mais: um monte que baixava e se aplanava para que pudesse andar sem esforço, uma laranjeira que saía do caminho e falava, um carro com um olho preto e outro azul, o Rio das Sete Cabeças que se junta para atravessá-lo num pulo só,...
Raimundo conhece crianças que não crescem, num lugar que o Sol nunca descansa e ninguém fica doente. Todas elas têm as cabeças peladas e um olho preto e o outro azul, assim como ele. Mas cada um apresentava outras características físicas que os diferenciava, como o anãozinho e o ruivo, que queria pintar pintinhas em todo mundo.
Além deles, o destaque é a "vossa princesência", a princesa Caralâmpia, que aparace e desaparece e nunca foi coroada princesa porque não há reinado, nem principado. Raimundo acha estranho ela ainda com bichos no corpo: um broche de vagalume no peito e pulseiras de cobras de coral nos braços. Tudo diferente do seu mundo, onde a maioria dos bichos, especialmente as cobras, é perigoso.
Ele escutou histórias, quer dizer, até onde podiam contar a história do menino que virara mosquito... Viu a importância das diferenças e do tratamento de pessoas que respeitam isso, mas ele tinha que voltar. Havia uma lição de geografia a fazer e, quem sabe, depois não voltaria com o seu gato medroso e ainda sem nome. Eles iriam gostar dele.
Em A terra dos meninos pelados, Graciliano exacerba em criatividade para mostrar de maneira exagerada que as diferenças precisam existir e ser respeitadas. "Mestre Graça" deixa sua contribuição em mais um setor literário. Pode ser até estranho, quando comparado a outras obras, mas criatividade não lhe falta para criar Raimundo e recriar um mundo de meninos carecas, com um olho azul e outro preto com várias características geográficas que mais facilitam do que atrapalham a vida. Um país com o curioso nome de Tatipirun.
Referência Bibliográfica:
RAMOS, Graciliano. A terra dos meninos pelados. 40. ed. São Paulo: Record, 2010.
sabe me dizer qual o movimento literário dessa obra??
ResponderExcluirSegunda geração do Modernismo, o regionalista
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