Nunca pensei em algo como o dia de hoje. Nestes mais de dezesseis meses aqui em São Leopoldo, mesmo nos últimos dois/três quando ele nos passou o que tinha, nunca passou na minha cabeça o dia de hoje. Acho até que só escrevo para poder desabafar tudo o que não pude no dia de hoje, porque tinha que ser forte, ou demonstrar isso pelo menos, para não abalar ainda mais colegas e amig@s num momento tão difícil, inacreditável e inimaginável.
A minha referência inicial para a Economia Política da Comunicação foi o professor César Ricardo Siqueira Bolaño, mas lembro ainda hoje que após o Colóquio Internacional realizado em Aracaju, ainda em 2007, ano em que me juntei aos amigos de várias gerações de Diretório Acadêmico da UFAL para estudar a EPC e apresentei o meu primeiro artigo, que fiquei mais impressionado com a palestra do professor Valério Cruz Brittos.
No ano seguinte um amigo, não ainda do nosso Núcleo de Estudos, mas do DAFN, veio à Unisinos se aventurar como bolsistas de iniciação científica e encontrou o Grupo de Pesquisa Comunicação, Economia Política e Sociedade (Cepos) como um espaço para discussões que nós tínhamos no Movimento Estudantil na esfera acadêmica. Ele voltou e com muito trabalho realizamos um Seminário Nacional de EPC em Maceió, com as presenças de Valério Brittos, de Bruno Lima Rocha, José Marques de Mello, César Bolaño, dentre outros.
Foi lá que este amigo me perguntou se eu não toparia tentar a seleção do Mestrado na Unisinos. Nunca pensei em estudar em universidade particular, não gostava de coisas indicadas, sempre optei ralar mais para conseguir por mérito próprio, mesmo que isso seja imensamente mais difícil. A minha resposta inicial foi não, mas prometi pensar e dar uma resposta depois. Um mês depois e resolvi encarar, propor uma pesquisa com futebol e televisão na perspectiva da EPC.
Entrei em contato com o Valério por e-mail e desde então ele sempre foi solícito. Encontrei com ele na Ulepicc passada, também em Aracaju, e ele passou tudo sobre o tanto de trabalho que teria no Cepos caso fosse selecionado. E essa conversa só saiu depois de uma ajuda que foi fundamental, de um grande amigo que tenho hoje aqui no Rio Grande do Sul, porque eu fui ao evento para apresentar um trabalho do nosso núcleo e não deixarei de fazê-lo. "Rateei", num momento inicial, mas consegui falar com ele depois. Seguimos trocando e-mails posteriores e nunca ele me fez promessas que eu ia passar.
Vim para cá num péssimo momento da vida, sem conseguir escrever nenhuma linha da monografia por mais que soubesse e tivesse lido muito sobre o assunto. Passei, mas só depois de muito tempo é que soube que a bolsa estava garantida.
Chegando aqui, tive reunião de orientação no primeiro dia útil, já gravei o primeiro Periscópio com ele e comecei a movimentar. Sabia onde estava entrando, sabia que a rotina de trabalho era grande, mas para alguém que passou a graduação inteira correndo atrás de oportunidades vê-las correndo atrás de si era um paraíso. Ouvir de um colega ou outro que olhar para mim era lembrar de trabalho não era preocupante.
Tive alguns problemas muito pontuais e passageiros com o líder do grupo de pesquisas - numa das duas vezes que isso ocorreu, porque ele pretendeu me preservar da burrocracia que ronda por aí -, mas sempre optei por manter uma boa relação, ainda que não de uma amizade mais profunda - e simplesmente porque eu sou travado para relações sociais, ainda mais quando o outro está situado numa posição acima da minha. Olha que ele sempre saía comigo para almoçar, para tomar um café e nos últimos meses antes do problema de saúde disse que dia desses deveria tomar um café na casa dele, onde eu até então não tinha ido.
Cresci muito já no ano passado, como comprovou a minha participação no Seminário do Cepos. Publiquei muito, viajei bastante, conheci e praticamente me tornei amigo dos pesquisadores da EPC que lia nos livros em Maceió. Tive artigo publicado num livro do IPEA sobre o Panorama das Comunicações no Brasil, ao lado dos principais nomes da comunicação do país e graças às oportunidades que ele me deu e que eu nunca deixava escapar, nem que tivesse que fechar a qualificação no mesmo período. Ele gostava disso, de eu sempre estar lá tentando resolver tudo, acho que me via parecido por ter um ritmo forte de trabalho também.
Como orientador, eu nunca cansei de falar que foi melhor do que qualquer modelo utópico que eu pudesse criar. Qualifiquei tranquilamente no final de novembro do ano passado, com apenas oito meses no PPGCC e numa situação normal defenderia em novembro deste ano - algo que ainda dependia de outros fatores. Tivemos reuniões de orientação praticamente mensais, com raros períodos em que isso não ocorreu, em julho e pós-qualificação.
Quem pôde ser orientando dele sabe o quão cuidadoso era o Valério com o texto. Não passava uma vírgula errada, uma nota de rodapé mal colocada. Nada! Desculpem-me os colegas docentes do PPG, mas podem falar qualquer outra besteira, mas hei de defendê-lo como melhor orientador ali das Ciências da Comunicação na Unisinos.
Nem precisaria eu traçar uma palavra sobre a importância dele para a Economia Política da Comunicação em nível mundial, sendo um dos expoentes aqui na América Latina, junto com o professor César Bolaño. Vi isso na Alaic, em Montevidéu e torço e farei o possível no que estiver ao meu alcance para ajudar ainda mais o nosso eixo teórico-metodológico. Ainda mais porque eu vim para cá já com certa bagagem na EPC, pela possibilidade de trabalhar num local que nem o Cepos, com algumas pessoas que tanto me orgulham hoje serem além de colegas grandes amigos para fazer "guerra ao mundo".
Vai ser muito difícil apresentar o nosso artigo no GT de Economia Política lá na Intercom, ainda mais no ano que eu ia me dividir com o GT de Comunicação e Esporte, por conta do meu objeto de estudo e para fortalecer a relação com outros pesquisadores para além do fato de sermos "muito sérios" na EPC, como escutei de um pesquisador referência para mim na semana passada nos estudos sobre o futebol. Depois vem a Ulepicc e eu não consigo pensar eventos assim sem a presença dele.
Eu fiz isso na qualificação e volto a fazer agora - por mais que eu sempre tenha me imaginado fazendo isso após a minha defesa. Agradeço imensamente a oportunidade que ele me deu. Por mais referências que eu tivesse dentro do Cepos, ele confiou em alguém vindo de Alagoas, de uma universidade com sérios problemas com a formação do comunicador e naquela época com bem menos pesquisadores que hoje. Confiou em alguém vindo do Movimento Estudantil, que ainda pensa em transfomação social radical e que questionava conceitos como Fase da Multiplicidade da Oferta e PluriTV, que são do grupo, tensionando-os na dissertação sem qualquer problema. Mais que isso, permitindo que esta opinião pudesse ser dita num evento em outra universidade e com ele do lado, com direito a um "foi muito bom" ao final do mesmo.
Não sei mais o que falar, se falei com bom concatenamento de ideias ou não. De fato, não devo ter falado nem 10% do que Valério Cruz Brittos representa para mim e, principalmente, para os estudos da Comunicação. Resta a nós seguirmos o legado tendo o seu trabalho como inspiração. Não sei nada do meu futuro e é a coisa que eu menos estou preocupado agora.
As lágrimas que eu me permiti só agora, após receber uma colega francesa que chegou no final da tarde de hoje para trabalhar conosco no Cepos, é na mesma quantidade que eu teria caso fosse para um ente muito querido. Tenhamos forças!
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