Último dia de trabalho em 2014, hora de utilizar este cano de escape que eu chamo de Dialética Terrestre para refletir sobre as questões do labor deste ano. Período em que vivi os opostos. Sair do "fundo de um poço sem fundo" para o extremo disso, alcançando um sonho que eu só imaginava realizar em médio prazo. Chegou a hora de expurgar os males, deixá-los por aqui e pensar em construir as melhores coisas possíveis, ainda que com as dificuldades "tradicionais" que aparecerão.
Contei a algumas pessoas o que estive fazendo antes dos concursos públicos que fui aprovado na UFAL (um para substituto e outro para efetivo), realizados em duas semanas, do final de março ao início de abril. Outras pessoas ficaram na curiosidade. Uma chegou a me perguntar. Mas era difícil contar. Se sempre coloquei na minha cabeça que não era motivo de vergonha, também não era algo para me orgulhar, longe disso.
Comecei 2014 com os resultados de decisões tomadas em novembro do ano anterior. Naquele momento, tinha deixado tudo o que havia de pendência acadêmica acertada - incluindo a revisão e o fechamento de um ebook - porque eu não sabia o que faria. Em meio à total falta de opções, agravada com um resultado de seleção de doutorado que me frustrou enormemente, a melhor delas era, literalmente, largar tudo, algo que já tinha deixado os meus pais de sobreaviso - na época, o Baleia morava comigo. O pragmatismo me manteve vivo. Tinha cursos a terminar em dezembro e uma conta a pagar que não deixaria para eles.
A morte veio de uma maneira diferente: largar tudo o que eu gostava de fazer. Isso passou por esquecer que era jornalista e que era mestre, até mesmo porque naquele momento não teve serventia alguma. Avisei a quem mantinha algum contato de trabalho (voluntário) ligado à pesquisa. Achava que não voltaria, ainda que eu não tenha deixado o tamanho das dificuldades de maneira clara.
Em dezembro até apareceu uma seleção para faculdade particular, cujo resultado não houve e que deixou só boatos percorrerem a minha cabeça - o mais forte deles é que eu e a amiga que fizemos a seleção seríamos muito novos para dar aula.
Comecei janeiro da mesma forma que terminei a última semana de novembro. Acordava 4h15, porque tinha que chegar ao trabalho antes das 6h, saía uma hora para almoçar na casa da minha tia - cheguei até a ficar com alguma cor no rosto por conta do sol do caminho - e batia o ponto ao final às 14h. Dias de maior movimentação, podia até ficar sem almoçar, pegando direto.
Para explicar melhor, uma situação. Eu lá embalando compras alheias e comento com a cliente que tinha morado por 2 anos no Rio Grande do Sul...
- Mas o que você foi fazer lá, tão distante?
- Fiz o meu mestrado lá?
- Você é mestre?
- Sim, sou jornalista e mestre em Comunicação?
- O que você está fazendo trabalhando aqui. Eu sou especialista, você tem uma formação melhor que a minha...
Era isso. Um jornalista e mestre em comunicação trabalhando na "frente de loja" de um supermercado, com a função de caixa assinada na carteira, mas que na verdade era "suplente de caixa", já que o cargo é preconceituosamente quase que exclusivo para mulheres; tendo que fazer tudo. Embalar, recolocar os produtos na loja, carregar caixas e compras...
Era o único lugar que nunca tinha pensado em trabalhar. O motivo é simples: a precarização da profissão ao extremo. Ou, como costumava e costumo dizer, a relação é de semi-escravidão. Ao menos terei o que dizer caso alguém no futuro afirmar para mim que "ser revolucionário de classe média é fácil". A experiência me marcou muito e foi muito diferente de tudo o que fiz antes.
Vivi a luta de classes como membro da classe oprimida, dos trabalhadores em maior número no mercado hoje, os de setor de serviços, que, no nosso caso, não tinham hora certa para almoçar, não tinham dia certo para folgar e que trabalham domingo sim, domingo não, sem qualquer certeza de ficar no emprego porque haviam relações pessoais que poderiam te garantir mais que o seu trabalho. Tudo bem, eu estava "seguro" porque o meu tio era o gerente. Por isso até que arranjei algum trabalho que me pagasse ao menos um salário mínimo, pois não tinha experiência nenhuma com aquilo. Trabalhar no comércio não rolava porque eu não sei vender nada - prova maior disso é que por mais que eu tenha produzido/estudado/respeitado xs demais não tinha conseguido nada no que eu era formado.
Assédio moral; assédio sexual; ver instigados o confronto entre pessoas de mesmo nível hierárquico; o cara que ganha um pouco mais e oprime mais até do que o dono (na estratégia do capital de criar cisões de classe); desvio de função; pessoas de mesma classe que tratavam mal os seus semelhantes por entenderem estar numa situação de empoderamento (supostamente eles pagavam os nossos salários), ... Ouvir coisas como "vocês têm que vir maquiadas, religião é outra coisa", mas tudo é mercadoria; ou "você é casada? Não importa. Não quer ir ao cinema?"; ou "você trabalha para o supermercado, não tem isso de desvio de função". E tantos e tantos outros exemplos que me deixaram em agonia monstruosa desde os primeiros dias. Mas, conta zerada, eu dependia daquilo para sobreviver, literalmente.
O auge foi no domingo em que teve Sport X CSA, quarta de final do Nordestão, e Palmeiras X Corinthians pelo Paulista. Os dois principais confrontos da minha vida. E eu lá trabalhando. Até a televisão que mostrava o jogo local teve que ser desligada porque o dono poderia achar ruim. Livros? Um lido aos trancos e barrancos em cinco meses. Enquanto eu estava acostumado a, pelo menos, dois por mês.
Ah, por indicação, consegui uma "chance" na principal TV do Estado. Trabalhar de graça até aparecer uma vaguinha. Era a fresta numa janela com grades que apareceu. Saía direto do supermercado para lá. Morto de cansado, sem qualquer contato, sem qualquer disposição de fazer o que muitxs fazem para garantir seu lugarzinho como jornalista; vendo o quanto o ambiente televisivo é extremamente (e babacamente) competitivo. Troquei o horário no final de janeiro, dava para eu cochilar em casa, mas retornava pelas 22h30 para sair com o Baleia, comer algo rápido e despencar na cama.
Aprendi muito sobre as rotinas de produção da TV. Adorei aprender a editar, especialmente porque minimamente me vi trabalhando com o futebol - o que sempre me motivou a ser jornalista, desde os 8 anos. A matéria do dia seguinte, que nem sempre tinha como ver, tinha sido eu a editar. Aprendi bastante com um profissional que era exceção à regra dos profissionais da área. Mas sabia desde o início que não tinha chances. Ali fui um suplente de estagiário.
Em março me lembraram dos concursos da UFAL. Tinha olhado antes, mas não tinha vaga em Comunicação. Apareceram, uma para substituto em Telejornalismo em Maceió e uma para efetivo para o tronco inicial em Penedo. Vi os editais quando faltavam três e quatro dias para o limite. Quinze dias para as provas. Fiz e decidi mudar tudo.
Se era para viver daquele jeito era melhor não viver. Encararia as cobranças que viriam caso fosse morar com os meus pais - cobranças que vieram indiretamente em outubro do ano anterior e se agregaram ao ser orgulhoso que não queria depender mais deles após cinco anos sem isso, os dois anteriores totalmente sem ajuda financeira -; os comentários de uma família extremamente conservadora de que "ele estudou tanto...", sem querer entender o porquê disso, em que talvez fosse mais importante eu ter dado umx netx à minha mãe...
Falei com o tio que sairia, não tinha mais paciência nem mesmo para os dois meses que faltavam para ter direito ao seguro-desemprego (ideia inicial). Ele ligou preocupado para a minha tia para saber o que eu iria fazer da vida. Quando souberam, xs colegas de trabalho achavam que eu era maluco. Por mais que eu conversasse com uns ou outrx mostrando a importância de lutarmos pelos nossos direitos, o medo prevalecia entre elxs, o "eu bem que queria fazer isso, mas dependo". Na TV foi muito mais fácil, não pude fazer nada para me destacar minimamente. Foi o único espaço em que trabalhei que tenho a noção que não fui eu, o cara que geralmente se dedica 120%, 200% às coisas.
CONCURSOS
Estudei muito pouco para os concursos. No de substituto, nenhum dos cinco pontos para a prova era para telejornalismo, por mais que a vaga fosse. Na prova teórica, as TICs nas assessorias de comunicação. Sem paciência para fazer provas, desacostumado, com um tema longe de mim, entreguei rápido. Já seria muito se passasse dali. Passei com sete, em terceiro, empatado com o quarto, e bem distante do primeiro.
Mas a didática foi sobre a convergência midiática, um dos temas principais do CEPOS (o do projeto com a Fundação Ford), e poderia acrescer os meus estudos (de curioso) sobre mídias sociais. Quando soube, decidi que ia me divertir dando aula. Foi o que fiz no dia seguinte. Veio o resultado e eu consegui na didática ganhar uma posição. Estava plenamente satisfeito. No dia seguinte, numa aula, ganhei elogios e surgiram possibilidades de reaproveitamento do concurso.
Só que os problemas apareceram do nada. Saí mais cedo do supermercado na terça porque a prova era à tarde. Na quarta tinha avisado que iria faltar por conta de uma disciplina que cursava no doutorado em Linguística. O cara acima chiou e quando cheguei na quinta de manhã soube que "não precisava" ir mais trabalhar, mesmo tendo sido eu a definir o sábado como limite, até para facilitar a contratação de outra pessoa. Fiquei MUITO irritado. Ali não havia uma mínima coisa a falar do meu trabalho naqueles 4 meses e 1 semana. Olha que eu poderia fazer corpo mole, mas eu não sei fazer corpo mole.
Irritado, não consegui estudar mais nada dos 10 pontos para a prova de efetivo que misturaria Lógica, Informática e Comunicação. Pensei até em desistir, mas a experiência ao menos valeria para o futuro. Prova escrita e o ponto foi sobre a "sociedade da informação". De novo, hora de escrever com diversão, com prazer. Veio a surpresa com a nota alta e mais segurança para seguir adiante.
A didática foi separada em dois grupos. Para variar, o pior dos temas veio para o meu: Lógica. Tinha sido o que mais estudei dentre uma preparação bem precária, mas faltava uma parte do ponto. Dar 50/60 minutos de Lógica Formal numa aula inicial é dificílimo para quem tem formação em Comunicação e o diálogo com os estudos da linguagem. Se tinha passado em 2º com boa distância para xs demais, a didática tirou toda a diferença.
Veio o tal do PAA e já estava satisfeito em ter passado por todas as fases presenciais. Nova aprovação, mudança de posição (para terceiro), mas a certeza que tinha passado pelo concurso por inteiro, afinal a Prova de Títulos não é eliminatória. Com ela, voltei a segundo e sabíamos, ou soubemos lá, que o segundo tinha imensa chance de ser aproveitado em Santana do Ipanema. Fui aprovado em ambos os concursos muito mais pela minha mania de saber/ler sobre tudo do que pela minha formação de graduação e Mestrado. A minha necessidade de aprender/conhecer mesmo que não fosse utilizar aquilo em determinado momento foi o que me garantiu sobrepor à falta de estudar minimamente para os concursos.
Tive a sorte de encontrar 3 pessoas que se tornaram quase que amigxs ao longo do processo e depois dele. Voltei com dois deles a Maceió e um me perguntou como me sentia por ter sido aprovado e ter quase a certeza que seria professor efetivo da UFAL. Não tinha caído a ficha. Era incrível! Quando cheguei em casa, desabei! Era a certeza de que tinha tomado a decisão certa de jogar tudo para o alto. Não era aquilo dos cinco meses anteriores que gostava de fazer. Não deveria ser.
POSSE
A espera pela nomeação demorou. Mais alguns meses de o mínimo (do mínimo) de gastos possível em casa. Nada de avisar a qualquer outra pessoa para não gerar expectativas. Até mesmo porque sei muito bem que comigo sempre pode dar algo errado. Tinha de esperar a primeira tomar posse. Ela demorou uma semana a mais. Tive exame que demorava três dias para ser entregue e só me foi duas semanas depois.
Pela primeira vez na minha vida pós-Aracaju não tive como respirar fundo e aguentar a emoção. Voltar à UFAL já seria emocionante de qualquer jeito, mas depois daquilo tudo, especialmente após a morte do Valério, meu orientador, tinha um significado muito maior. A partir dali, com exceção da minha dissertação, minha vida desabou. Era ressurgir das cinzas já jogadas num lixão qualquer. Era ver que a melhor decisão nem foi sair do subemprego, mas saber que o meu pragmatismo muitas vezes exacerbado salvou a minha vida e me permitiu chegar a este momento.
Não era na comunicação, mas era para Contábeis e Economia. Esta última que eu via necessidade de me reaproximar, ou aproximar para valer, depois do Mestrado. Tive sorte ainda maior de chegar numa unidade que por mais que tenha problemas, especialmente por conta da estrutura, quase todo mundo se dá muito bem, independentemente de diferentes posicionamentos político-acadêmicos em dados instantes. Tive sorte gigantesca de encontrar dois professores na Economia marxistas e que, pasmem, são palmeirenses!!! A roda realmente tinha girado.
Era e ainda é muito estranho ser chamado de "senhor" na sala de aula. É ainda muito estranho ser chamado de professor, por mais que eu tenha me formado pensando que um dia seria isso. Mais ainda voltar aos espaços de debate e disputa epistemológica depois de dois anos - e quanta falta isso me fazia! - e ver todo mundo feliz e fazendo questão de me chamar de "professor". A ficha vem caindo aos poucos, mas acho que com esse texto, expurgando o passado recente, mas fundamental para a minha construção, esse processo se complete.
A VOLTA E AS INESTIMÁVEIS PARCERIAS
Comentei sobre o grupo que foi aprovado no concurso e um deles eu volto em particular. O professor Victor, chamado para Delmiro, tem características de trabalho bem parecidas com a minha, apesar de a formação ser mais para os Estudos Culturais que para a EPC - linhas que partem de uma origem comum, mas que seguem destinos diferentes e que de certa forma disputam espaço parecido no campo -, e isso vem nos fazendo desde lá a ter várias ideias de trabalho em conjunto, cada qual respeitando os interesses de pesquisa do outro. Isso é bastante difícil na Academia. Falo isso porque já é muito difícil quando as pessoas compartilham de mesmos objetos ou perspectivas teórico-metodológicas.
Dentre as ideias, uma já foi aprovada. O projeto "A reinvenção do Sertão: Economia Política, identidade e tecnologia da comunicação no desenvolvimento da cultura jovem em Delmiro Gouveia" foi aprovado e ano que vem é por em prática algumas das coisas que pensamos aqui para o Campus Sertão. Se não somos levados à Comunicação em Maceió (para nada, registre-se), traremos a Comunicação, da melhor maneira que a gente entende, para cá.
O projeto conta com seis bolsistas e um colaborador e o meu interesse maior é em aprimorar o conceito do alternativo através do padrão tecno-estético, dando sequência aos trabalhos do CEPOS da época que era liderado pelo Valério. Além disso, temos parcerias com um professor da UFPE, Jeder Janotti, e com uma professora da UFS/OBSCOM, Verlane Santos. A ideia é montar uma rede entre os três Estados, ao menos com o intercâmbio entre as pesquisas de cada um sobre música, em especial, mas também sobre cinema.
Modéstia à parte, participar de um projeto com Economia Política no título é muito massa. Poder fazer com que a EPC torne-se razoavelmente conhecida para valer por aqui é um dos meus objetivos e que espero conseguir até 2020; que Alagoas seja um dos Estados com abertura para a temática e uma referência neles - por mais que o CEPCOM tenha dado um passo importante, e maior que as suas pernas, até 2010.
Quanto a pesquisas, este ano eu só não parei por conta de duas pessoas. Sou fascinado por futebol e a melhor coisa que já fiz na vida foi querer estudá-lo e isso gerou o que acho que é a melhor produção que já realizei, a minha dissertação. Porém, não tive tempo nem para revisá-la, ideia lá de novembro do ano passado. Só produzi graças a um baiano, formado em jornalismo na UFS, e que fiz uma co-orientação não oficial de TCC do final de 2013 para 2014.
Irlan Simões me fez entrar na seara dos estudos mais ligados à identidade, já que eu analiso a apropriação dos esportes enquanto produtos midiáticos e as relações de poder e econômicas nisto. Produzimos dois artigos, apresentamos dois trabalhos, mas ainda aguardamos espaços para a publicação. Um é sobre as possibilidades de estudos da EPC sobre futebol, outro é um histórico de tratamento dos torcedores no Brasil, com o processo de elitização marcando início e as mudanças atuais.
Os encontros até que foram poucos neste ano, mas a parceria é frutífera, especialmente pelo interesse mútuo em construir os estudos sobre futebol numa perspectiva crítica comunicacional, a qual acreditamos e defendemos que seja a EPC. Não estou mais sozinho nesta batalha e isso é muito bom.
Por fim, mas numa ordem de importância pessoal inversa, retomar os estudos sobre a EPC. Ano passado, fui convidado pelo então presidente da União Latina de Economia Política da Informação, da Comunicação e da Cultura no Brasil para coordenar um mapeamento dos estudos da EPC no país, tendo em vista que em 2014 comemoramos 10 anos da entidade. Não pude fazê-lo. Assim que acabou o concurso, voltei a entrar em contato e ele me disse que uma orientanda do professor Bolaño estava fazendo algo parecido na UFS.
Mandei e-mail para ela para saber se poderia ocorrer uma parceria, mas imaginando que o conflito de interesses não fosse permitir, afinal esta era a base do tema de pesquisa dela. Mas não. Foi o contrário. Ela topou e apesar de algumas dúvidas na primeira reunião, conseguimos encaixar uma programação de trabalhos interessante.
De abril para cá foram três artigos, três apresentações e a certeza de uma vontade em comum: ir para a frente de batalha em prol do crescimento da EPC. Estivemos juntos apenas em três espaços, mas imagino que xs demais companheirxs deste eixo tenham percebido o tamanho da nossa disposição para isso ocorrer. Dentre as coisas incríveis da parceria estão as broncas que demos simplesmente ao maior nome da EPC da América Latina, um dos principais do mundo. Eu voltei para casa depois de ir a Sergipe em novembro pensando: "pôxa, demos bronca no Bolaño...".
No Rio de Janeiro, no final do mês, por mais que eu estivesse muito mal naquela semana, ela foi brilhante e demarcou espaço importante para a nossa proposta. Aliás, ela é brilhante! O que passei a ver desde o início da parceria em abril, de carregar um grupo nas costas, com direito a seminários e conseguir recursos através de editais mexendo neles sozinha, só me faz pensar que se eu fosse professor de um PPG e fosse da EPC me aproveitaria que em Sergipe não tem doutorado e trazia. Dentre as nossas características em comum, está a de se tiver de carregar vários pianos sozinhx, nós o fazemos.
Ter alguém com a mesma força para entrar numa guerra do tamanho que é o da luta epistemológica do campo, mesmo com todas as dificuldades que temos por estarmos iniciando uma carreira acadêmica e por uma conjuntura que pouco nos favorece, é, com toda a certeza, a melhor coisa deste 2014. Não sei se ela já percebeu, mas é incrível quando os dois se juntam para conversar sobre isso com qualquer outra pessoa. Acredito que não fazemos a crítica pela crítica e isso dificulta qualquer imputação sobre uma maior maturidade acadêmica.
Penso ainda o que ocorreria caso trabalhássemos juntos num mesmo espaço, fosse no velho CEPOS que dava muitas condições de trabalho para pessoas que nem nós - com um claro apoio para isso -, ou mesmo no OBSCOM, na UFS, cuja possibilidade de construção desta luta é central por conta da presença de Bolaño em Economia e na Comunicação.
POR FIM, ENFIM...
Aí, nos últimos dias de 2014 me vejo como professor efetivo da universidade que eu prometi a mim mesmo que um dia retornaria para mostrar que é possível construir; vejo-me retomando um processo de construção intelectual que parou por 1 ano e meio; vejo-me com segurança para poder fazer tudo que a minha cabeça de maluco produtivo resolve pegar para fazer; vi-me numa banca de seleção para professor de universidade federal esta semana!
São muitos os desafios para 2015. Exigirão muito de mim e espero que eu consiga dar conta deles da melhor maneira possível, para que eu chegue neste meu cano de escape contando o tanto que consegui evoluir.
Teria muitos agradecimentos a fazer. À tia que me ouviu reclamar muito de tudo no início do ano. À enorme paciência dos meus pais em ter um filho tão desapegado que nem eu. Aos amigos, casos de Homero e Victor, os poucos que me viram no pior momento da minha vida - e talvez tenham se assustado. Mas uma pessoa que eu citei e que, por mais que pequenos contatos já tivessem ocorrido em 2013, 2014 proporcionou um conhecimento e uma relação de companheirismo de forma efetiva.
Aprendi muito ao perceber que estava num poço sem fundo. Aprendi muito mais ao sair dele. Aprendi até Lógica Formal rs. Mas se teve alguém que me ensinou mais neste ano se chama Joanne Santos Mota. Dentre várias outras coisas porque o convívio me deu a possibilidade de perceber deficiências e contradições em mim - e jornalista odeia admitir erros. Como disse a ela noutro dia, já está no meu panteão de heroínas e heróis, independente de qualquer coisa. Se hoje eu posso dizer que todos os milhares de problemas que passei de junho de 2012 até aqui de certa forma valeram à pena - por mais que pudessem ter pego mais leve... -, ter tido a oportunidade de conhecê-la foi a melhor coisa de 2014.