sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Do caixa à banca

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Último dia de trabalho em 2014, hora de utilizar este cano de escape que eu chamo de Dialética Terrestre para refletir sobre as questões do labor deste ano. Período em que vivi os opostos. Sair do "fundo de um poço sem fundo" para o extremo disso, alcançando um sonho que eu só imaginava realizar em médio prazo. Chegou a hora de expurgar os males, deixá-los por aqui e pensar em construir as melhores coisas possíveis, ainda que com as dificuldades "tradicionais" que aparecerão.

Contei a algumas pessoas o que estive fazendo antes dos concursos públicos que fui aprovado na UFAL (um para substituto e outro para efetivo), realizados em duas semanas, do final de março ao início de abril. Outras pessoas ficaram na curiosidade. Uma chegou a me perguntar. Mas era difícil contar. Se sempre coloquei na minha cabeça que não era motivo de vergonha, também não era algo para me orgulhar, longe disso.

Comecei 2014 com os resultados de decisões tomadas em novembro do ano anterior. Naquele momento, tinha deixado tudo o que havia de pendência acadêmica acertada - incluindo a revisão e o fechamento de um ebook - porque eu não sabia o que faria. Em meio à total falta de opções, agravada com um resultado de seleção de doutorado que me frustrou enormemente, a melhor delas era, literalmente, largar tudo, algo que já tinha deixado os meus pais de sobreaviso - na época, o Baleia morava comigo. O pragmatismo me manteve vivo. Tinha cursos a terminar em dezembro e uma conta a pagar que não deixaria para eles.

A morte veio de uma maneira diferente: largar tudo o que eu gostava de fazer. Isso passou por esquecer que era jornalista e que era mestre, até mesmo porque naquele momento não teve serventia alguma. Avisei a quem mantinha algum contato de trabalho (voluntário) ligado à pesquisa. Achava que não voltaria, ainda que eu não tenha deixado o tamanho das dificuldades de maneira clara.

Em dezembro até apareceu uma seleção para faculdade particular, cujo resultado não houve e que deixou só boatos percorrerem a minha cabeça - o mais forte deles é que eu e a amiga que fizemos a seleção seríamos muito novos para dar aula.

Comecei janeiro da mesma forma que terminei a última semana de novembro. Acordava 4h15, porque tinha que chegar ao trabalho antes das 6h, saía uma hora para almoçar na casa da minha tia - cheguei até a ficar com alguma cor no rosto por conta do sol do caminho - e batia o ponto ao final às 14h. Dias de maior movimentação, podia até ficar sem almoçar, pegando direto.

Para explicar melhor, uma situação. Eu lá embalando compras alheias e comento com a cliente que tinha morado por 2 anos no Rio Grande do Sul...

- Mas o que você foi fazer lá, tão distante?

- Fiz o meu mestrado lá?

- Você é mestre?

- Sim, sou jornalista e mestre em Comunicação?

- O que você está fazendo trabalhando aqui. Eu sou especialista, você tem uma formação melhor que a minha...

Era isso. Um jornalista e mestre em comunicação trabalhando na "frente de loja" de um supermercado, com a função de caixa assinada na carteira, mas que na verdade era "suplente de caixa", já que o cargo é preconceituosamente quase que exclusivo para mulheres; tendo que fazer tudo. Embalar, recolocar os produtos na loja, carregar caixas e compras...

Era o único lugar que nunca tinha pensado em trabalhar. O motivo é simples: a precarização da profissão ao extremo. Ou, como costumava e costumo dizer, a relação é de semi-escravidão. Ao menos terei o que dizer caso alguém no futuro afirmar para mim que "ser revolucionário de classe média é fácil". A experiência me marcou muito e foi muito diferente de tudo o que fiz antes.

Vivi a luta de classes como membro da classe oprimida, dos trabalhadores em maior número no mercado hoje, os de setor de serviços, que, no nosso caso, não tinham hora certa para almoçar, não tinham dia certo para folgar e que trabalham domingo sim, domingo não, sem qualquer certeza de ficar no emprego porque haviam relações pessoais que poderiam te garantir mais que o seu trabalho. Tudo bem, eu estava "seguro" porque o meu tio era o gerente. Por isso até que arranjei algum trabalho que me pagasse ao menos um salário mínimo, pois não tinha experiência nenhuma com aquilo. Trabalhar no comércio não rolava porque eu não sei vender nada - prova maior disso é que por mais que eu tenha produzido/estudado/respeitado xs demais não tinha conseguido nada no que eu era formado.

Assédio moral; assédio sexual; ver instigados o confronto entre pessoas de mesmo nível hierárquico; o cara que ganha um pouco mais e oprime mais até do que o dono (na estratégia do capital de criar cisões de classe); desvio de função; pessoas de mesma classe que tratavam mal os seus semelhantes por entenderem estar numa situação de empoderamento (supostamente eles pagavam os nossos salários), ... Ouvir coisas como "vocês têm que vir maquiadas, religião é outra coisa", mas tudo é mercadoria; ou "você é casada? Não importa. Não quer ir ao cinema?"; ou "você trabalha para o supermercado, não tem isso de desvio de função". E tantos e tantos outros exemplos que me deixaram em agonia monstruosa desde os primeiros dias. Mas, conta zerada, eu dependia daquilo para sobreviver, literalmente.

O auge foi no domingo em que teve Sport X CSA, quarta de final do Nordestão, e Palmeiras X Corinthians pelo Paulista. Os dois principais confrontos da minha vida. E eu lá trabalhando. Até a televisão que mostrava o jogo local teve que ser desligada porque o dono poderia achar ruim. Livros? Um lido aos trancos e barrancos em cinco meses. Enquanto eu estava acostumado a, pelo menos, dois por mês.

Ah, por indicação, consegui uma "chance" na principal TV do Estado. Trabalhar de graça até aparecer uma vaguinha. Era a fresta numa janela com grades que apareceu. Saía direto do supermercado para lá. Morto de cansado, sem qualquer contato, sem qualquer disposição de fazer o que muitxs fazem para garantir seu lugarzinho como jornalista; vendo o quanto o ambiente televisivo é extremamente (e babacamente) competitivo. Troquei o horário no final de janeiro, dava para eu cochilar em casa, mas retornava pelas 22h30 para sair com o Baleia, comer algo rápido e despencar na cama.

Aprendi muito sobre as rotinas de produção da TV. Adorei aprender a editar, especialmente porque minimamente me vi trabalhando com o futebol - o que sempre me motivou a ser jornalista, desde os 8 anos. A matéria do dia seguinte, que nem sempre tinha como ver, tinha sido eu a editar. Aprendi bastante com um profissional que era exceção à regra dos profissionais da área. Mas sabia desde o início que não tinha chances. Ali fui um suplente de estagiário.

Em março me lembraram dos concursos da UFAL. Tinha olhado antes, mas não tinha vaga em Comunicação. Apareceram, uma para substituto em Telejornalismo em Maceió e uma para efetivo para o tronco inicial em Penedo. Vi os editais quando faltavam três e quatro dias para o limite. Quinze dias para as provas. Fiz e decidi mudar tudo.

Se era para viver daquele jeito era melhor não viver. Encararia as cobranças que viriam caso fosse morar com os meus pais - cobranças que vieram indiretamente em outubro do ano anterior e se agregaram ao ser orgulhoso que não queria depender mais deles após cinco anos sem isso, os dois anteriores totalmente sem ajuda financeira -; os comentários de uma família extremamente conservadora de que "ele estudou tanto...", sem querer entender o porquê disso, em que talvez fosse mais importante eu ter dado umx netx à minha mãe...

Falei com o tio que sairia, não tinha mais paciência nem mesmo para os dois meses que faltavam para ter direito ao seguro-desemprego (ideia inicial). Ele ligou preocupado para a minha tia para saber o que eu iria fazer da vida. Quando souberam, xs colegas de trabalho achavam que eu era maluco. Por mais que eu conversasse com uns ou outrx mostrando a importância de lutarmos pelos nossos direitos, o medo prevalecia entre elxs, o "eu bem que queria fazer isso, mas dependo". Na TV foi muito mais fácil, não pude fazer nada para me destacar minimamente. Foi o único espaço em que trabalhei que tenho a noção que não fui eu, o cara que geralmente se dedica 120%, 200% às coisas.

CONCURSOS
Estudei muito pouco para os concursos. No de substituto, nenhum dos cinco pontos para a prova era para telejornalismo, por mais que a vaga fosse. Na prova teórica, as TICs nas assessorias de comunicação. Sem paciência para fazer provas, desacostumado, com um tema longe de mim, entreguei rápido. Já seria muito se passasse dali. Passei com sete, em terceiro, empatado com o quarto, e bem distante do primeiro.

Mas a didática foi sobre a convergência midiática, um dos temas principais do CEPOS (o do projeto com a Fundação Ford), e poderia acrescer os meus estudos (de curioso) sobre mídias sociais. Quando soube, decidi que ia me divertir dando aula. Foi o que fiz no dia seguinte. Veio o resultado e eu consegui na didática ganhar uma posição. Estava plenamente satisfeito. No dia seguinte, numa aula, ganhei elogios e surgiram possibilidades de reaproveitamento do concurso.

Só que os problemas apareceram do nada. Saí mais cedo do supermercado na terça porque a prova era à tarde. Na quarta tinha avisado que iria faltar por conta de uma disciplina que cursava no doutorado em Linguística. O cara acima chiou e quando cheguei na quinta de manhã soube que "não precisava" ir mais trabalhar, mesmo tendo sido eu a definir o sábado como limite, até para facilitar a contratação de outra pessoa. Fiquei MUITO irritado. Ali não havia uma mínima coisa a falar do meu trabalho naqueles 4 meses e 1 semana. Olha que eu poderia fazer corpo mole, mas eu não sei fazer corpo mole.

Irritado, não consegui estudar mais nada dos 10 pontos para a prova de efetivo que misturaria Lógica, Informática e Comunicação. Pensei até em desistir, mas a experiência ao menos valeria para o futuro. Prova escrita e o ponto foi sobre a "sociedade da informação". De novo, hora de escrever com diversão, com prazer. Veio a surpresa com a nota alta e mais segurança para seguir adiante.

A didática foi separada em dois grupos. Para variar, o pior dos temas veio para o meu: Lógica. Tinha sido o que mais estudei dentre uma preparação bem precária, mas faltava uma parte do ponto. Dar 50/60 minutos de Lógica Formal numa aula inicial é dificílimo para quem tem formação em Comunicação e o diálogo com os estudos da linguagem. Se tinha passado em 2º com boa distância para xs demais, a didática tirou toda a diferença.

Veio o tal do PAA e já estava satisfeito em ter passado por todas as fases presenciais. Nova aprovação, mudança de posição (para terceiro), mas a certeza que tinha passado pelo concurso por inteiro, afinal a Prova de Títulos não é eliminatória. Com ela, voltei a segundo e sabíamos, ou soubemos lá, que o segundo tinha imensa chance de ser aproveitado em Santana do Ipanema. Fui aprovado em ambos os concursos muito mais pela minha mania de saber/ler sobre tudo do que pela minha formação de graduação e Mestrado. A minha necessidade de aprender/conhecer mesmo que não fosse utilizar aquilo em determinado momento foi o que me garantiu sobrepor à falta de estudar minimamente para os concursos.

Tive a sorte de encontrar 3 pessoas que se tornaram quase que amigxs ao longo do processo e depois dele. Voltei com dois deles a Maceió e um me perguntou como me sentia por ter sido aprovado e ter quase a certeza que seria professor efetivo da UFAL. Não tinha caído a ficha. Era incrível! Quando cheguei em casa, desabei! Era a certeza de que tinha tomado a decisão certa de jogar tudo para o alto. Não era aquilo dos cinco meses anteriores que gostava de fazer. Não deveria ser.

POSSE
A espera pela nomeação demorou. Mais alguns meses de o mínimo (do mínimo) de gastos possível em casa. Nada de avisar a qualquer outra pessoa para não gerar expectativas. Até mesmo porque sei muito bem que comigo sempre pode dar algo errado. Tinha de esperar a primeira tomar posse. Ela demorou uma semana a mais. Tive exame que demorava três dias para ser entregue e só me foi duas semanas depois.

Pela primeira vez na minha vida pós-Aracaju não tive como respirar fundo e aguentar a emoção. Voltar à UFAL já seria emocionante de qualquer jeito, mas depois daquilo tudo, especialmente após a morte do Valério, meu orientador, tinha um significado muito maior. A partir dali, com exceção da minha dissertação, minha vida desabou. Era ressurgir das cinzas já jogadas num lixão qualquer. Era ver que a melhor decisão nem foi sair do subemprego, mas saber que o meu pragmatismo muitas vezes exacerbado salvou a minha vida e me permitiu chegar a este momento.

Não era na comunicação, mas era para Contábeis e Economia. Esta última que eu via necessidade de me reaproximar, ou aproximar para valer, depois do Mestrado. Tive sorte ainda maior de chegar numa unidade que por mais que tenha problemas, especialmente por conta da estrutura, quase todo mundo se dá muito bem, independentemente de diferentes posicionamentos político-acadêmicos em dados instantes. Tive sorte gigantesca de encontrar dois professores na Economia marxistas e que, pasmem, são palmeirenses!!! A roda realmente tinha girado.

Era e ainda é muito estranho ser chamado de "senhor" na sala de aula. É ainda muito estranho ser chamado de professor, por mais que eu tenha me formado pensando que um dia seria isso. Mais ainda voltar aos espaços de debate e disputa epistemológica depois de dois anos - e quanta falta isso me fazia! - e ver todo mundo feliz e fazendo questão de me chamar de "professor". A ficha vem caindo aos poucos, mas acho que com esse texto, expurgando o passado recente, mas fundamental para a minha construção, esse processo se complete.

A VOLTA E AS INESTIMÁVEIS PARCERIAS
Comentei sobre o grupo que foi aprovado no concurso e um deles eu volto em particular. O professor Victor, chamado para Delmiro, tem características de trabalho bem parecidas com a minha, apesar de a formação ser mais para os Estudos Culturais que para a EPC - linhas que partem de uma origem comum, mas que seguem destinos diferentes e que de certa forma disputam espaço parecido no campo -, e isso vem nos fazendo desde lá a ter várias ideias de trabalho em conjunto, cada qual respeitando os interesses de pesquisa do outro. Isso é bastante difícil na Academia. Falo isso porque já é muito difícil quando as pessoas compartilham de mesmos objetos ou perspectivas teórico-metodológicas.

Dentre as ideias, uma já foi aprovada. O projeto "A reinvenção do Sertão: Economia Política, identidade e tecnologia da comunicação no desenvolvimento da cultura jovem em Delmiro Gouveia" foi aprovado e ano que vem é por em prática algumas das coisas que pensamos aqui para o Campus Sertão. Se não somos levados à Comunicação em Maceió (para nada, registre-se), traremos a Comunicação, da melhor maneira que a gente entende, para cá.

O projeto conta com seis bolsistas e um colaborador e o meu interesse maior é em aprimorar o conceito do alternativo através do padrão tecno-estético, dando sequência aos trabalhos do CEPOS da época que era liderado pelo Valério. Além disso, temos parcerias com um professor da UFPE, Jeder Janotti, e com uma professora da UFS/OBSCOM, Verlane Santos. A ideia é montar uma rede entre os três Estados, ao menos com o intercâmbio entre as pesquisas de cada um sobre música, em especial, mas também sobre cinema.

Modéstia à parte, participar de um projeto com Economia Política no título é muito massa. Poder fazer com que a EPC torne-se razoavelmente conhecida para valer por aqui é um dos meus objetivos e que espero conseguir até 2020; que Alagoas seja um dos Estados com abertura para a temática e uma referência neles - por mais que o CEPCOM tenha dado um passo importante, e maior que as suas pernas, até 2010.

Quanto a pesquisas, este ano eu só não parei por conta de duas pessoas. Sou fascinado por futebol e a melhor coisa que já fiz na vida foi querer estudá-lo e isso gerou o que acho que é a melhor produção que já realizei, a minha dissertação. Porém, não tive tempo nem para revisá-la, ideia lá de novembro do ano passado. Só produzi graças a um baiano, formado em jornalismo na UFS, e que fiz uma co-orientação não oficial de TCC do final de 2013 para 2014.

Irlan Simões me fez entrar na seara dos estudos mais ligados à identidade, já que eu analiso a apropriação dos esportes enquanto produtos midiáticos e as relações de poder e econômicas nisto. Produzimos dois artigos, apresentamos dois trabalhos, mas ainda aguardamos espaços para a publicação. Um é sobre as possibilidades de estudos da EPC sobre futebol, outro é um histórico de tratamento dos torcedores no Brasil, com o processo de elitização marcando início e as mudanças atuais.

Os encontros até que foram poucos neste ano, mas a parceria é frutífera, especialmente pelo interesse mútuo em construir os estudos sobre futebol numa perspectiva crítica comunicacional, a qual acreditamos e defendemos que seja a EPC. Não estou mais sozinho nesta batalha e isso é muito bom.

Por fim, mas numa ordem de importância pessoal inversa, retomar os estudos sobre a EPC. Ano passado, fui convidado pelo então presidente da União Latina de Economia Política da Informação, da Comunicação e da Cultura no Brasil para coordenar um mapeamento dos estudos da EPC no país, tendo em vista que em 2014 comemoramos 10 anos da entidade. Não pude fazê-lo. Assim que acabou o concurso, voltei a entrar em contato e ele me disse que uma orientanda do professor Bolaño estava fazendo algo parecido na UFS.

Mandei e-mail para ela para saber se poderia ocorrer uma parceria, mas imaginando que o conflito de interesses não fosse permitir, afinal esta era a base do tema de pesquisa dela. Mas não. Foi o contrário. Ela topou e apesar de algumas dúvidas na primeira reunião, conseguimos encaixar uma programação de trabalhos interessante.

De abril para cá foram três artigos, três apresentações e a certeza de uma vontade em comum: ir para a frente de batalha em prol do crescimento da EPC. Estivemos juntos apenas em três espaços, mas imagino que xs demais companheirxs deste eixo tenham percebido o tamanho da nossa disposição para isso ocorrer. Dentre as coisas incríveis da parceria estão as broncas que demos simplesmente ao maior nome da EPC da América Latina, um dos principais do mundo. Eu voltei para casa depois de ir a Sergipe em novembro pensando: "pôxa, demos bronca no Bolaño...".

No Rio de Janeiro, no final do mês, por mais que eu estivesse muito mal naquela semana, ela foi brilhante e demarcou espaço importante para a nossa proposta. Aliás, ela é brilhante! O que passei a ver desde o início da parceria em abril, de carregar um grupo nas costas, com direito a seminários e conseguir recursos através de editais mexendo neles sozinha, só me faz pensar que se eu fosse professor de um PPG e fosse da EPC me aproveitaria que em Sergipe não tem doutorado e trazia. Dentre as nossas características em comum, está a de se tiver de carregar vários pianos sozinhx, nós o fazemos.

Ter alguém com a mesma força para entrar numa guerra do tamanho que é o da luta epistemológica do campo, mesmo com todas as dificuldades que temos por estarmos iniciando uma carreira acadêmica e por uma conjuntura que pouco nos favorece, é, com toda a certeza, a melhor coisa deste 2014. Não sei se ela já percebeu, mas é incrível quando os dois se juntam para conversar sobre isso com qualquer outra pessoa. Acredito que não fazemos a crítica pela crítica e isso dificulta qualquer imputação sobre uma maior maturidade acadêmica.

Penso ainda o que ocorreria caso trabalhássemos juntos num mesmo espaço, fosse no velho CEPOS que dava muitas condições de trabalho para pessoas que nem nós - com um claro apoio para isso -, ou mesmo no OBSCOM, na UFS, cuja possibilidade de construção desta luta é central por conta da presença de Bolaño em Economia e na Comunicação.

POR FIM, ENFIM...  
Aí, nos últimos dias de 2014 me vejo como professor efetivo da universidade que eu prometi a mim mesmo que um dia retornaria para mostrar que é possível construir; vejo-me retomando um processo de construção intelectual que parou por 1 ano e meio; vejo-me com segurança para poder fazer tudo que a minha cabeça de maluco produtivo resolve pegar para fazer; vi-me numa banca de seleção para professor de universidade federal esta semana!

São muitos os desafios para 2015. Exigirão muito de mim e espero que eu consiga dar conta deles da melhor maneira possível, para que eu chegue neste meu cano de escape contando o tanto que consegui evoluir.

Teria muitos agradecimentos a fazer. À tia que me ouviu reclamar muito de tudo no início do ano. À enorme paciência dos meus pais em ter um filho tão desapegado que nem eu. Aos amigos, casos de Homero e Victor, os poucos que me viram no pior momento da minha vida - e talvez tenham se assustado. Mas uma pessoa que eu citei e que, por mais que pequenos contatos já tivessem ocorrido em 2013, 2014 proporcionou um conhecimento e uma relação de companheirismo de forma efetiva.

Aprendi muito ao perceber que estava num poço sem fundo. Aprendi muito mais ao sair dele. Aprendi até Lógica Formal rs. Mas se teve alguém que me ensinou mais neste ano se chama Joanne Santos Mota. Dentre várias outras coisas porque o convívio me deu a possibilidade de perceber deficiências e contradições em mim - e jornalista odeia admitir erros. Como disse a ela noutro dia, já está no meu panteão de heroínas e heróis, independente de qualquer coisa. Se hoje eu posso dizer que todos os milhares de problemas que passei de junho de 2012 até aqui de certa forma valeram à pena - por mais que pudessem ter pego mais leve... -, ter tido a oportunidade de conhecê-la foi a melhor coisa de 2014.

domingo, 7 de dezembro de 2014

[Por Trás do Gol] Palmeiras até morrer (literalmente)

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Tinha acertado com o meu pai que íamos almoçar na casa da minha tia, mas tinha que voltar antes do jogo do Palmeiras "porque se é para morrer é melhor que seja em casa". Não precisava ser um profeta para saber o quanto seria difícil. O pior elenco da história desta Sociedade Esportiva não ia nos deixar tranquilos na última rodada que, por sinal, nem deveria ser problema.

Saí ontem com a camisa do Palmeiras para a aula do Espanhol e após a prova conversei com outros colegas, dois deles palmeirenses, sobre o difícil desafio de hoje. Difícil porque não dava para depender só deste time para fugir do rebaixamento.

Hoje, nova camisa, e na direção do ponto de ônibus um cara num carro solta um: "levanta a cabeça, palmeirense, que hoje é o dia". Não sei se era bom ou ruim, supomos que fosse torcedor de algum rival, tentando zombar antecipadamente. Já estava pensativo e preocupado 1h30 antes do jogo, fiquei ainda mais monossilábico.

Em casa, respondi um e-mail de auxílio a uma pesquisadora e, faltando 10 minutos para começar, fui à frente da TV. Era a hora de sofrer, gritar como se fora eu um dos trinta e tantos mil que estava no Parque. Não importavam promessas de renegar por conta do terceiro rebaixamento, minha relação com o Palmeiras não pode sequer ser designada com a palavra amor; é algo maior e independente de jogar com o Manchester United ou com o CRB no ano que vem. Por mais que eu tenha decidido esta semana que nos 5% da minha vida em que o emocional se sobrepõe ao racional eu passasse a ser menos extremo. Está no meu sangue, na minha mente, no meu coração e na memória de tantas pessoas que cruzaram comigo nestes 26 anos de vida.

Sabia que era importante fazermos logo um gol. Eu cantava o hino, incentivava, gritava, sozinho em frente à TV. Lúcio tenta jogar bonito, leva um grande xingamento e quase sai gol do Atlético-PR. Escanteio seguinte e gol. 10 minutos e o gol foi deles. Bahia vencendo em Curitiba e o rebaixamento na hipótese mais provável dadas as últimas rodadas. Gritei forte de raiva e as lágrimas vieram. O déja-vu ali presente.

Com lágrimas ainda no rosto, voltei a incentivar. Não podemos parar. Certa pressão e chute que desvia no braço. Racionalmente, é a nova interpretação desses lances e já fomos "prejudicados" com pênaltis assim neste Brasileiro. "Pênalti, juiiiiiiiiizzzz!". Ele marca. Eu vibro, quebrando a regra de vida boleira de nunca comemorar pênalti a favor, porque não é sinônimo de gol.

"Vou morrer!"

Tremo, seguro no primeiro móvel do lado. Tremo mais ainda. A vontade era de não olhar para a tela. A sensação era de que iria apagar a qualquer momento. Aí balbucio o "vou morrer" e minha mãe vem ao quarto e me diz que a bola vai entrar. A bola entrar e grita mais forte ainda. Mais de uma vez. Mais lágrimas. 19 minutos e muito jogo pela frente. Valdívia sendo ainda mais Mago.

Primeiro tempo rolando, mais xingamentos por mais erros de Lúcio, muitas palmas para Nathan -  muito melhor que o experiente pentacampeão mundial e muito mais novo -, tentar orientar o time de (muito) longe e mais xingamentos a cada erro e muito suspiro quando São Fernando Prass nos salva. Isso porque o time do Atlético era muito novo e supostamente o presidente deles queria que o Vitória caísse...

Final de primeiro tempo e hora de acalmar. Resultados nos garantindo no fio da navalha. Mas palmeirense é antes de tudo um pessimista. Medo de o empate aqui se arrastar até o final e sair o gol do Vitória nos últimos minutos. O Coritiba, ao menos, ia fazendo gols e mudando o jogo contra o Bahia, que virara mal menor com o segundo gol do time do GRANDE Alex.

Se no segundo tempo o time não passou tanto sufoco atrás, lá na frente pouco criava para além de Valdívia e de bolas tiradas na hora da finalização. Cristaldo e Mouche pouco faziam. Henrique seguia lutando sozinho, como fizera desde que chegou ao time. Cheguei a me jogar no chão duas vezes, após chances desperdiçadas por descuido - ou falta de qualidade mesmo.

20, 30, 35, 40 e nada mudava. Mais gritos, mais xingamentos e o coração acelerado - ainda que menos que no primeiro tempo. Voz quase nenhuma, inversamente proporcional à vontade de gritar, que não parava.

A mente contava os minutos em São Paulo e diferenciava os 2 a menos no Barradão. 4 minutos aqui e 5 lá, só para aumentar o sofrimento. Atlético enrolando aqui e nenhuma informação de lá. Fim de jogo em São Paulo e quase clamo para a emissora detentora dos direitos de transmissão do torneio mostrar o jogo do Vitória. Ela o faz.

Ataque do Santos e eu na torcida para o sufoco acabar antes dos 2 minutos que ainda faltavam. Vitória rouba a bola e arma o contra-ataque. Defesa santista aberta e o medo aumentando. Até que o jogador do time baiano erra e volta o Santos ao ataque. Eu peço para que eles segurem a bola para o jogo acabar - não critiquem, pois o Atlético encerou o jogo inteiro em SP.

Bola para o lateral dentro da área que, sozinho, toca para Thiago Ribeiro chutar. Gol! Saí correndo gritando aliviado. ACABOU! Chorei um monte depois de alívio. Tudo bem que a virada que eu dei na minha vida este ano foi espetacular, mas um novo rebaixamento do Palmeiras mancharia uma pequena parte disso.

Como disse há 3 rodadas, só não cairíamos se os outros fossem mal. Eles foram. Ufa!

Aproveito para dizer ao senhor Paulo Nobre que a sorte um dia acaba, passou da hora de entender que futebol não é especulação na bolsa de valores. Passou da hora de entender o quanto torcedores que nem eu AMAM esse clube, a ponto de ser o time que mais vende camisas (e mais as faz) no Brasil. Com Palmeiras sempre, com dirigentes e jogadores como vocês, nunca!

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

A disputa dos canais esportivos na TV segmentada

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Novembro foi marcado por uma surpresa no âmbito das disputas por direitos de transmissão de eventos esportivos. O Esporte Interativo ganhou a licitação, com exclusividade em TV fechada, da Liga dos Campeões da Europa, principal torneio entre clubes do mundo, de 2015/2016 a 2017/2018, em meio a uma concorrência com grupos do nível da Globo (SporTV), Fox (Fox Sports) e Disney (ESPN) no Brasil.

Na verdade, a concorrência foi contra a proposta conjunta da Globosat e da ESPN, superada por supostos 20% a mais do Esporte Interativo – a Fox não apresentou proposta. O canal vencedor, originado da Top Sports (1999) em 2007 em UHF, com essa aquisição passa a se reforçar na TV fechada e na internet, onde detém o serviço sob demanda EI Plus.

Os direitos de transmissão são alvo de disputas intensas em todas as partes do mundo – como comentamos neste Observatório em diferentes momentos e sobre outros países. Isso começa nos anos 1990, primeira década após a abertura dos mercados de TV com o fim do monopólio público-estatal e a modificação do produto futebol televisionado nos países europeus.

O Brasil só viu esse processo concorrencial nos anos 2000, com a consolidação da TV fechada e a necessária abertura de mercado por parte do Grupo Globo, após a crise do mesmo – aumentado com a posterior aprovação da Lei 12.495/2010, que unificou as regulamentações sobre a TV segmentada e forçou a saída do grupo de conselhos executivos das distribuidoras. Ainda assim, são alguns os momentos em que o grupo usou de suas barreiras político-institucionais para dificultar a entrada de outros atores.

A estratégia do canal

Em 2006, foi necessário que o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) determinasse, via Termo de Cessação de Conduta, que os canais Globosat, especialmente os relacionados a eventos esportivos (SporTV 1 e 2 e Premiere), não fossem de exclusiva entrega de programação, até então apenas para a Sky. Noutro momento, em 2012, a entrada da Fox Sports na TV fechada brasileira foi dificultada pela participação da Globo como sócia de Net e Sky. Foram meses até chegar a um acordo, inclusive de conteúdo, com a Fox repassando a transmissão da Libertadores e recebendo os jogos dos torneios Fifa.

O Esporte Interativo sofre desde o início com essas barreiras. Fora das duas principais distribuidoras, Net e Sky, o canal tem sua atuação restrita na TV fechada. Por isso que manter a exclusividade dos jogos da Liga dos Campeões, com a promessa de transmitir todos eles e em HD, é essencial para a abertura de novos espaços a partir de 2015. Imagina-se que nenhuma programadora irá querer ficar sem o principal torneio de futebol entre clubes do mundo – apesar de terem optado por perder público após a aposta na regionalização do EI, com transmissão da Copa do Nordeste e dos estaduais da região desde o ano passado.

Mas para chegar a este nível, o EI também realizou parcerias com grandes grupos transnacionais. Por dois anos, manteve uma parceria de produção de conteúdo para a internet com o Yahoo! Houve a união das ofertas para plataformas móveis e produtos online (redes sociais, sites e aplicativos). O contrato não foi renovado em 2014.

A grande parceria veio da ida ao mercado. Com o auxílio do Goldman Sachs – que colaborou com o Grupo Globo e foi sócio minoritário do argentino Grupo Clarín –, passou a ter como sócia a Turner Broadcasting (Time Warner), com uma entrada de capital de R$ 80 milhões e detendo 20% de suas ações. O investimento pesado junto à proprietária de canais como TNT e Space, respectivamente 6º e 10º mais assistidos na TV segmentada, mostra que a estratégia de atuar no que sobrava do mercado – como foi a histórica transmissão da campanha do inédito título mundial da seleção brasileira de handebol feminino em 2013 – passa a ser a de ocupar um espaço importante neste setor de mercado, abrindo ainda a possibilidade de ganho de recursos com a multiplataforma, através do EI Plus, também dentro do acordo com a Uefa.

Fuga para outras plataformas

Globo e Bandeirantes seguem transmitindo na TV aberta, setor que a emissora da família Marinho continua tendo controle quase que absoluto quando se trata da prioridade em acesso aos principais torneios de futebol e até da maioria dos outros esportes no mundo – adquirindo o pacote para todas as mídias.

De todas, a ESPN é que vai perdendo cada vez mais espaço. Agora, ao perder os direitos da Liga, além de outros já perdidos com a entrada da Fox Sports no mercado brasileiro – caso das ligas alemã e italiana –, ou entra mais forte nas próximas disputas ou confirma a tendência de apostar nos esportes estadunidenses, destacadamente a NFL, para o Brasil, área em crescimento nos últimos anos e que recebe mais cuidado na programação de seus canais.

Importante produto por se tratar de um bem cultural com grande receptividade, o futebol seguirá sendo motivo para novas formas de atuação de importantes grupos transnacionais de comunicação. As ligas e os clubes sabem disso e cabe a eles ver o faturamento aumentar a cada renegociação, independente das dificuldades de mercado provinda de crises econômicas, e saber escolher uma proposta que seja melhor no pacote como um todo, para além do lado financeiro. A proposta do Esporte Interativo, por exemplo, teve que considerar a possibilidade de transmissão nos outros canais da Turner, caso o EI e o possível novo canal da Champions não consigam ser oferecidos na Net e na Sky. Não adianta receber muito para esconder o produto; seria prejuízo para a marca, que perderia adeptos nos mais diferentes nichos de mercado ligados à indústria do futebol.

Acompanhar esses processos de disputa é verificar os movimentos de derrubada e construção de novas barreiras de mercado, o que na TV aberta é praticamente impossível de se realizar, dado a firmeza da velha legislação do setor. Mas os reflexos destas lutas podem influenciar a estruturação de mercado também por lá. A fuga dos telespectadores para outras plataformas é visível, assim como o grande aumento que vive o número de assinantes da TV fechada no país nos últimos anos.
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Texto publicado na edição n. 827 do Observatório da Imprensa

sábado, 22 de novembro de 2014

Lógica, Informática e Comunicação - Intencionalidade

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Parte 1 - Ver documentário "Muito Além do Cidadão Kane" (Simon Hartog, 1993, Channel 4 - ING)


Parte 2 - Textos opinativos sobre o marco regulatório das Comunicações no Brasil (acessar pelos links - clicar no título dos textos - e ver na ordem)

"Por um efetivo marco regulatório da mídia no Brasil" (Valério Cruz Brittos e Anderson David Gomes dos Santos em 29/11/2011 na edição 670 do Observatório da Imprensa)

"O novo marco regulatório no projeto e na prática" (Anderson David Gomes dos Santos em 03/06/2014 na edição 801 do Observatório da Imprensa)

Parte 3 - Música "Reforma Agrária do Ar" - Wado


Parte 4 - Comentários abaixo sobre os elementos que compõem essa aula virtual. Algumas possibilidades: 1- O que une as três partes que compõem a aula?; 2- No marco do primeiro vídeo, você concorda ou discorda das críticas à Globo; 3- (Independente de o professor ser autor dos textos) Você concorda com o(s) autore(s) sobre a necessidade de uma nova regulação da radiodifusão (TV/rádio abertos), por quê? 4- Qual a sua opinião sobre a intencionalidade dos grandes grupos comunicacionais brasileiros (Globo, Record, SBT, Folha, Estadão, Abril-Veja, etc.)?

* Não é necessário responder todas as questões, mas ver/ler tudo, que leva menos que o tempo da aula de LIC da quinta-feira. Acompanharei os comentários mesmo de longe e a intencionalidade será o tema da aula do dia 04 e da prova (Contábeis) e passará pelos seminários (Economia).

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Problema maior que um marco regulatório para a mídia eletrônica

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Infelizmente, parece que só se percebe o posicionamento de classe das elites proprietárias de grandes grupos de comunicação a cada período eleitoral – marcadamente durante as eleições para o cargo de presidente da República. Esta eleição elevou esse patamar a um nível maior. As tais intervenções em maior quantidade na entrevista com a presidenta Dilma Rousseff – com direito a suposto dedo levantado por Patrícia Poeta no Jornal Nacional; e a já “tradicional” divisão de tipo de conteúdo, bem marcada pelos estudos do Manchetômetro no Rio – ampliaram essa percepção e a necessidade, mesmo por parte de pessoas influentes no governo (e articuladores da coalizão de classes que comanda o país com o PT na principal cadeira, caso do ex-presidente Lula), de se realizar um novo marco regulatório para a radiodifusão de transmissão gratuita.

Ainda que sigamos pessimistas quanto ao tema, dado o histórico de 12 anos sem qualquer tipo de avanço, não é bem esse assunto que tocaremos neste texto. Até porque o ápice de tentativa de interferência numa disputa tão acirrada quanto esta não veio da mídia eletrônica, mas de um impresso. Adiantar o lançamento da edição da revista e divulgar a frase de um delator que nem o advogado dele confirmou sobre um suposto conhecimento da presidenta Dilma e do ex-presidente Lula nos casos de corrupção na Petrobras foi prova cabal, para os “cegos de ocasião”, sobre qual formação ideológica é a principal da revista Veja, do cambaleante Grupo Abril.

A presidenta/candidata Dilma Rousseff usou os minutos finais da sua última aparição em rádio e TV para criticar o que ela chamou de “terrorismo eleitoral” feito pela revista, que já havia feito isso em eleições anteriores.

Comunicação social eletrônica

Sobre a fala de Dilma, relembrei os momentos com os amigos do programa Periscópio da Mídia, da Rádio Unisinos FM. Algumas vezes questionamos os governos ditos progressistas que seguiam bancando as tais mídias “golpistas” com os recursos de publicidade estatal – no caso dos “blogueiros sujos”, diga-se, parte ínfima da verba só foi para eles a partir do último ano de governo Lula, com Franklin Martins na Secretaria de Comunicação Social. Se a presidenta reconhece o “terrorismo eleitoral” e os mecanismos espúrios da principal revista em termos de circulação do país, por que as estatais/empresas mistas seguem a mantendo com publicidade? Se não me engano, numa das edições do Periscópiocomentamos que duas páginas por edição de Veja custariam R$ 1,5 milhão. E lá podemos encontrar Caixa, Petrobras, BB etc... Pegando os dados do Mídia Dados 2014, dos 15 maiores anunciantes do Brasil, três são ligados ao governo federal: 5º Caixa (3º em revistas); 6º Petrobras (4º em revistas); e 12º Banco do Brasil (6º em revistas).

Além disso, há a compra de assinatura de revistas para escolas, bibliotecas e outros espaços públicos, o que ajuda a alimentar as receitas de um grupo supostamente golpista.

Vale ressaltar que se precisa levar em consideração que caso se tratasse de divulgação de obras públicas para os cidadãos, é claro que é necessário que isso seja feito através de meios de grande circulação. Porém, fica-se numa sinuca de bico: paga-se publicidade para difundir num espaço que muitos leem ao mesmo tempo em que quem lê, e a linha editorial de tal meio, é direcionado para combater a si, que anuncia.

Um processo assim não se trata de censura, mas de verificar qual o interesse público que determinado meio de comunicação pretende atender, se é que atende. Explicando o caso da RCTV na Venezuela, como se tratava do espectro eletromagnético, público, o que houve foi a não renovação da concessão, encerrada em 2007; não um corte imediato de sua programação – que, se fosse neste sentido, teria ocorrido em 2002, após a tentativa de golpe, com total participação dos grupos midiáticos, contra Hugo Chávez, presidente eleito democraticamente.

Como se trata de mídia impressa, logo não é uma concessão pública, uma regulamentação da comunicação não necessariamente atuará sobre ela. O que os movimentos pela democratização da comunicação lutam hoje, por exemplo, é por um “Projeto de Lei de Iniciativa Popular da Comunicação Social Eletrônica“. Necessidade esta até mesmo do setor de radiodifusão, já que a última alteração no Código Brasileiro de Telecomunicações, que o rege, ocorreu em 1967 – com muita alteração tecnológica a partir daí, para não entrar no mérito de abrir novas formas de concorrência.

Comunicação emancipatória só virá sob outros marcos

No caso do impresso, o direito de resposta estava previsto na Lei nº 5.250/1967, a Lei de Imprensa, que previa punições a supostos excessos cometidos pelos profissionais da comunicação no exercício de suas atividades. O Supremo Tribunal Federal considerou improcedente a lei em 2009 por não se coadunar com o que está escrito na Constituição Federal, promulgada em 1988. Desta forma, o caminho para pedir direito de resposta, como no caso da então candidata a presidenta, complicou-se ainda mais.

Evidente que também precisa ser considerado o efeito de uma notícia deste nível. Mesmo que a revista publicasse o direito de resposta na edição seguinte, ocupando o mesmo espaço que a matéria (quiçá também na capa), a informação já fora propagada e os efeitos disso já teriam sido despertados em parcela da população que teve acesso, seja comprando a revista ou vendo a capa nas mídias sociais. Efeito pior ainda por se tratar de vésperas de uma votação. Não haveria como remediar.

Fazer como a Veja fez no dia seguinte à publicação, colocando a resposta apenas no site do periódico, é ruim, pois não se trata do mesmo espaço de publicação. Pior ainda porque a revista respondeu o direito de resposta, algo impensável – quer dizer, menos para quem se acha, como um candidato no pleito, com direito a tréplica...

Por isso é que lutar por políticas públicas para a área e pela democratização da comunicação nos marcos que os movimentos dedicados ao tema fazem não é o suficiente. É óbvio que não dá para negar a importância de seguir lutando por uma regulamentação e uma regulação que garantam expressões mais democráticas, mais justas num espaço que é público. Mesmo nesse nível, a luta já será gigante, vide o que falou o suposto candidato a presidente da Câmara, que prometeu engavetar qualquer proposta sobre regulação da mídia e é do partido do vice-presidente da República, o PMDB – que também abarca políticos sócios ou donos de concessões, algo inconstitucional.

Mesmo assim, é preciso ter a noção de que uma comunicação efetivamente emancipatória só virá sob outros marcos societários. Que lutemos por mais direitos, mas sem esquecermos qual o objetivo final, o da emancipação humana. Um desafio ainda maior, com certeza.

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Texto publicado na edição 825 no Observatório da Imprensa

domingo, 9 de novembro de 2014

[Viagens] Saindo de um câmara criogênica

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Ao apresentar as falácias no terço de Lógica formal na disciplina que dou aula, brinquei com os alunos sobre a falta de comprovação sobre a criogenia. Esta poderia ser uma falácia por ainda não ser comprovada pela ciência. Mas vai que um Walt Disney ressurge em mente e corpo (vale a pena ver a animação que está lincada)?

Tudo isso para dizer que voltei a Aracaju após quatro anos. Não tinha noção que fazia tanto tempo que não voltava para lá. Voltando, percebi que da última vez tinha ido para apresentar um trabalho do núcleo de estudos e para ver as possibilidades de estudar no mestrado da Unisinos. Depois, passaria na seleção, moraria por dois anos em São Leopoldo-RS, passariam por boas e ruins, voltaria para Maceió e passaria por péssimas e eis de volta.

Sergipe tem uma parcela importante na minha formação. Foi lá que passei dos 2 aos quase 12 anos e cuja mudança nos anos finais foram preponderantes para a minha constituição moral. Maior parte dos princípios que utilizo para as relações sociais foi construída ali. A mudança para cá foi essencial para uma dificuldade da minha parte em mudanças, mesmo após o (essencial) período no Rio Grande do Sul.

Voltar para Sergipe ainda tem um peso enorme. É a passagem pelo Rio São Francisco, ainda que desta vez tenha sido à noite. Rever xs poucxs amigxs desde aquela época. Nesta viagem pude rever dois amigxs de infância. Uma com uma filha de 3 anos e outro com um filho a nascer ano que vem. Pudemos conversar mais do que, inclusive, nas outras vezes que voltei a Aracaju, geralmente por conta de algum evento estudantil ou acadêmico. Relembrar uma cidade que já começava a ter cada vez menos resquícios na memória.

Claro que não terá o mesmo peso de quando eu puder apresentar a minha pesquisa para estudantes de Comunicação (agora Jornalismo e RRPP) daqui da UFAL, mas voltar como professor para o lugar que eu imaginava que só sairia justamente para cursar Jornalismo em Alagoas pode ter sido o tilintar final da ficha caindo que uma nova fase começou.

CEPOS
Dois dias de atividades numa sala cheia de computadores, com pessoas trabalhando montando projetos. O primeiro dia de volta a uma sala com o nome de CEPOS na porta foi bem complicado. Impossível não lembrar daqueles meses finais de Unisinos, de olhar para uma porta fechada e de uma espécie de apagamento de uma trajetória acadêmica gigante.

Por mais que eu queira ser racional demais, teve um momento que silenciei em frente a este notebook, pensando que já havia feito isso tantas e tantas vezes naqueles tempos de Mestrado. Daí ser impossível não ter ficado quieto por alguns instantes naquele dia. Como também era impossível não fazer comparações, mesmo que eu tenha chateado uma pessoa de lá.

Realmente não sei se seria mais fácil. Não nego a ninguém que tínhamos diferenças e que havia algumas arestas a serem corrigidas para a continuação da minha parte. Porém, eu sei que não seria tão difícil. E aí de forma geral. Para seguir o avanço da EPC. Para seguir os meus avanços de vida acadêmica... Aprendi da forma mais difícil que por mais que eu seja "radical demais" e que tente lutar até ser a pessoa que, na pior das hipóteses, vá apagar a luz, tem coisas que fogem do nosso controle. E isso foi a pior lição que o meu período no Rio Grande do Sul me trouxe.

Só agora é que começo a me ver, ao menos um pouquinho, como membro deste novo Grupo de Pesquisa Comunicação, Economia Política e Sociedade (CEPOS). Em Sergipe, senti-me como se tivesse descongelado da defesa da dissertação para agora. Inclusive, esse foi um dos motivos da visita, conversar sobre as alterações naquele material para, quiçá, um futuro livro. Ouvir novamente que seu trabalho era/é muito bom - e ver a anotação do "diamante" sobre isso - após uma experiência ainda mais complicada no final do ano passado também serviu como alento.

As dificuldades se agigantaram coletivamente. Como quase sempre eu quero brigar até o fim, mas aprendi que nem sempre isso é o mais importante. A construção se dá de outras formas, seja pela produção acadêmica ou, especialmente, pela forma de se relacionar e respeitar (palavrinha difícil para qualquer área) outras pessoas. A tal da práxis, no final das contas.

E sabe se lá o porquê, uma determinada área que não dou muita bola, justamente porque fugiria do meu controle racional, resolveu sair da câmara criogênica após alguns anos criando um novo laço com Sergipe. Se sempre tive motivos para voltar, agora tenho mais um. Se os outros já não eram quaisquer motivos. Agora então...

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Professor?

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Não gosto de datas específicas, dias disso, dias daquilo. Não gosto nem mesmo do meu aniversário. Com a correria deste início de semestre letivo, nem tinha me dado conta, mas me lembraram hoje que este é o meu primeiro dia dos professores...

Li muito sobre experiências presentes e passadas de muitos colegas professorxs e de outras pessoas - quem dera se esse destaque fosse para além de um dia... Claro que também tive professorxs importantes, desde os tempos das "tias" quando criança até o Mestrado. Mas quem muito me ajudou na base foram os meus pais.

A minha mãe por me ensinar a ler e escrever lá atrás, com 5 anos. E o meu pai, que me perguntava as questões para a prova (na época do decoreba) mesmo após dias cansativos de trabalho. Ela acabou tendo "dedicação exclusiva" à família; ele virou professor depois dos 40 anos, ensinando desde então outras crianças.

Tem a universidade. Creio que agradecer aos professores do COS/UFAL e do PPGCC/Unisinos é mais do que falar à toa por conta de uma data. Apesar das experiências quase opostas, mesmos os piores professores (no ver daquele graduando de anos atrás) nos ensinam bastante. Ver os acertos, não repetir os erros e ser o melhor possível para os estudantes é quase um mantra desde que me tornei professor.

Por mais que tenha dado outras aulas antes e por mais que ser professor estivesse dentre as minhas possibilidades desde a graduação, ser professor da Universidade Federal de Alagoas não estava nos meus planos para tão logo, ainda que não seja em Comunicação.

Achava até que quando começasse um semestre para valer - já que em agosto e em setembro, a ordem era "trazer os meninos para casa", como se diz na F1 -, a ficha iria cair. Porém, ainda não. É estranho ouvir o "professor!", "professor?" e coisas do tipo. Só não é mais que ouvir o "senhor" por conta da meritocracia acadêmica, algo que eu não gosto de estimular, mas que acaba sendo automático nas relações pessoais do cotidiano. E ainda é engraçado entrar na sala, como na semana passada, e ver os rostos de dúvida, por conta da minha idade.

Claro que há muitas dificuldades, o processo de precarização da carreira segue, a falta de estrutura aparece, mas passar por este primeiro dia dos professores é um misto de alegria e satisfação profissional com responsabilidade. É muito bom fazer parte da formação de outras pessoas, possibilitar novas dúvidas, gerar novos interesses sociais e acadêmicos e, especialmente, vê-lxs aprender e aprendermos com elxs.

É uma batalha diária tentar colocar em prática parte dos princípios que acabei construindo com as boas e as más referências nas universidades, aumentar a socialização das decisões também nas salas - ainda que mantendo o limite necessário para o exercer das atividades - e dar aulas em Economia e Contábeis trazendo elementos como músicas, vídeos, memes e mashups.

Mas tudo isso vale a pena quando se faz o que gosta. Poder seguir pesquisando, agora com um pouco mais de tranquilidade, ainda mais. A partir de agora o maior desafio até o próximo dia dos professores é formalizar o tripé básico. A nova fase só começou.

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Pesquisadores realizam mapeamento da EPC no Brasil

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Mapear os caminhos dos estudos da Economia Política da Informação, da Comunicação e da Cultura em quase três décadas no Brasil. Este é o objetivo dos pesquisadores Anderson David G. dos Santos (mestre e professor da Ufal) e Joanne Mota (mestranda na UFS) em investigação iniciada em 2014 e cujo primeiro artigo foi apresentado no Congresso Nacional da Intercom em setembro, em Foz do Iguaçu, PR.

O artigo “10 anos da ULEPICC-Br: contribuições para o desenvolvimento da EPC no Brasil“ conta a trajetória da principal associação dos pesquisadores da área, destacando-a como oriunda de um processo de formação de uma rede de pesquisadores latino-americanos, partindo do Brasil, e que foi fundamental para a manutenção deste estudo crítico em comunicação.

A entidade comemora 10 anos de existência em 2014 e é pelo histórico dela que se analisa tanto as discussões geradas em seus espaços acadêmicos quanto a participação no âmbito político-institucional do país, caso do apoio ao Projeto de Lei de iniciativa popular da Mídia Democrática e a ocupação de uma das cadeiras na representação acadêmica do Comitê Gestor da Internet do Brasil (CGI.br).

O objetivo do levantamento histórico da EPC é necessário, segundo os autores, devido a duas coisas: “seja para apontar suas relações com os outros campos do conhecimento já constituídos, ou para sistematizar como se organiza a produção acadêmica no Brasil a partir deste eixo teórico-metodológico” (SANTOS, MOTTA, 2014, p. 1).

O objetivo principal


O mapeamento iniciou com a análise do capítulo Brasil da ULEPICC e da revista EPTIC-Online, esta com 15 anos de existência, e cuja primeira parte da análise (10 anos) será apresentada no encontro bianual da associação, no final de novembro, no Rio de Janeiro.

Outro ponto que é do interesse d@s autor@s é verificar como está a produção na EPC no que tange à participação de pesquisadores, grupos de pesquisa e instituições por Estado. Assim, aproveitam para convidar interessados a realizar o mapeamento em nível estadual, com destaques para Sergipe, São Paulo, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Brasília, Bahia e Piauí, onde já identificaram pesquisas sob este eixo teórico-metodológico.

O trabalho entre os dois está situado nos eventos realizados no Brasil e principal revista internacional do EPC. Além disso, segundo Joanne: “Não perderemos de vista as conexões e influências das principais correntes e escolas de pensamento do Campo da Comunicação na América e Europa.”

A posição do eixo teórico-metodológico no campo comunicacional é objetivo principal da pesquisa de Joanne no mestrado em Sergipe, que terá uma amplitude maior que o trabalho realizado. De acordo com a pesquisadora, “a parceria construída até aqui contribui, de forma significativa, para um dos eixos do meu trabalho no mestrado, que é situar a EPC no interior do Campo da Comunicação no Brasil, suas contribuições e trajetória e a inserção do referido Campo na América Latina”.

Contatos

O artigo apresentado no Congresso da Intercom está disponível nos anais do evento: http://migre.me/lX4dl.

Para entrar em contato para críticas a este artigo, sugestões à área e/ou participação no projeto, enviem e-mail para: andderson.santos@gmail.com e joannemota@gmail.com.

*** 
Texto publicado na edição nº 820 do Observatório da Imprensa.

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Os três pontos de entrada da Economia Política no futebol

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Comentei no comentário do meu último artigo publicado que a dissertação me abriu algumas possibilidades de pesquisa para além do meu objeto de estudo em si. Aproveitando-me disso, escrevi artigos em paralelo para apresentar em eventos e posterior publicação em revista. Este é mais um caso.

Ainda que a discussão reunida neste artigo esteja espalhada pela dissertação - especialmente no que tange à análise do processo histórico do futebol, lá no segundo capítulo -, aqui traço os caminhos de três conceitos básicos da Economia Política de forma geral (segundo Mosco), mercantilização, espacialização e estruturação, neste esporte. Um dos intuitos foi o de me apropriar desta bagagem epistemológica, aplicar num bem cultural de extrema relevância e conhecimento, de maneira a "facilitar" o entendimento sobre estas categorias.

Pode-se perguntar onde entra a comunicação e a Indústria Cultural nisso, mas como o desenvolvimento desta com o futebol se deu de forma paralela, seria impossível não ligar a evolução deste esporte com a presença das indústrias culturais nele em todas as três esferas, como pode ser lido no artigo.

Quanto à publicação, fiquei muito feliz por ser na revista melhor avaliada no que se refere a esportes. A Revista Brasileira de Ciências do Esporte é organizada pelo Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte, tem qualificação Qualis B2 e está indexada em importantes espaços nacionais e internacionais.

Ainda que tenha demorado para sair, dois anos contando da submissão, é um espaço de ocupação interessante já que, pelo que acompanhei de outras edições, os trabalhos que trazem algo da Comunicação geralmente são feitos por pessoas formadas em Educação Física, com uma bagagem teórica-conceitual obviamente diferente e com alguns limites.

Além disso, saiu num período que, ainda que de forma não intencional, acabei perdendo espaço no eixo teórico-metodológico que uso como base de quase todos os meus trabalhos desde 2008.

Segue abaixo o resumo do artigo que pode ser lido/baixado no site da revista:
http://rbceonline.org.br/revista/index.php/RBCE/article/view/1514


Resumo
O intuito deste artigo é analisar o futebol com base nos três pontos de entrada estabelecidos por Mosco (2009) como partes que constituem um marco teórico-metodológico para estudos sobre a economia política global: mercantilização, espacialização e estruturação. A partir destas entradas, que permitem um reconhecimento da dependência dos fatores particulares do tempo-espaço e histórico-situacional em funcionamento na realidade social e, consequentemente, nas formações sociais concretas, objetiva-se aqui analisar o desenvolvimento do futebol enquanto esporte com grande recepção mundial, com a devida importância para a Indústria Cultural como uma das principais colaboradoras neste processo.

domingo, 28 de setembro de 2014

Crónica de una muerte anunciada

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"El día en que lo iban a matar, Santiago Nasar se levantó a las 5.30 de la mañana para esperar el buque en que llegaba el obispo. Había soñado que atravesaba un bosque de hinguerones donde caía una llovizna tierna, y por un instante fue feliz en el sueño, pero al despertar se sintió por completo salpicado de cagada de pájaros".

Es así que comienza "Crónica de una muerte anunciada", libro publicado em 1981 por Gabriel García Marquez (1927-2014), basado en una historia real ocurrida en 1951 en un pequeño y isolado pueblo en la cuesta del Caribe. Sabemos que Santiago Nasar iba a morir, asesinado, desde las primeras líneas del libro.

Desde allí somos presentados a varios personajes, cada cual con una opinión distinta sobre el muerto e, especialmente, do porque que nadie consiguió avisarlo que iba a morir, afinal, toda la ciudad, y hasta nosotros lectores, ya sepa que Santiago moriría. Con pocas páginas, hasta los asesinos, los hermanos gemelos Vicários, nosotros ya conocemos.

Tuve que leer el libro, que es pequeño, para una prueba del curso de Español y pude hablar com mis compañeros de clase sobre el libro antes de la conversa con el profesor. La grand cuantidad de personajes (vea una tabla con todos ellos abajo) y, principalmente, las palabras específicas del pueblo colombiano, algunas fuera de importantes diccionarios, surgieran como grandes dificultades para el entendimiento.

Otra reclamación fueron las idas y venidas de la história, saliendo del histórico de cada personaje, desde los tiempos de escuela al día anterior; y después a la mañana del crímen a 23 años después, cuando el narrador, que era amigo del muerto, resulve escribir la crónica sobre la história. Para mí, fue algo interesante, hasta porque García Marquez fue periodista y a mí me gusta escribir crónicas, aún que con bien menos cualidad que él.

Porque mismo que sabemos que Santiago iba a morir, que los hermanos Vicário lo matarán - mismo que a veces pareça que no quieran -, hay cosas que no tenemos como saber y el misterio sigue mismo con el final de la crónica.

Pues, bon vivant, Santiago Nasar es acusado de tener rompido la vingindade de Ângela Vicário, pero no tenemos certeza que eso ocurrira en momento algun del libro, por el contrario. Ficó por la fama de galanteador. Podría ser el propio narrador, que bebió hasta altas horas con Santiago, los propios hermanos Vicario e otros amigos después de la festa de bodas? Podría ser Cristo, el amigo que no piensa que Nasar podría ir a la casa de la novía - donde finalmente descubre que estaba marcado para morir -, pero que es un de los pocos a intentar impedir los Vicários?

Otra cosa curiosa es como Ângela no quisiera esconder eso a su marido, Bayardo San Román, pero después del abandono se enamora de él e pasa a enviar cartas, hasta que él vuelve a encontrarla e nosostros no sabemos el motivo, que ocurre 23 años después. Será que fue el propio Bayardo, que salia de ciudad en ciudad supostamente para encontrar una esposa?

Con certeza, un libro para leer en otros momentos para ver se las conclusiones cambian. Aún que con formatos distintos, cuya la dúda alimenta varias investigaciones en los estudios literarios, parece con que ocurre con Dom Casmurro, del brasileño Machado de Assis - escritor de un libro cuyo protagonista sabemos que muere desde que el libro empieza, en Memórias Póstumas de Brás Cubas.

BIBLIOGRAFÍA
GARCÍA MARQUEZ, Gabriel (2003). Crónica de una muerte anunciada. Barcelona, De Bolsillo.

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Mídia, religião e o marco regulatório

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No dia 16 de setembro ocorreu o terceiro dos debates com candidatos a presidente da República. Desta vez, o local foi o Santuário de Aparecida (SP), sede da TV Aparecida, que transmitiu em rede com outros “meios de comunicação de inspiração católica”. Dentre os temas abordados, o marco regulatório da comunicação voltou a ser colocado, novamente por quem representava uma concessionária de TV.

Organizado pela Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), entidade que participou de vários momentos importantes do país e com opiniões interessantes sobre algumas questões relativas ao desenvolvimento social, o debate teve um modelo diferente dos realizados por Band e SBT. As perguntas feitas por jornalistas e por bispos/arcebispos da Igreja Católica seguiam determinados temas que refletiram a contradição entre avanços sociais e dogmas.

O problema no modelo apresentado é que só havia tempo para uma resposta sobre o tema, sem qualquer comentário por parte de outro candidato, gerando a sensação de que tal temática poderia ter uma resposta mais interessante por parte de outra pessoa não sorteada. Foi assim que os três candidatos que lideram as pesquisas (Dilma Rousseff, Marina Silva e Aécio Neves) escaparam de perguntas mais problemáticas para o espaço ocupado.

Um dos temas que gostaria de ter ouvido resposta de outra candidata foi a comunicação. No segundo bloco, dedicado a perguntas de pessoas ligadas à Igreja Católica, o tema foi um dos selecionados para o debate. A pergunta, gravada, foi realizada pelo arcebispo metropolitano da Arquidiocese de Campo Grande, bispo dom Dimas Lara Barbosa: “Existe um projeto de lei de iniciativa popular pela democratização da comunicação que pretende, entre outras coisas, proibir a concessão de radiodifusão a qualquer confissão religiosa. Com isso, todas as emissoras que nos transmitem nesse momento deixariam de existir. Qual é a sua posição sobre este ponto concreto do projeto de lei?”

Os credos religiosos e a concessão

O candidato selecionado foi o Pastor Everaldo (PSC), que, em meio à defesa da total liberdade do mercado que marca a sua candidatura, reafirmou ser contra qualquer marco regulatório do setor, chegando a citar que só podemos conhecer as “notícias que estão acontecendo todo dia” é porque elas estão no noticiário. Mal querendo saber o candidato de tantas vozes que são silenciadas em cada matéria do noticiário dos grandes grupos comunicacionais, com liberdade maior que em qualquer país do mundo, incluindo os Estados Unidos, provável modelo para seu programa de governo, que possui a FCC (Comissão Federal de Comunicações, em tradução livre) como agência reguladora das comunicações.

Voltando à questão do arcebispo dom Dimas Lara Barbosa, há duas coisas a se apontar. A primeira é que não se apresenta uma crítica à proposta de lei, destacada na pergunta como sendo algo oriundo de proposta popular. O que se foca é no ponto específico relativo à proibição de outorga a igrejas ou a instituições ligadas a credos religiosas, ao contrário do que ocorrera no caso do debate da Band (ver “Controle social da mídia aparece na campanha“).

Por mais que, infelizmente, a interpretação tenha se dado para a crítica a um novo marco regulatório – muito pelo candidato sorteado –, a CNBB participou do lançamento do projeto, em agosto do ano passado, representada justamente por Dom Dimas (ver “Pluralidade e unidade marcam o lançamento do projeto de iniciativa popular“). À época, ele afirmou: “O mais importante é o processo que está sendo disparado, no sentido de suscitar as discussões, de modo que o nosso povo assuma nas mãos as rédeas dos destinos. O que é de todos deve ser conduzido por todos.”

Partamos para a questão específica, sobre credos religiosos possuírem ou não concessão. O projeto de iniciativa popular em vários momentos se preocupa em evitar quaisquer formas de proselitismo político ou religioso através de uma concessão que é pública – espectro eletromagnético do país, espaço restrito e que, portanto, necessita de controle. O tema em si da pergunta aparece no quarto parágrafo do terceiro capítulo do Artigo 13: “É vedada a outorga de emissoras de rádio ou televisão a igrejas ou instituições religiosas e a partidos políticos.”

Outorga sem licitação

Isso ocorre pela prática construída ao longo dos anos de demora à dificuldade de fundações a conseguirem concessões de rádios e TVs comunitárias e educativas. Com maior facilidade caso estejam ligadas a grupos políticos ou religiosos que podem usar suas relações de poder. Lembrando ainda que, nos casos das educativas, não se é necessário passar por processo de licitação, por mais que seja um espaço público.

Isto, inclusive, foi tema de ação civil pública por parte do Ministério Público Federal na 1ª Vara Federal em Guaratinguetá, em 2011. O pedido de ajuizamento foi para que fossem declarados nulos os processos que culminaram com as concessões às TVs Canção Nova(Fundação João Paulo II) e Aparecida (Fundação Nossa Senhora de Aparecida), ambas com sede informada em Cachoeira Paulista-SP, realizados em 1997 e 2001, respectivamente.

O procurador da República Adjame Alexandre Gonçalves Oliveira, autor de ambas as ações, baseou-se no artigo 175 da Constituição Federal, que diz que a concessão de serviços de natureza pública requer obrigatoriamente licitação; enquanto o Governo usa o artigo 14 do Decreto Lei 236/67, que trata dos canais de televisão educativos. Algo que, inclusive, demonstra o problema da falta de renovação da regulação do setor, até porque 1967 marca a última reforma/acréscimo ao Código Brasileiro de Telecomunicações, promulgado em 1962, há distantes cinco décadas.

Para o MPF, somente a licitação dos canais educativos permitiria à administração pública selecionar a entidade mais capacitada tecnicamente e que apresente o melhor projeto educacional. Gonçalves afirma que o pedido de cassação das concessões não teria nenhum vínculo com o tipo de conteúdo transmitido pelas emissoras, mas com o fato de terem sido outorgadas sem licitação, “o que põe em xeque a utilização democrática e transparente desse meio de comunicação, que é eminentemente público”.

Regulação não é censura

À época, o Estado de S.Paulo comentou o processo, destacando também que, segundo o MPF, mesmo no caso de se considerar apenas o Decreto Lei 236/67, a escolha deveria ocorrer de acordo com a melhor proposta de conteúdo educativo. Como ambas as emissoras veiculam, dentre outras coisas, missas, terços e programas religiosos, o conteúdo se deslocaria da proposta deste tipo de concessão. De acordo com buscas pela internet, o processo seguia tramitando no Tribunal Regional Federal.

Voltando às propostas para uma lei de uma mídia democrática, há uma segunda preocupação, talvez até um pouco maior, dada a conjuntura atual, que se refere à compra de horários por grupos religiosos neopentecostais. Pegando um caso recente, a Rede CNT (Central Nacional de Televisão), com sede em Curitiba-PR, alugou/arrendou, no primeiro semestre, 22 horas de sua programação diária para a Igreja Universal do Reino de Deus – cujo grupo é proprietário da Rede Record de Televisão, ainda que só use (oficialmente, também comprando) a faixa da madrugada. Está na lei da radiodifusão o limite para 25% da programação para a publicidade. Um grupo compra o equivalente a 83% disto, e este não é um caso isolado, refletindo mais um dos vários problemas na regulação do setor – que se trata da verificação do funcionamento da legislação sobre determinado setor.

A proposta de parágrafo único no artigo 22 do Capítulo V do projeto propõe o seguinte:

“A regulamentação estabelecerá limites de tempo e demais regras para veiculação de programas visando propaganda de partido político ou propagação de fé religiosa, respeitando os princípios de pluralidade, diversidade e direitos humanos, e a proibição a qualquer tipo de manifestação de intolerância, nos termos da Constituição, desta lei e outras leis relacionadas”.

Ou seja, ao contrário do que se coloca como interpretação por parte de quem é concessionário de radiodifusão, não há uma censura contra este tipo de programação, mas que se tenha um limite de tempo e, especialmente, regras para evitar o proselitismo religioso e uma série de intolerâncias que são proferidas por conta disso.

Destaco isso, inclusive, porque quando se pensa numa estrutura midiática mais democrática não se trata de substituir um autoritarismo por outro. Quer dizer, se agora temos mais acesso ao conteúdo escolhido por quem tem poder de alcançar uma concessão e recursos para manter produtos e divulgação de qualidade, não é acabando com tudo isso e tendo só programas com discurso contra hegemônicos que tudo se resolverá. Levando em consideração o sistema democrático vigente – e suas inúmeras contradições ligadas ao capitalismo –, só a aplicação da divisão igualitária entre meios públicos, estatais e privados já apresentaria uma diferença significativa, mesmo considerando a necessidade de se delimitar o que seriam mídias públicas e estatais quando se vê como foi apropriado por grupos políticos e religiosos o conceito de educativo.

A existência de um marco regulatório se apoia na necessidade de renovação das normas legais sobre a radiodifusão, aplicando novas interpretações até mesmo pelo imenso avanço tecnológico de 52 anos após a promulgação do CBT; mas também da aplicabilidade e regulamentação do que consta na Carta Magna deste país, em que quatro dos cinco artigos do capítulo dedicado à Comunicação Social ainda não foram regulamentados. Por fim, regulação não é censura, mas a verificação do funcionamento da legislação sobre determinador setor econômico, essa importância sendo aumentada se o mercado funciona a partir de uma concessão pública.

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Texto publicado na edição 817 do Observatório da Imprensa.

sábado, 20 de setembro de 2014

Casa dela, Vida dela

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Já contei por aqui - especialmente na época em que podia me dedicar a este espaço - o quanto as pessoas costumam se aproveitar de mim para desabafar. Ah, falo isso dos casos de quem nunca vi na vida e resolvem falar sobre o tempo, reclamar sobre as demoras de ônibus, falar sobre a filha que já viaja para outros Estados por conta da universidade, etc. E isso para além dos taxistas e até como referência para ajudar a ficar de olho em coisas alheias.

Gosto de ouvir histórias, é para contá-las que o Jornalismo sempre me atraiu, não como escritor, criando algo, mas esse processo de recriar é o que sempre me estimulou. Mas em alguns casos fico surpreso, pois não adianta eu estar com barba para fazer, com boné, de bermuda ou todo "certinho" aos moldes morais locais.

Hoje foi um caso desses. Voltando da aula do Espanhol, pensando nas coisas cotidianas e relembrando a música de hoje, tentando fazê-lo nesta língua para melhor adaptação e criar costume, do nada aparece alguém no meio do caminho para falar das pessoas que são relaxadas e acabam vivendo como reis ou rainhas nas casas alheias. Não adiantou nem eu ultrapassá-la a pé e ir no meu ritmo normal, mais acelerado. Mesmo segurando um ventilador com uma mão e uma sacola cheia com a outra, ela me seguiu e falou, falou e falou por uns 5 minutos.

"Eu sempre morei na casa dos outros, mas sempre ajudava. Tem um irmão que não faz nada. A pessoa chega com fome e não tem comida e ainda tem que fazer a comida também para a outra pessoa. Morava na casa dos outros, mas limpava a casa, comprava uma coisa ou outra, não deixava nada bagunçado".

Percebi que ela já tinha "pego" uma senhora que ficava aguardando o pessoal à frente de uma igreja, mas deve ter visto que eu seguia o caminho dela e aproveitou esta pobre alma para desabafar. Eu demorei a entender qual era o problema.

"Eu morei na casa do meu irmão, aí ele casou, a mulher começou a criar problema e eu resolvi sair. 'Não dá mais, prefiro morar sozinha'. Meu outro irmão - não esse que morei, outro - veio morar comigo. Se fosse só ele, tudo bem, mas resolveu se casar agora. Chego em casa do trabalho e não tem comida, nem um café pronto! Sempre morei na casa dos outros, mas sempre fiz as coisas para ajudar, é o mínimo. Chego em casa e até o menino fazendo xixi dentro de casa já vi e ela lá deitada no sofá vendo televisão, com roupas jogadas no chão. Aquele fedor de rabujo... Vou mandar embora, prefiro viver sozinha mesmo. Lá em casa não tem sanitário, é um buraco, mandei fazer uma piazinha para lavar roupa também, mas é meu".

Sem paciência por conta de uma semana complicada, a cada distanciamento para atravessas as ruas eu imaginava que era sairia, seguiria o caminho dela, mas não.

"Hoje eu fui nesse Minha Casa Minha Vida da Caixa, eu tinha que pagar 300 reais de documentos, mais 250 de outro, no final ficava 1600 reais direto assim. Queria melhor, mas a Caixa só quer pessoas que são diferentes da realidade desta parte. Dali para cá até pode ser, mas para lá, ter alguém que ganhe de 2 a 3 salários mínimos? R$ 350 por mês.

Passei pelo cruzamento mais perigoso e eu imaginava que ela iria para o ponto de ônibus. Não. Continuou me seguindo, especialmente após passarmos pelo espaço que a Caixa tinha ocupado neste sábado.

"Tá vendo? Tá vazio. Ninguém tem condições assim. Queria só encontrar um governador desses para reclamar. Veja como a casa é até bonita, mas não dá. E tem que ter o nome limpo. Graças a Deus eu tenho o meu nome limpo. Estive no HSPC ano passado. Fiz um cartão na loja da Mangabeiras, você saber, a loja E? Eles me ligaram perguntando se eu queria um plano de saúde e eu quis. Minha irmã não quis porque já tinha o Pré-Vida [plano funerário]. 65 reais. Eles disseram que se não quisesse podia cancelar. Ano passado teve greve dos Correios, nada chegava, fui lá e estava em 265 reais. Fui no Procon para reclamar e eles disseram que eu estava errada. Paguei e você acredita que eles ainda ligaram para me cobrar? Eu falei que eles tinham que saber que eu tinha pago, porque para cobrar a mais sabiam. Graças a Deus que eu não precisava tanto do dinheiro, quer dizer, fez falta, mas não tanta".

Quando eu já não esperava, ela passou para o outro lado. Deu-me tchau e eu a desejei boa sorte, tendo a mesma resposta de volta.