Pensei várias vezes sobre como começar o texto sobre o título do Palmeiras nesta Copa do Brasil. Começar pelo "Palmeiras, a minha vida é você" e/ou pelo "Eu canto, eu sou Palmeiras até morrer", quem sabe por falar de todos zilhões de problemas que o clube teve ao longo desta campanha e, quem sabe ainda, relacionar o período ruim do clube com uma trajetória pessoal também cheia de problemas a partir dos anos 2000.
Sinceramente, parece que não "caiu a ficha", mas vamos lá. Este texto, ao contrário da semana passada, eu sempre quis poder escrever e espero poder ter de dormir mais tarde nos próximos meses e anos, porque eu estou tão extasiado que mal consigo dormir - por mais que o resfriado tenha se agravado porque a 7º C eu queria ficar só com a camisa palmeirense, nada de casaco!
Mas vamos lá. Para começar, o Palmeiras voltou a jogar em Maceió após 14 anos. Em 1998, ano do nosso até então único título da Copa do Brasil, o time estreou vencendo o (glorioso) CSA por 1 a 0 no Rei Pelé. A campanha terminou com a vitória de 2 a 0 contra o Cruzeiro, com um gol totalmente sem ângulo do Oséas. Este ano, voltamos a estrear em Maceió, com um novo 1 a 0, só que contra o Coruripe. Há 14 anos, eu morava em Aracaju-SE, agora eu moro em São Leopoldo-RS. Só pude mandar as minhas "energias" para os amigos palmeirenses que ficaram por lá e que foram ao Rei Pelé, local o qual eu tanto gosto.
Em 1998 eu tinha dez anos e seria capaz de matar e morrer pelo Alviverde Imponente. A tranquilidade só veio após o título da Libertadores de 1999. Falo isso porque eu ficava com as mãos geladas, corpo trêmulo, independente se a partida não valia nada ou se era final de campeonato. Pesou muito a reviravolta na vida, com o retorno para Maceió após quase dez anos morando na vizinha Aracaju. Só retornou o nervoso ser palmeirense em 2002 e 2003, com a queda e o título da Série B.
Ah, como comprovação da minha má sorte histórica, dias antes da final da Copa dos Campeões, contra o Sport em Maceió, a TV do meu quarto pifou e, além disso, meus pais precisariam viajar para Aracaju para resolver os últimos trâmites da venda da nossa casa de lá. Com 12 anos, e sem qualquer outra alternativa de companhia, acabei vendo pela TV o título conquistado há 20 minutos a pé de casa...
Como disse acima, os anos de Maceió, por mais que hoje os veja como essenciais para a minha formação estudantil e/ou pessoal, deixaram marcas muito fortes. Para piorar, foram anos em que o Palmeiras "campeão do século XX" pouco me dava de alegria. Nos últimos anos, costumava dizer que as más fases de Palmeiras e CSA - que aprendi a ser torcedor de verdade nas agruras da Segundona de 2010 - "facilitavam" o lado jornalista esportivo.
SOFREDOR DE CARTEIRINHA...
O ano e quatro meses de Rio Grande do Sul não vêm sendo tão fáceis, já passei por "crises" que eu nunca havia sofrido até então. Para piorar, no mês passado eu achava que se não teria a solução de todos os meus problemas, poderia ter algo que me fizesse esquecer deles mesmo que por alguns preciosos instantes - que até existiram no pouco que a efêmera alegria durou. Para variar, estava mais uma vez errado e tudo revirou novamente.
Uma partida importante foi Grêmio X Palmeiras, aqui no Rio Grande do Sul. Na dúvida por ir ou não, acabei não indo por falta de mais e melhores informações, além de não conhecer nenhum palmeirense além de mim por aqui! Vencemos e eu me senti tão bem quanto na época das glorias da cogestão com a Parmalat. Era incrível, mas o pessimismo que tomou este ser humano ainda estava lá.
Na volta, aconteceu tudo de errado para mim. Uma grande expectativa sucumbiu no final da tarde e eu cheguei no apartamento com vontade de enterrar a cabeça no chão. Além disso, tive que ouvir o jogo no quarto porque estávamos com visitas. Uma delas era uma criança de cinco anos que resolveu, em meio ao jogo, entrar no meu quarto e acender e apagar a lâmpada. Mal pude gritar - não com a criança, que eu achava até engraçado e que não tinha nada a ver com todos os problemas. Só na hora do gol de empate do Valdívia é que saiu um grito! No final, nem os minutos de acréscimo foram suficientes para os tricolores. Kleber traíra e profexô Luxemburgo, adiós! A vontade era gritar pela janela contra todos os gaúchos em volta, mas me segurei, até mesmo porque moro com um e ainda tenho alguns meses para terminar a dissertação numa universidade local...
Contra o Coritiba, o favoritismo era todo deles. Nos últimos anos, o vice-campeão da Copa do Brasil anterior que chega à final no ano seguinte geralmente se torna campeão (caso do Corinthians, por exemplo, em 2009). Além disso, é indiscutível que o Palmeiras é uma ilha cercada de problemas, principalmente internos, por todos os lados. Mas a confiança estava ali.
Vamos então à lista dos problemas até ali. Valdívia sofreu um sequestro-relâmpago e quase desistiu de jogar com a camisa do Palmeiras, voltou no segundo tempo do jogo de volta contra o Grêmio; Luan e Marcos Assunção saíram machucados, sozinhos, na partida contra o Vasco, que antecedeu o jogo decisivo contra o tricolor gaúcho; Henrique, que deu jeito nas falhas de marcação e na saída de bola ao se tornar primeiro-volante, foi expulso por ter levado um soco na partida anterior.
Como "nada é tão ruim que não possa piorar", o centroavante de qualidade que esperamos desde 2004, teve uma crise de apendicite no dia do primeiro jogo da final, tendo que se submeter a uma cirurgia. Quando vi isso, agradeci por já não acreditar em divindades, por que já não bastava o arquirrival ter ganho a Libertadores no dia seguinte, a minha vida pessoal está uma porcaria - com sérios confrontos entre razão e emoção - e os problemas tirando senha para quem iria ser resolvido primeiro?
Eu posso viver tendo que encontrar várias pedras no meio do meu caminho, posso me desesperar nos primeiros momentos, mas sempre tento arranjar forças para seguir me levantando, sempre dando aquele grande passe em meio a cinco passos para trás:
"Conversando com o Victor Guerra agora e serve para os demais torcedores palmeirenses, caso do Bruno Martins. Todos os desastres do mundo estão acontecendo com o Palmeiras, sequestro relâmpago, lesão em partida do Brasileiro, expulsão totalmente injusta e crise apendicite num centroavante que esperamos há oito anos.
Mas não dá para esperar mais. Nem que eu vá a Coritiba na semana que vem para ser o centroavante que o time precisa. Nem que eu deixe o bigode (ridículo!) crescer para emular o Valdívia, o Felipão e o Murtosa. O sofrimento é grande, mas a Copa do Brasil tem que ser nossa, cáspita!"
GANHAMOS, POR_ _ _
O começo do jogo na Arena Barueri foi assustador. Imaginava que o time tinha que jogar tudo o que sabia para conseguir um bom resultado, mas foi justamente o contrário que ocorreu. Comecei a partida assistindo de pé e fui sentando ao longo do primeiro tempo. No final, Betinho (!) sofreu pênalti e Valdívia converteu. Se o 0 a 0 seria excelente, o 1 a 0 foi mais que excelente, se é que isso existe.
No segundo, voltamos com uma postura muito boa, dando poucas chances a um Coritiba que erroneamente apostou na lentidão, ainda que com um pouco mais de qualidade no passe, de meias como Lincoln e Tcheco. Ainda teve aquela bola do Assunção, que desviou no ex-jogador do Palmeiras que citei há pouco e alcançou a cabeça do Thiago Heleno. 2 a 0, com direito a pênalti claro não dado para o Coritiba - e que causou um chororô que me irritou profundamente, afinal, precisa dizer o quanto nós fomos claramente prejudicados e azarados nesta competição? Valdívia, em dias de Mago, ainda teve a capacidade de ser expulso... Ah, e um gol perdido pelo Maikon Leite que... No domingo ainda conseguiu sofrer uma lesão aos 47 minutos dos segundo tempo contra a Ponte Preta!!!
Luan voltou a trabalhar com bola na segunda-feira e Maikon Leite iria para o sacrifício, caso precisasse. Ambos começariam a partida na reserva, com Betinho e Mazinho formando a dupla de ataque; Henrique voltando no lugar do Márcio Araújo e Daniel Carvalho no lugar de Valdívia, expulso na partida de ida - o que prejudicou o time, pois a possibilidade de mais gols nos contra-ataques era muito clara.
Continuei a dialogar com amigos palmeirenses em Maceió. Por mais que eu pensasse e as pessoas me dissessem que o Palmeiras estava com "uma mão e meia na taça", eu dizia que estávamos com alguns dedos. Afinal, aqui é Palmeiras e este torcedor/sofredor sou eu. Não lembro a quantidade de vezes que tive que me controlar para não pensar no que faria caso conseguíssemos o título. Mais que isso, para equilibrar, pensava também o que faria caso perdêssemos, já que todas as vezes que pensei em "grandes momentos", eles não ocorriam...
Um amigo biólogo está num projeto em Trinidad e Tobago e mal sabia que o Palmeiras estava na final. Contei para ele os detalhes de como chegamos nela e do primeiro jogo da final, porque só pode acessar o e-mail por lá. O início da resposta dele aos meus detalhes: "Pelo amor de deus! Vai ser muito sofrimento!"
Um amigo biólogo está num projeto em Trinidad e Tobago e mal sabia que o Palmeiras estava na final. Contei para ele os detalhes de como chegamos nela e do primeiro jogo da final, porque só pode acessar o e-mail por lá. O início da resposta dele aos meus detalhes: "Pelo amor de deus! Vai ser muito sofrimento!"
A pilha estava com carga máxima desde o final do jogo anterior, mas na terça-feira passei o dia inteiro cantando, vendo vídeos da torcida, olhando imagens de títulos anteriores, para lá de emocionado com a possibilidade de finalmente ter a alegria de um título do Palmeiras que tanto amo desde criança. Isso foi bem mais que o dia 04 de maio de 2008, quando eram os tabus de Estaduais de CSA e Palmeiras no mesmo dia em campo. Mais até do que o jogo contra o Sport, em Garanhuns, que acabou por definir o nosso acesso à Série A em 2003.
Na quarta, consegui dar uma acalmada indo para a universidade, conversando com alguns colegas, mesmo que três deles, do outro grupo de pesquisa que conforma a nossa linha no PPG - um é da UFRGS, mas dialoga com o pessoal -, tivessem me lembrado e perguntado como eu estava para o jogo: "Muito ansioso, desde ontem". Ah, acompanhar as "baboseiras" do Demóstenes também serviram para desanuviar...
Cheguei em casa, falei com um amigo palmeirense pela internet e comecei a respirar fundo, questionando-me o quanto aguentaria até horas mais tarde. Na hora do jogo, no apartamento só estava eu, já que os meus amigos ainda estavam na universidade.
A marcação palmeirense começou muito bem, principalmente com as minhas orientações de pé em frente à TV rs. Era um "tira, tira", a cada escanteio ou lançamento para a área. Um "isso" quando alguém conseguia desviar alguns centímetros para além da direção do gol, com direito a palmas. Um "vâmo" quando o time ia para o ataque. E o bom e sonoro "uh" quando o Marcos Assunção ia para as cobranças de bola parada, que também tiveram "ish", como quando o Rafinha fez a única chance de perigo deles no primeiro tempo ou quando o Betinho desviou a bola daquele jeito, ainda que sozinho.
Desta vez, não tuitei nada durante todo o primeiro tempo e vi alguns recados depois. Faltavam 45 minutos para eu e o time aguentarmos.
O Coritiba esboçou uma pressão inicial, com o Palmeiras mal conseguindo passar do meio-campo nos primeiros 10 minutos, em que a marcação rival estava bem adiantada e atuando com forte pressão. A entrada do Lincoln, que entra na lista do "traíra" já citado, ajudou-os. Numa jogada, ele ia passando por três e foi derrubado. Na cobrança, Ayrton colocou no cantinho. Indefensável para o Bruno. Mais uma vez a cabeça fazia o trajeto de todas as "tragédias" recentes, do Palmeiras e as minhas. No fundo, o "não é possível" aparecia.
Mas sabe a frase que está na imagem inicial deste post? "Sabe sempre levar de vencida para mostrar que de fato é campeão" deu o ar da graça.
Falta na entrada da área e eu comento: "Vamos lá Assunção, o gol tem que sair agora. Você já fez tantos decisivos e importantes, eu sei, mas a hora é agora!". Assunção bate a falta, alguém desvia e eu vejo a bola tocar a lateral do gol de Vanderlei. "GOOOOOOOOOOOOOOOOOLLLLLLLLL".
Saio correndo para a sala e dar um pulo socando o ar, comemoro mais ainda balbuciando palavrões e volto para tuitar o gol do... Betinho! "Só podia ser ele. O cara é pior que eu, mas tinha que fazer esse gol, para não restar dúvidas do nosso sofrimento".
Minutos após minuto, esses que eu olhava a cada instante desde a primeira partida em São Paulo, o time foi tomando conta do jogo, com direito a ensaios de "Olé" da nossa torcida - muito prejudicada pela diretoria, que prefere os "amigos" para vender ingresso que nosotros que torcemos e sofremos sempre. O coração estava acelerado. A mente deste pessimista inveterado não acreditava no que estava para acontecer. Alguns pulos vieram para manter o corpo aquecido, já que larguei o casaco de lado para ficar só com a camiseta que iniciou esta temporada.
"Acaba, acaba!". Eu saí correndo para mais uns pulos. Optei por não gritar por conta dos meus amigos e também porque por mais que eu tivesse pensado nessa situação, não conseguia acreditar. Uma alegria nesta vida! Um título do Palmeiras! Meus pais me ligaram e eu não sabia o que falar. Lágrimas caíram na hora. Tentei falar com um amigo palmeirense, mas o celular não estava ligado.
Olhei rápido para o Twitter, vi alguns parabéns e soltei um palavrão por lá - algo que nunca fiz! Eu tremia, numa mistura de frio com a emoção do momento. O coração não aguentava, o cérebro não acredita. Larguei tudo que tenho aqui do Palmeiras em cima da cama e pulei por cima. "CAMPEÃO INVICTO!".
MINHA VIDA
Surpreendi-me com a quantidade de pessoas aqui no Rio Grande do Sul que falaram comigo em algum momento sobre essa final, com algumas delas me dando sorte. Afinal, aqui não tenho uma ligação tão forte com o clube quando tenho com os nordestinos de Maceió, Aracaju e Salvador. Tenho certeza que os amigos da época de infância em Aracaju, alguns de Salvador, e os parentes de Maceió lembraram de mim nessa hora, com um "o Anderson deve estar pulando de alegria agora".
O pessoal dessa época, os meus pais e minha irmã ainda mais, sabem o quanto a Sociedade Esportiva Palmeiras significa para mim. Alguém que, pelo menos, aos seis anos de idade viu na tela da TV o verde e branco do Palestra Itália em campo e mais que uma paixão, transformou isso num amor eterno, para a alegria de título de Libertadores, à tristeza de um rebaixamento à Série B. SEMPRE eu estive torcendo, sofrendo, xingando, vibrando, comemorando, jogando-me no chão ou dando pulos e socos no ar para comemorar.
Uma das minhas grandes alegrias da vida foi ter visto o Palmeiras em campo no ano passado pelas primeiras vezes, no Canindé e no Olímpico, com direito à visita e pisar no gramado do Palestra Itália em obras. Poder ter visto São Marcos em ação, então, nem se fala. Mas, com tantos "pesares" dos últimos tempos, poder ter uma alegria desse nível, com tudo encaminhando e confluindo para dar errado, é espetacular.
OBRIGADO, PALMEIRAS, POR EXISTIR!
PALMEIRAS CAMPEÃO (INVICTO) DA COPA DO BRASIL 2012!
Um texto que representa a alma do torcedor.
ResponderExcluirUma conquista contra tudo e contra todos. De adversidades que derrubariam qualquer time, mas o Palmeiras não.
Assim como você, gritei pela casa, comemorei lateral, bati palmas e lavei a alma ao final do jogo.
Tem certas alegrias que só o time do coração pode proporcionar e quem não entende a emoção sublime, o limar entre a alegria e a tragédia de perder, e considera o futebol e a paixão que emana dele um mero esporte, os meus sinceros pêsames. Perde uma parcela, um pedaço da vida que, na minha vida e opinião, é fundamental.
O time só não acompanha você há mais tempo do que pai e mãe, é mais antigo do que qualquer outro amor que se desenvolve durante a vida.
Um amor que vem da infância, que não chega por influência de A, B ou C; mas daquela criança que você foi e vidrada na TV assistia uma geração que encantava, como a dos anos 90 fez conosco.
As adversidades, o jejum, a limitação do elenco, a luta e garra dos jogadores transformam esse título num dos mais marcantes que eu vi.
E quem contesta o maior campeão do século XX e do Brasil? Só um bando de loucos, HAHAHAHA
Olha que eu nem acho o futebol "alienante". Eu pesquiso este objeto com o maior cuidado possível, mas seria impossível não ser torcedor - ainda bem. Muito bom o seu comentário.
ResponderExcluirAmigo, me emocionei muito com seu texto. Só um bando de loucos mesmo para contestar, Bruno Martins. hahaha.
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