domingo, 8 de julho de 2012

[Em busca do El Dorado] "Não tem casamento amanhã?"

Apesar do título, este texto trata de mais uma experiência minha dando aulas aqui no Rio Grande do Sul. Desta vez foi para a outra turma da Especialização em Televisão e Convergência Digital e com um tema bem mais amplo: Comunicação e Processos Socioculturais. Como nada são flores para este que vos escreve, ainda mais na atual "fase", a experiência dos dois dias de aulas, sexta e sábado, ficarão registradas.

A primeira coisa quando me propuseram substituir um amigo neste módulo foi saber quais eram os horários, se tinha de ser sexta à noite, mais manhã e tarde de sábado. Afinal, da primeira vez, mostrou-se bastante cansativo, para mim e para os estudantes, o sábado inteiro, com uma hora apenas de intervalo para o almoço. Descobri durante a semana que era a noite da sexta e a tarde do sábado. O que é importante para dar uma "quebrada", por mais que isso não ocorresse para o pessoal.

Quando surgiu a possibilidade, disseram-me que poderia usar a aula anterior para esta. Porém, como eu sempre gosto do mais difícil, fui saber o que já haviam dado e seria bem complicado voltar à "Regulamentação e políticas públicas", já que eles tiveram aulas sobre a legislação que rege (?) a comunicação.

A partir disso, resolvi apostar numa relação mais histórica para o início, apresentando a relação, que não é "natural", entre o homem, ser social por definição, e a comunicação. Como o ato de comunicar foi se desenvolvendo, de forma a criar técnicas que servissem de intermediação entre o homem e quem encontrasse os seus vestígios históricos.

Depois disso, bastava seguir o rastro dos meios de comunicação, com um pouco mais de cuidado sobre as "máquinas de visão", de forma a destacar que uma mídia não surge do nada e geralmente não acaba com a anterior. O rádio chegou como primeiro meio realmente "massivo" e o primeiro a ser utilizado para fins políticos, através da sua capacidade de recepção. No caso brasileiro, grande destaque para Getúlio Vargas e sua Rádio Nacional, que foi apenas uma das ações para tentar "mascarar" a ditadura do Estado Novo junto com apropriações de símbolos culturais como samba, capoeira e futebol.

No fim, falar da Rede Globo de Televisão dentro do contexto de um meio de comunicação que tecnicamente consegue gerar uma credibilidade por conta da junção que conforma o audiovisual. Óbvio que não dava para esquecer das relações políticas envoltas à emissora das Organizações Globo e algumas das histórias disso, caso das Diretas Já e da própria relação com a ditadura militar no Brasil. Afinal, foi nesse contexto, que sua hegemonia se definiu, por mais que não seja algo diretamente ligado, ou seja, que a Globo tenha ganhado suas concessões nesse período e colocada ao ar diretamente para servir aos militares. A questão é mais simples: a emissora liderou um processo de industrialização nacional do setor e não tinha qualquer interesse em mostrar agruras vindas do processo ditatorial. É o que Caparelli, se não me engano, chama de "simbiose do político com o econômico".

Para o dia seguinte, já imaginando um cansaço maior do pessoal, optei por diminuir a quantidade de conteúdo e apostar mais num certo improviso, de forma a utilizar exemplos de como dentre as milhões de porcarias que surgem na internet no cotidiano, há coisas importantes, com debates críticos. O problema é saber que elas existem e ter o interesse, e a paciência, para procurar.

Como a Especialização é em TV e Convergência, optei por dedicar um tempo para apresentar os problemas na legislação sobre o setor, que impediriam uma maior produção realmente cultural, com diversidade em vários níveis. Além disso, mostrei alguns programas "exemplares" de como não seria tão difícil realizar algo diferente, caso do "Levante a sua voz", audiovisual feito pelo Intervozes e de programas como Castelo Rá-Tim-Bum, Observatório da Imprensa e Ver TV.

A apresentação está disponível na Internet, já que foi feita pelo Prezi.



Vamos aos pesares
Depois de alguns dias com um veraneio em pleno inverno no Rio Grande do Sul, a partir de quinta-feira o tempo esfriou. Como sorte para este escriba é algo que não existe, na sexta-feira não só estava frio, como choveu bastante e estava ventando muito. Para se ter uma ideia, as estações finais de trem de Porto Alegre estavam, ao menos até ontem, fechadas porque a bomba de sucção pifou e a quantidade de água entre os trilhos depois da Estação Farrapos era imensa. O "melhor" é que só descobríamos isso quando já estávamos dentro do trem. Eu desceria na penúltima estação em funcionamento, no Aeroporto, mas vi muitos desesperados por não saber o que fazer.

Porto Alegre já tem trânsito insuportável no horário de pico, com vias importantes fechadas, o negócio piorou. Para se ter uma ideia, os alunos da Especialização só começaram a chegar mesmo depois das 19h15 - as aulas começam às 19h. Quando cheguei na sala só tinha uma pessoa, porque ela é de Caxias do Sul, Serra Gaúcha, e opta por chegar bem mais cedo, porque é impossível chegar na hora se contar com as normais 3 horas do percurso para POA.

Sobre a aula de sexta à noite, por mais que eu tentasse explicar-los que a comunicação para se efetivar necessita de um diálogo, portanto, eu enquanto professor (como é estranho ouvir o pessoal me chamando de professor!) precisava ouvi-los para saber se eles estavam entendendo ou não; ou se discordavam de tudo aquilo, nada de alguém falar qualquer coisa.

No intervalo veio a frase que dá título a este post. Uma mulher da turma perguntou à outra se não teria nenhum casamento no dia seguinte. A outra fez uma cara de que "o professor está na sala". Todo mundo riu, inclusive eu, principalmente pelo "eu nem estou vermelha" haha. Dá-lhe explicar que eles já haviam saído em comboio para o "casamento", como forma de sair mais cedo.

Depois do intervalo, bastou falar dos programas de TV, casos da estreia de Fátima Bernardes e Pedro Bial, que o pessoal participou. Um alívio para quem falava há horas sem quaisquer reações e com poucas pessoas olhando para você lá na frente.

O sábado foi de tempo mais tranquilo, ainda frio, ainda nublado, mas com uma chuva mais fina e que logo parou. Eu imaginava que a aula começava às 13h, mas o pessoal só chegou do almoço às 13h30. A pessoa do casamento não apareceu, mas eu fiz a piada do mesmo jeito, de que "pegaria mais leve" naquela tarde, optando por coisas mais práticas.

O problema é que aquela era a última aula deles, já que na semana que vem o curso acaba com a apresentação dos artigos da Especialização pelos estudantes, e a vontade sobre algo mais teórico não estava nos planos deles.

Na metade da aula, por volta das 15h30, metade da turma foi embora sem qualquer explicação. Foi tão estranho que uma das estudantes me perguntou se era intervalo ou a aula tinha acabado, dada a debandada. A minha resposta foi "era para ser intervalo".

Ainda assim, continuei com os que ficaram até sobrarem apenas eu e mais duas pessoas, pouco mais de meia hora antes do horário marcado para acabar. Ao menos neste dia o pessoal que apareceu participou um pouco mais da aula, com alguns mostrando mais interesse para coisas em particular, como a digitalização da TV.

Ah, e no intervalo descobrimos que quem quiser sair do Facebook até pode cancelar a conta, mas ela continua existindo, já que você pode ser marcado por quem quiser e até voltar a logar sem preencher cadastro algum. Quer prova maior que essa que a internet não é ambiente de tanta liberdade assim?

5 ANOS
Ainda pretendo escrever um post especificamente sobre isso, mas na quinta-feira o Dialética Terrestre (antigo Terra: o planeta e seus interessados), este blog, completou cinco anos de existência. Cinco anos servindo como válvula de escape para mim, dando poucos, mas valiosos leitores e até que algum reconhecimento para algo que não pretende servir como instrumento excessivamente profissional.

Apesar de todos os problemas das últimas duas, três semanas, "o pulso ainda pulsa!"

2 comentários:

  1. Anderson, please, me inclua entre seus novos leitores aqui no DT.
    Há braços!

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  2. Incluo sim, mas só me diz o nome, por favor... Obrigado por escolher ler o Dialética.

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