Nos
últimos dias fomos inundados, novamente, por informações sobre os
ataques terroristas às torres gêmeas do World Trade Center. É um
dos acontecimentos que todos lembram onde estavam e a reação de
surpresa ao ver na televisão um país em que todos pensavam ser uma
fortaleza ser inexplicavelmente derrotado pelo mínimo de tecnologia
bélica, um Davi X Golias que assustou quem estava confortavelmente
no lado do Ocidente.
No
momento, assisto ao primeiro dia de um evento na Unisinos “11 de
setembro: Dez anos depois. O que mudou?”. Como este devem ter várias mesas e
palestras em todas as partes do mundo sobre o assunto. Textos,
vídeos, fotos, então...
Achei
curioso, e daí escrever um texto sobre, a apresentação do
historiador Cláudio P. Elmir. Bisneto de libaneses, ele afirmou a
dificuldade de se contar historicamente este evento, mesmo que se
veja um pouco antes ou um pouco depois. Segundo ele, “O 11 de
setembro não cabe em si mesmo, ele é apenas um indício. […] A
guerra contra o terror talvez tenha sido apenas a mais evidente”.
Não se
daria para dizer que se a eleição, fraudulenta, George W. Bush não
tivesse sido confirmada ou se Osama Bin Laden fosse morto na década
de 1990 se isso teria ocorrido. Abro um parêntese para lembrar de um
professor de História de Ensino Fundamental que dissera em aula no
ano anterior que “o Bush tinha cara de louco, parece que quer
arranjar uma guerra a qualquer custo”. O 11 de setembro e suas
guerras consecutivas me lembram sempre disso.
Voltando
a Elmir, ele aborda o Outro lado deste acontecimento, que fez com que
o mundo ocidental se unisse em torno dos estadunidenses, que tanto
nos governos Bush ou Obama não deixariam de destacar o caráter de
vingança. Encerrou ele: “We can [da campanha de Barack Obama]
serve para muitos propósitos, inclusive para a caça bem sucedida do
líder máximo da Al Qaeda. […] Nesta cruzada liderada pelos EUA,
ainda assim, os fundamentalistas são os outros. […] Cabe
questionar: fundamentalistas são os outros?”.
A seguir,
o cientista político Carlos Alfredo G. Castro lembra que o líder da
Al Qaeda tão perseguido, e cuja morte foi tão comemorada, foi
colaborador dos Estados Unidos em confrontos na região décadas
antes. Ele apresenta alguns dos questionamentos sobre como ocorreu
naquela época e com dúvidas sobre o que ocorreu, numa espécie de
“autodestruição”. Os custos com a guerra, até 2008, chegaram a
US$ 3 bilhões, ora as perdas sociais, de pessoas mortas e
desabrigados. “Ambígua situação de aproximação e separação
de culturas. […] O Afeganistão enquanto nação não tinha nada a
ver com aquele atentado. […] O Ocidente e o Oriente nunca tiveram
tão próximos, paradoxalmente, por meio da violência”.
Falando
em custos, algumas matérias desta semana costumaram ligar a crise
econômica dos Estados Unidos, oriunda do boom no mercado imobiliário
dos Estados Unidos, com o 11 de setembro, fazendo a relação com os
gastos no setor bélico. Parece-me uma tentativa de tirar o peso das
costas do mercado financeiro e culpar um setor econômico que não
deixa de ser forte nos Estados Unidos, mas que aproveitou-se de um
“momento”.
O
processo neoliberal remonta a década de 1980, num período em que os
Estados Unidos eram aliados de figuras como Saddam Hussein e Osama
Bin Laden, apenas se metiam numa gélida guerra contra a União
Soviética e por áreas de controle de um ou outro, com ameaças de
destruição mundial. Para perceber as verdadeiras relações de
causa-consequência basta observar tantos e tantos documentários
sobre o assunto, caso do recente Inside Job,
dirigido por alguém que não se coloca enquanto de centro-esquerda,
socialista ou coisas afins.
Por
fim, uma contribuição interessante da professora do PPG em Ciências
da Comunicação Christa Berger, em meio às relações de
“Acontecimento” que, sinceramente, não me interessam. No dia 11
de setembro de 1973 Salvador Allende era assassinado por conta do
golpe militar no Chile. Morreram muitas mais pessoas que em 2001 e
pouco ou nada se fala sobre (ver documentário extraído do “Sampa no Walkman” abaixo deste post).
Dentre as possibilidades apontadas para uma análise do ponto de
vista jornalístico, ela citou que não seria interessante analisar
as publicações da época. Mas tem algo que pouco vi ser comentado,
ao menos aqui no Brasil, que veio depois. Como os jornais
estadunidenses alimentaram as invasões ao Afeganistão e ao Iraque,
provando a existências das inexistentes armas de destruição em
massa no segundo país. Além disso, a comemoração mundial pela
morte, sem mostrar o corpo, de Osama Bin Laden neste ano, com fogos
de artifício, inclusive, pela grande mídia brasileira.
Dez anos depois, o mundo vive uma reviravolta em todos os setores.
Economicamente, os Estados Unidos estão mais dependentes da China
que os países emergentes dele, numa escala de dependência global em
que os pontos de origem e destino sofreram algumas alterações, com
uma interligação mais próxima por conta da falta de regulação
sobre o capital financeiro, que domina as relações financeira
mundiais. Segurança virou questão problemática e paranoica.
Curiosamente, países como o Brasil tem mais mortos em “guerras
civis” que nestes locais e pouco há de prático para evitar isso.
Infeliz e mentirosa essa relação que se quer empurrar goela abaixo, de que os gastos com o setor bélico seriam responsáveis por qualquer crise que seja... está fartamente comprovado que esse "custo", ao contrário, garante uma lucratividade enorme ao capital, de duas maneiras: pela compra de armamentos que o governo faz junto à indústria bélica e pela reconstrução dos países devastados. Em alguns casos, também pela queima/destruição de forças produtivas. Como são descarados esses discursos!
ResponderExcluirA propósito, obrigado por lembrar do Sampa no Walkman... eu já nem lembrava que havia escrito sobre o tema, há um ano atrás!