quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Avaliação da prática docente

Ao final das atividades de aula, antes dos seminários, tanto de Lógica, Informática e Comunicação (1ºs períodos de Contábeis e Economia) quanto de Economia Política da Comunicação (eletiva do 8º período de Economia), montei um questionário no Drive para que xs estudantes me avaliassem. Obtive 24 respostas em LIC (quase 50% dxs estudantes) e 6 respostas de EPC (pouco mais de 50%). Aproveitarei as respostas para me avaliar também. Assim, farei este texto com algumas considerações iniciais gerais e depois divido entre LIC e EPC, por se tratarem de disciplinas diferentes.


Metodologia da pesquisa
A ideia de fazer uma avaliação da minha prática docente surgiu ainda nas primeiras turmas que peguei ao chegar na UFAL, o mês final de 2014.1. Preocupava-me por se tratar de um período que teve greve docente e troca de professores na disciplina. Deixei um dia para entregar os trabalhos/dar as notas e que avaliássemos em conjunto aquele semestre. Quando houve, tirando um caso, as respostas foram "foi bom". No semestre seguinte acabei não fazendo, pois presencial não rolou.

Em 2015.1, participei de um curso para usar a plataforma Moodle da UFAL e dentre as atividades iniciais estava uma avaliação da prática docente. Fiz um questionário no Drive após o primeiro terço da disciplina de LIC, obtendo 34 respostas. Repeti o modelo para a avaliação final e também para a eletiva, sem ter a necessidade de identificação - dando liberdades axs estudantes para serem honestxs -, só ampliando, no caso da disciplina do tronco inicial, as questões, trazendo também uma avaliação por parte da disciplina dentre as perguntas com respostas de 1 a 5. Por fim, uma pergunta direta: "O que devo mudar na minha prática pedagógica?".

Prelúdio
Antes de partir para os dados, é importante dizer que foi um semestre também irregular. Tivemos greve docente e de técnicos por 4 meses, tempo de um período, que chegaram na metade das disciplinas. Ainda que, especialmente em LIC, a divisão que está no nome da disciplina me permitiu não interromper conteúdo, atrapalha o desenvolvimento enquanto universitárix por se tratar de pessoas que acabaram de entrar na universidade - e no ritmo de leituras que o tronco inicial exige. Então, mais que um semestre distinto, foi quase que um ano dentro dele, iniciando em março e terminando em dezembro (um Brasileirão mesmo rs).

Para mim, foi um ano muito complicado, convivendo com uma depressão que fez meu mau humor crescer a cada mês, especialmente do primeiro semestre, junto com uma maior falta de paciência - algo que normalmente tenho até demais. Com estresse acumulando também, tive uma crise grande em duas semanas de junho que, para minha sorte, foi o primeiro mês de greve. Consegui controlar mesmo tendo participado de algumas atividades naquele período.

O segundo semestre, tirando um momento de outubro, foi particularmente mais tranquilo. Iniciei terapia em julho e apesar do cansaço de trabalhar ainda mais durante a greve, vem servindo para eu avaliar certas coisas. Mesmo assim, tive que conviver com problemas frequentes de domingo para a segunda (insônia, indisposição, etc.). Lembro de uma noite em específico de fechar os olhos, respirar fundo e querer sair da sala. Felizmente, ou não, a responsabilidade venceu e eu continuei.

É o tipo de coisa que não exponho, até porque antes de tudo há essa responsabilidade com xs estudantes e com o meu trabalho. Além de não servirem como justificativa para alguma aula ruim. Isso pode acontecer mesmo quando achamos que preparamos "a" aula.

LIC
As disciplinas do tronco inicial têm horas de aula semanais, quatro num dia e duas no outro, o que abre mais espaço para recursos multimídia e um pouco mais de tempo para algum debate a ser preparado. Não haviam "respostas obrigatórias" para fechar o questionário, então haverá perguntas com mais  ou menos respostas que outras. Vamos aos dados...

- Figura 1 - Prática Docente e Ação Didática
Algo a melhorar é a descrição dos tópicos, mas creio que a ideia era de a "prática docente" ser algo relativo ao conjunto da obra, por assim dizer. A avaliação foi de regular a excelente. Os demais comentários servirão para pensar uma melhor prática docente também.

Da segunda pergunta, uma resposta "ruim". Realmente tenho algumas coisas a melhorar. Há aulas que consigo trazer mais outros elementos - para além do futebol rs -, mas em alguns tópicos fica muito o conteúdo pelo conteúdo, o que pode se mostrar cansativo. Consegui incluir um segundo momento de debate este período e esse é um caminho que instiga xs alunxs a participar. Uma ferramenta importante para seguir sendo utilizada na didática nos próximos semestres. Ah, uma coisa que o semestre anterior me fez reparar, a quantidade de expressões repetidas (enfim, então, etc.). Dei-me conta do exagero na primeira aula após a greve, ao menos do "enfim". Estamos tão acostumados ao nosso próprio discurso que não percebemos isso - e tive professorx a falar "né" centenas de vezes também.

- Figura 2 - Construção do conhecimento e Relação professor-discente
Vou pular a parte de "construção do conhecimento", até porque o problema identificado no ponto anterior sirva para cá também; partindo para a resposta com mais problemas, "Relação professor-discente", que de certa forma até me assusta. Minha "briga" desde o início do semestre é fazer com que entendam que a relação tem que ser a mais horizontalizada possível, porém, com os dados limites que cada lugar que ocupamos gera, até mesmo pelos processos que existem na universidade.

Este semestre tive algumas reclamações sobre as avaliações realizadas para compor a primeira avaliação, querendo perguntas com alternativas ou de Verdadeiro ou Falso. O problema, como voltei a identificar na dinâmica do capítulo inicial de "A Galáxia da Internet", é a dificuldade de interpretação de uma construção isolada; acaba sendo pior para xs estudantes que texto dissertativo. Além disso, há a necessidade identificada de fazê-lxs escrever, algo importante independente de curso. Outra reclamação foi sobre o tempo dos seminários, de 20 minutos. É o tempo médio das apresentações acadêmicas e saber lidar com ele é algo que vai para além da universidade - podemos ter poucos minutos para vender um produto ou ideia. E do mesmo jeito que tento não ser autoritário dada a minha posição de docente, não posso aceitar diálogos mais agressivos, como ocorreu em alguns momentos nestes meses. Deixar mais clara as possibilidades dessa relação é um aprendizado importante para mim.

- Gráfico 1 - Métodos de avaliação
Outra questão mais equilibrada para baixo. Neste semestre incluí maior participação, com pontuação extra, da participação em sala de aula. Deixando claro os dias em que este processo seria mais observado. Ainda que as atividades escritas e seminários não sejam suficientes para avaliar o aprendizado, continuam sendo ferramentas importantes. Continuar na observação da atenção e diálogo presenciais é algo importante, ao mesmo tempo de propor avaliações que explicitem melhor a importância de apreender o conteúdo e relacioná-lo com a prática do cotidiano, algo que ainda é de muita dificuldade para quem vem de uma forma de aprendizado mais ligado ao decorar conteúdo que aprendê-lo.

- Figura 3 - Avaliação de conteúdos de Lógica e Comunicação
As duas partes da disciplina lecionadas antes da greve, por isso incluir o "lembra" na questão. Respostas parecidas, mas com comunicação com um "ruim" a mais. Processo normal de uma disciplina que brinco ser "Frankstein", quase que fatia em três partes. Um desafio é criar mais perspectivas de união entre os três trechos, algo que fica mais presente na transição Comunicação e Informática - prejudicado este ano pela distância temporal.

- Figura 4 - Avaliação de conteúdo de Informática e utilidade da disciplina
O único "péssimo" do questionário me surpreendeu. A parte de informática foi a última e é uma temática muito mais presente que as anteriores no nosso cotidiano, algo que tento puxar com memes e trabalhos voltados ao uso e à apropriação de mídias sociais e seus conteúdos. Importante que eu revise no semestre que vem para entender quais os grandes problemas.

Por fim, a utilidade da disciplina. Importante dizer que o modelo de tronco inicial é exclusivo dos campi do interior, obrigatório, ao menos até 2016.1, para todos os cursos, independente de eixo. Tenho colegas que não veem sentido em ele existir, creio ser importante para os casos de formação básica precária e a introdução ao espaço acadêmico, possibilitando discussões e interpretações do cotidiano que a especificidade de alguns cursos não permite. Resultado importante.

- Figura 5 -  Algumas respostas de "O que devo mudar na minha prática pedagógica?"
Separei as respostas do que deveria mudar. A primeira é "pedir para o pessoal conversar menos", um problema recorrente desde que aula é aula e estudante é estudante. Para não ter de gritar, costumo falar mais baixo ou me aproximar de alguém que quer comentar algo e não consegue pelo barulho alheio. Normalmente xs colegas diminuem a voz. Uma ou outra vez que é necessário dar bronca.

Da segunda, achei engraçado, pois acho até que incluo poucos conteúdos de futebol nas aulas e atividades. É fato que adoro futebol e, para além disso, este é o meu principal objeto de estudo nos últimos cinco anos. Acaba sendo natural eu trazer exemplos dele porque é o que está mais próximo, mas terei o cuidado de não ser "só futebol".

Por fim, o perfeccionismo que realmente é um problema meu, mas eu me cobro muito mais que às outras pessoas. Minhas notas costumam ser nas casas decimais até para ter mais justiça na diferença de avaliações entre xs estudantes, além de ter tido meio ponto no primeiro e um ponto no segundo extras, inviabilizando arredondamentos. Ainda assim, este semestre dei dez a uma equipe em LIC e a outra em Seminário Integrador, só que mais porque achei que foram muito bem que por ter relaxado na avaliação - vide outras equipes. Não defendo o "dez é do professor".

EPC
O caso de EPC foi diferente por ter sido o primeiro semestre que eu lecionei a disciplina, voltada ao oposto de estudantes que costumo trabalhar, do 8º período, por ser a área em que eu pesquiso e pela diferença de carga horária - 40 horas presenciais e 20h não.

Depois de dois dias de aula, muitas vezes após 16h de aula, EPC servia como um relaxamento, em que creio ter brincado bem mais que com o pessoal do primeiro período, com alguns problemas de ter sido flexível quanto a alguns textos, que debati menor. A disciplina foi sendo construída ao longo do semestre, com a escolha dos textos tentando dialogar com os curtas e/filmes que pedia para elxs assistirem e comentarem como complemento da carga horária fora de classe. Vamos às avaliações...

- Figura 6 - Prática Docente e Ação Didática

- Figura 7 - Construção do conhecimento e Relação professor-discente

Esta figura expressa alguns dos problemas. O efeito da greve em EPC é maior pela distância dos conteúdos de base iniciais, voltados à Economia Política de forma geral, e a parte específica, das análises dos mercados comunicacionais. Assim como estar na reta final de curso, com outras demandas entre artigos, TCC e disciplinas.Por fim, representado no último gráfico da Figura 7, há a distância natural de eu não ter sido o professor delxs no tronco inicial. Só a partir de novembro que o 1º período subiu para o espaço ocupado pelos demais, então há muitos estudantes que nunca me viram, apesar de eu estar há um ano e meio na unidade.

- Gráfico 2 - Métodos de Avaliação
Acabei tendo problemas nesta parte no segundo bimestre da disciplina. Percebi que falta um maior cuidado em formar para produção acadêmica, além das dificuldades normais de primeiros artigos. Da minha parte, estabelecer relações melhores do conteúdo para o trabalho final, pois na maioria dos artigos temas tratados na disciplina apareceram, mas sem referências usadas em sala de aula, mesmo que algumas encaixassem bem e até facilitassem a escrita. Talvez para um futuro seja não pedir o artigo, mas algo num formato menor, mantendo a apresentação.

- Figura 8 - O que devo mudar na minha prática pedagógica?
Das sugestões, concordo com a primeira crítica, como apontei acima. Senti dificuldade em estabelecer atividades que justificassem as outras 20 horas. Da apresentação com slides, fiz na primeira aula e não senti que tenha funcionado bem, pois fiquei muito preso a ela, além dos comentários terem sido nulos sobre o texto, por isso optei por não usar nas demais. Mas vejo ser necessário usar de didática semelhante da que trabalho no primeiro período, agora com maior noção sobre como dar 2 horas/aula por semana, e não 6.

Da segunda, a ideia de círculos de debates é boa, pedir para alguém apresentar os textos em vez de mim, apesar de ter pedido comentários gerais já na segunda metade, o que gerou um pouco mais de participação. Mas falta, talvez um problema na formação da unidade, mostrar melhor como relacionar o conteúdo com objetos de estudo práticos, como comentei acima. Sobre a quantidade de textos, é difícil ter a noção do ritmo de leitura por se tratar de estudantes que estão no 8º, mas com disciplinas também de outros períodos. Não acho que um artigo por semana seja muito, mas pode ser quando se tem outras disciplinas pedindo o mesmo tanto. Uma possibilidade é saber quantas disciplinas xs estudantes estão para além da eletiva.

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