sábado, 5 de julho de 2014

[Copa] "Então está tudo errado!"

Durante o jogo de ontem eu já vinha pensando no que iria escrever. O texto da passagem de fase seria para negar a fala de Felipão na entrevista coletiva. A história de que apenas jogos contra Argentina, Uruguai e até o Chile eram mais pegados que a Colômbia não se mostrava verdadeira. Afinal, o jogo estava com muitas faltas (teve 54 no total) e especialmente os jogadores colombianos catimbaram muito, reclamando bastante do árbitro. Mas aí veio a confirmação da notícia do Neymar e tudo muda.

Não é segredo para quem me acompanha por este blog e nas mídias sociais e chegou a conhecer meu fanatismo pessoalmente, sou fascinado por futebol e fatos dele me influenciam - ainda que bem menos que na época de criança. Exemplos recentes foram em 2012. Prometi deixar o bigode caso o Palmeiras fosse campeão da Copa do Brasil, algo que odeio, com todos os problemas do mundo (para mim e para ele) e mais alguns - e deixei, ainda bem que estava com a barba bem curta, bem diferente de agora. Peguei um resfriado daqueles porque com temperatura baixa resolvi largar o abrigo de lado porque a camisa tinha de ficar à mostra. No final do ano, com a quase confirmação do rebaixamento no jogo contra o Fluminense, o resfriado virou uma gripe forte.

Ontem foi mais um dia desses. Uma lesão deste nível no Neymar era o que todos temíamos, como muitos disseram ontem. Ainda que eu não seja tão torcedor do Brasil quanto do Palmeiras, especialmente pelas questões políticas (leia-se CBF), Copa do Mundo é diferente. Copa do Mundo no Brasil ainda mais. Especialmente para alguém fascinado pelo mundial de 1950. Perder o principal jogador do time antes dos dois jogos finais é muito tenso.

Não escrevi nada depois. Optei por não escrever. Curti uma ou outra coisa e li muitos comentários sobre no Twitter e no Facebook desde ontem. Várias coisas passaram pela cabeça. Muitas informações, muita opiniões, extremistas para os dois lados. Enfim, vou tentar elencá-las rapidamente e chegar numa que foi pouco comentada e que para mim levanta uma questão fundamental, pois relaciona o que o futebol representa para a nossa sociedade em comparação com outros fatores.

ARBITRAGEM
Óbvio ululante: o árbitro espanhol foi péssimo. Os colombianos colocaram ontem à noite nos TTs "RoboAColombia", provavelmente por conta do gol anulado quando o jogo estava 1 a 0, a não expulsão de Júlio César no pênalti e Fernandinho ter saído ileso de cartões apesar de "milhares" de faltas. Foi um jogo curioso para o padrão que a FIFA sugeriu para a arbitragem nesta Copa.

Se é para deixar a bola rolar, o árbitro parou muito, dando inclusive faltas que não foram - Cuadrado se jogou algumas vezes, inclusive. Além disso, foi claro que ele não deu os cartões que devia. O Zuñiga, famoso, deixou as travas no lado do joelho do Hulk no primeiro tempo para parar contra-ataque. Gutiérrez deu um chute na barriga do David Luiz noutro lance, que só não foi falta porque o zagueiro brasileiro optou seguir o lance. James e Cuadrado reclamaram o jogo inteiro e nada.

Nunca vi na minha experiência de acompanhar futebol dizer que as exageradas conversas deste mundial, em que ao menos um lance de bola parada terá o árbitro falando por um minuto, fazem a partida ser controlada. Num jogo com tantas faltas, 31 a 24 - não vejo uma diferença abismal, como alguns -, dar amarelo no início é prática básica. Se o negócio piorar a punição também será pior.

No famigerado lance, discordo sobre um possível erro do juiz ao deixar o jogo seguir - não lembro se ele deu a vantagem ou não vira a falta. O Brasil seguia com Oscar e Ramires contra dois marcadores colombianos. Só que algo que falo a Copa inteira e não vou catar no Twitter porque dá trabalho. Quase nenhum árbitro está parando o jogo para atendimento médico para dar prosseguimento ao jogo. Espera-se que alguém jogue a bola para fora.

COMITÊ DE ARBITRAGEM
O caso do Suárez já deixava isso claro. Ele mordeu o Chiellini, recebeu uma cotovelada de "troco" e nenhum dos quatro árbitros viram o lance! Várias falhas de arbitragem durante o torneio, mesmo em lances "fáceis", ordem para que o jogo corresse mesmo com faltas mais duras e jogadores caídos e essa falta de cartões para não suspender jogadores importantes chegando ao absurdo desta partida - confirmado por um dos comentaristas de arbitragem da Globo sobre um mundial em que participou. 

Foi quase que unanimidade que a dura punição veio porque houve muita pressão. Dias antes o Song, de Camarões, pegou três jogos por um soco - de tão estranho que está sendo monitorado quanto a manipulação do jogo - e ninguém falou sobre. O Comitê atua sob pressão pública.

Incrível. A gente reclama do Brasil, mas o trio brasileiro é um dos que sai mais ileso do torneio. Se errou, foi por questões de centímetros. Além disso, é obrigatório realizar sorteio dos árbitros aqui no país, enquanto que a Copa depende de livre e espontânea vontade dos membros do comitê de arbitragem, podendo ter árbitro europeu num confronto decisivo entre europeu e sul-americano (Argentina X Bélgica), por exemplo.

Lembrava lá no início da Copa, quando a CBF reclamou da escolha do Nishimura para a primeira partida. Ricardo Teixeira chegou a ser presidente deste comitê, mas pelo jeito não tinha dado seguimento para o Del Nero quando este assumiu as responsabilidades brasileiras na entidade internacional. Deixo aqui o link com os nomes deste comitê. Quem os escolhe e sob quais critérios para punir ou não alguém? Quais foram as indicações aos trios de arbitragem?

Ah, o Nishimura na dúvida marcou pró Brasil e depois daquele jogo praticamente todos os lances duvidosos foram marcados contra o Brasil porque muita gente chiou. Inclusive o técnico da Holanda, que viu seu time ter lances a favor - como hoje, contra Costa Rica.

DESCULPAS E VERGONHA
Julgamentos mil para o Zuñiga. Os 200 milhões de técnicos, que foram 200 milhões de psicólogos durante a semana e eram por algumas horas 200 milhões de especialistas em coluna também foram especialistas do Direito esportivo e para além disso. Claro que havia ironias, mas era um de não deixá-lo sair do país; de expulsá-lo do football asociation e tantas coisas que cansa.

Opiniões de todos os tipos. Gente dizendo que "era do jogo", quando não foi. Afinal, o que geralmente ocorre é "matar" o jogador no peito, não chegar destrambelhado com o joelho e deixá-lo ainda assim quando há outro atleta entre ele e a bola - só goleiro costuma sair com joelho alto. Do mesmo jeito que não dá para dizer que o colombiano mirou na terceira vértebra lombar para fraturá-la e tirar o Neymar da Copa. Quando ele diz que não tinha a intenção de tirá-lo do torneio é verdade. Óbvio que foi inconsequente e, até pelo lance já comentado antes, deveria ser expulso. Vantagem nunca eximiu o agressor de tomar cartão, isso é beneficiá-lo e na Copa queremos ver gols, os craques fazendo o seu melhor. As alternativas da FIFA estão erradas pois quebram um conceito básico do esporte.

Ver jornalistas esportivos desatando a falar de "crime" na ocasião é demais. Pior ainda é a perseguição ao jogador em seus perfis em mídias sociais, com direito a ameaças de morte e demonstração clara de xenofobia e racismo. Contradição incrível, além de isso sim ser crime, falar que "só podia ser um macaco" a acabar com o sonho do "nosso" ídolo cujas origens étnicas são parecidas. Mas exigir coerência em casos assim parece ser demais...

Ia esquecer dos que falaram que "foi merecido porque o Brasil entrou para bater" ou de quem foi para a "fama" de cai-cai de Neymar, que não foi justificada nestes 5 jogos, ou quem aproveitasse para destacar a importância dos hospitais para o país. Qual jogador espera ter um problema de fratura de vértebra lombar? Qualquer lesão na coluna é séria, pois impede qualquer tipo de movimento - não à toa ele disse que não conseguia se levantar. Num exemplo simples, eu já tive torcicolo e sei o que é não poder mexer a cabeça, imagina o tronco.

#FUERZA NEYMAR
Dos dois lados o clima de "guerrinha" particular entre argentinos e brasileiros vem tomando a Copa do Mundo por aqui. Nós acabamos "nascendo" com o tal do "ganhar é bom, mas ganhar da Argentina é muito melhor", inclusive em outros esportes, mesmo quando a diferença é muito grande entre os dois.

A Argentina tem menos disso, é quase que exclusivo ao futebol e vários pesquisadores (Álvaro do Cabo e Ronaldo Helal aqui e Pablo Alabarces de lá) já estudaram essa rivalidade entre os dois países, chegando ao denominador "os brasileiros adoram odiar os argentinos" e estes "odeiam amar os brasileiros". Do lado deles, o "sentimento" teria sido estimulado especialmente pós Maradona e com a criação do Olé.

Mas o marco teria sido a eleição da FIFA no início dos anos 2000 do melhor jogador de todos os tempos. Como pelo voto deu Maradona, a entidade criou outro tipo de escolha para dar um prêmio a Pelé. A mobilização lá foi bem maior que aqui porque a relação com estes ídolos é bem diferente. Curiosamente, do lado de cá, o Pelé vem sendo resgatado justamente por conta das provocações argentinas de "Maradona é más grande que Pelé" - O "Pelé debutó con un pibe", faixa que estava hoje no Mané Garrincha, inclusive, quase não faz sentido algum por aqui. Gritos com "Mil gols, mil gols" e que eles ganharam um título a menos que o Pelé, no ritmo do cântico deles, cada vez ganha força.

Enfim, no meio disso, com a saída do Neymar, o TT deles é tomado com "#FuerzaNeymar". Algo espetacular, que provavelmente não ocorreria aqui caso tivesse ocorrido com o Messi - talvez a hashtag aqui fosse parabenizando o agressor, sejamos honestos. O que pode ser utilizado como uma confirmação do que os pesquisadores indicaram. Eles querem ser melhores, mas querem mostrar isso num confronto direto. Nós, provavelmente, preferíamos que eles parassem antes.

O ÍDOLO E O (QUASE) ESQUECIMENTO
Para este relevante tópico, tomo a liberdade de reproduzir os diálogos de uma conversa com uma também jornalista que me instigou sobre um ponto que pode ser que eu tenha lido um post sobre ontem, mas que pouco se comentou. Um detalhe importante é que tal ponto não veio de quem acha que o "futebol é o ópio do povo", pelo contrário, é tão apaixonada por este esporte como muitos de nós.

A ordem vai um pouco misturada porque acabei comentando duas vezes ao que ela tinha postado inicialmente. Aproveito para pedir para que quem vir a ler este texto que dê sua opinião - inclusive pode discordar de todos os outros tópicos também, ou incluir outras coisas que viram desde ontem.


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