sábado, 22 de junho de 2013

Mais algumas considerações


Do último texto, até que com sinais alarmistas, para hoje, li muitas coisas, conversei com algumas pessoas - uma delas da Argentina, curiosa por entender o que ocorre por aqui - e até vi um debate realizado na USP sobre os reflexos dos movimentos que ocorrem no Brasil. Ah, e ainda discuti com pessoas por aqui - e que acredita que no Brasil vivemos no socialismo -, sobre a questão dos partidos nas manifestações. Várias opiniões e questões interessantes a serem colocadas, das quais destacarei duas coisas, que creio não anularem os problemas que eu visualizei na quinta-feira passada.

Mas antes disso, tenho que recomendar por aqui o que iniciou como postagens do Facebook e que virou um blog, o Guia do Acomodado. Uma visão não "militante" sobre o que acontece agora, o que permite também ter uma visão crítica sobre todas as possibilidades percebidas. Para quem ainda não conhece o blog, deve ter visto por aí o "Guia do acomodado pra entender o que aconteceu no dia 13.06.2013 no país e (quem sabe) acordar".

Partindo para as questões, em meio ao mar de informações pedindo cuidado com o repúdio generalizado referente aos partidos, vi dois comentários que assumiam ir diferente ao caminho percorrido por algumas pessoas nas mídias sociais. 

Vai ser difícil encontrá-los novamente, mas, podendo cometer o erro da memória, a crítica era para o pessimismo generalizado, com a possibilidade de um golpe praticamente iminente como alguns comentavam. A crítica foi centrada no que seria uma simplificação dos movimentos, porque passaram a ter outras pautas - e aqui, deveria-se respeitar as críticas diferentes a problemas diferentes. Mas o principal é que esta mudança de pauta, por fora da movimentação política, mesmo para os partidos de esquerda, teria criado algo como "a nossa pauta ou o fascismo". Em suma, entender a complexificação do atual momento, para além de "fórmulas prontas".

Como disse, e repito, estou reproduzindo algo de ontem, sujeito à minha memória e respectiva reprodução. Mas são análises e perspectivas válidas. Ah, inclusive incluíam o cuidado caso haja essa abertura para movimentos fascistas dominarem as manifestações, por mais que não acreditassem que se chegasse a um ponto como em 1964.

Dizer que têm muita razão ao afirmar que não se tem como analisar o momento atual com ferramentas teóricas/práticas anteriores. Do mesmo jeito que toda uma complexidade marcou e ainda marca os movimentos iniciados com a Primavera Árabe e posteriormente os #Occupy pelo mundo. Neles há o que se não quer, mas não o que se deseja pôr no lugar, o que gerou vários problemas no caso dos países árabes mesmo após a saída de alguns ditadores.
"Keep Calm" e mensagem religiosa num mesmo espaço
No caso do #Occupy, li muitos cientistas políticos analisando que dentre os 99% contra o capitalismo financeiro não significava nem de longe que eram 99% contra o sistema capitalista. Não à toa que congressistas iam conversar nas praças e não havia grandes litígios. Numa rápida pergunta a quem estava ali o porquê de estar, havia muitas opiniões diferentes. Sobre o que ocorreria depois, então...

É interessante observar que o movimento #Occupy não teve tanto reflexo no Brasil, até mesmo por conta do momento econômico. Teve alguns focos em alguns Estados, caso do Rio Grande do Sul e de São Paulo, mas sem o apelo para trazer as pessoas às ruas, independente de ser uma pauta mais flexível.

Além disso, como consta na hashtag que fiz questão de reproduzir e como se deu na divulgação interna e para o mundo da Primavera Árabe - e também da possível fraude nas eleições anteriores no Irã -, há a presença de uma nova forma de articulação, a internet. Curioso disso tudo, é que a utilização da internet foi feita numa região que a "comunidade cristã ocidental" não costuma prestar atenção para falar da história contemporânea.

Por mais que se mantenha, e seja muito necessário, ir às ruas , a articulação é feita pela internet e ganha na prática reflexos da linguagem e do agir das mídias sociais. E isso é algo muito novo, especialmente quando as pautas culturais e de comunicação não costumam fazer parte das discussões prioritárias dos grupos libertários/revolucionários, envoltos na luta com o trabalhador para a transformação social.

Assim, ver cartazes como eu vi na terça com referência ao RPG, com "Só Goku salva" ou "Dumbledore não deixaria isso acontecer" é algo normal tendo em vista que as formas de articulação, os espaços de discussão e, principalmente, novas redes sociais - no termo geral - foram criadas, com diferentes maneiras de expressão. Na minha opinião, achar isso um absurdo tanto é não querer difundir o que se pensa quanto imaginar que se tem o monopólio das formas de protestar.

Nem sei se consegui desenvolver direito o que queria postar, mas é necessário rever as formas de atuação, deixar de acreditar que seguir a cartilha, teórica e de prática, à risca, é o mais correto a fazer - olha que eu defendia coisas assim há muito pouco tempo. Analisar as referências teóricas históricas, mas entendendo-as através das mudanças ocorridas na sociedade é fundamental para não se perder em meio às "novidades" que podem surgir. Ficando na área acadêmica em que pesquiso, o quanto a Comunicação mudou dos tempos de Marx para os atuais, o quanto a categoria "trabalho" mudou e precisa ser muito discutida,...

Muita coisa mesmo apareceu...
Sobre a questão partidária, um amigo argentino me perguntou o quanto que a questão "anti-partidária" atual poderiam ser relacionadas ao "Que Se Vayan Todos" de 2001 por lá, que refletiu a série de demissões de presidentes por pressão popular, após grave crise provocada pelas práticas neoliberais a partir do final da década de 1980. Nenhum partido agradava da mesma forma que na Grécia, em Portugal e na Espanha, os partidos socialistas pouco fizeram de diferente em relação ao capital financeiro. E o pouco que Hollande faz na França neste momento, por mais que haja avanços quanto ao tratamento ao estrangeiro no país.

Na hora, eu respondi que acreditava que não, que poderia haver uma apropriação das pautas mais gerais, como ser contra a corrupção, por determinados movimentos de direita. Por mais que aqui em Alagoas os partidos tenham sido obrigados a sair para não apanharem - ainda uma baita contradição para um movimento que grita "sem violência" para a polícia e "sem vandalismo" -, os gritos eram contra o governador do PSDB e a presidenta do PT. 

Mas, de fato, o "partido" parece não representa ninguém, por mais que muitos tenham votado neles nas eleições passadas e votarão no ano que vem. Vale lembrar que é muito normal votar num deputado estadual de um partido, noutro de outro, no governador do partido opositor do candidato a presidente. Há o individualismo forte na hora do voto, até mesmo por conta da grande quantidade de partidos e também pela falta de identidade ideológica na maior parte deles (dos famosos, que ganham eleições). Sobre os demais, os de esquerda - eu não considero PT e o PCdoB nisso -, quase ninguém conhece suas propostas, por mais que estejam focados em lutar ao lado dos trabalhadores, não pela via eleitoral.

Como disse antes, o conceito de trabalhador/operário há muito precisa ser repensado. Entender quais as lutas e necessidades destes então... 

Volto a afirmar que não acredito em conscientização das "massas", termo que já indica algo homogêneo e uniforme, por vanguardas esclarecidas. Quem mais pode reclamar das contradições do capitalismo do que quem o sofre na pele? Ainda assim, se pegarmos na definição do IBGE, quantos membros da classe E, os das necessidades de sobrevivência, vão às ruas? Quantos estão organizados, inclusive nestes partidos?

Às vezes é mais fácil considerar a alienação, ou facilidade de manipulação, por parte de algumas pessoas quando ocorre algo diferente do imaginado. Muito necessário é reavaliar as próprias ações, saber a importância de entender o movimento sociocultural.

Há muita pauta nos movimentos, como a da causa homossexual, que está longe de um consenso, por mais que divida espaço com outras coisas. Eu li na página do ato aqui que se deveria tirar qualquer outra bandeira, inclusive do movimento gay, negro ou qualquer um, já que "eles deveriam criar o próprio movimento deles". Para isso, indiscutivelmente, o alerta deve estar aceso e a discussão deve ocorrer. Por mais que seja extremamente difícil não ser levado à ironia após uma série de tentativas.

Afirmei no texto anterior que, apesar de todo o meu receio, via grande importância das pessoas irem às ruas quando no Brasil não se há o costume para isso - ao contrário de outros locais, sendo a Argentina o exemplo "gritante". Em Alagoas, então... Não lembrava de algo deste tamanho, sem a participação de centenas de pessoas de movimentos de trabalhadores sem-terra, partidários e tudo o mais, desde que voltei a primeira vez para morar por aqui, em 2000. Independente do rumo que tomar, é fato que se trata de um momento histórico e é muito difícil entender a transformação quando se está no meio dela.

Assim, continuo muito crítico a quem acredita que PSTU é a mesma coisa do PT, mas fora do poder, que DEM é o mesmo que estes, que PSDB e PMDB são a mesma coisa, porque não são. Da mesma forma que, se achar necessário, vou defender a expressão das posições ideológicas dos partidos de esquerda, ainda mais se construíram o processo desde o início, o que remove a ideia de "oportunismo", argumento que muitos usam como justificativa. Não dá para entender um movimento que veste branco para indicar que se é um movimento pacífico, mas que bateria em pessoas que estão do lado para lutar pelas melhorias.

Nenhum comentário:

Postar um comentário