A minha relação com o futebol é muito forte. Já fui a estádios para ver jogos de rivais locais, de arquirrivais históricos, da Seleção brasileira, alguns só por "curiosidade", outros pela emoção, por se tratarem de clubes que eu torço - seja o que eu aprendi a amar ou o que ainda não inventaram palavras para descrever tal sentimento - e outros "apenas" para conhecer. Com estádios, a curiosidade sempre foi a de ver como se postavam os torcedores, dos mais fanáticos e organizados aos que vão para "apreciar" a partida e gritar na hora certa.
A minha relação é mais fervorosa apenas por um, o Estádio Rei Pelé, em Maceió. A proximidade da casa da minha avó materna, que me "obrigava" a vê-lo a cada visita à cidade natal na década de 1990; a ida a pé aos jogos dos anos 2000 já de volta a cidade, onde o ir ao estádio representava a parceria futebolística de uma boa relação paterna.
Foi difícil ver o Trapichão parado por vários anos por conta de obras que não andavam, que nunca terminavam e que interditava partes ou o estádio inteiro. Não poder ouvir de casa o grito da torcida e, principalmente, não poder percorrer aqueles 20 minutos a pé para adentrar ao estádio. Mais que um simples monumento arquitetônico, representou e representa um lar. O lugar para conversar com vários desconhecidos como se fôssemos amigos de longa data, de xingar jogadores e diretorias, quando necessário, e, principalmente, gritar pelos gols e títulos ali conquistados - fosse Segundona estadual ou algum campeonato nacional.
Já há algum tempo, penso como vem sendo o sentimento dos torcedores gremistas com o momento final do Estádio Olímpico. Confesso que não consigo imaginar como será a reação após a partida de daqui a pouco contra o Internacional. Pensar que o espaço ocupado pelos torcedores por 58 anos deixará de existir de uma hora para a outra, fechando um capítulo da história como se pula um capítulo de um livro.
Quer dizer, não deve ser tão fácil assim. Eu, que não sou gremista - e nem colorado -, já me emociono ao ver os vídeos produzidos sobre o estádio, os comentários sobre a história individual de alguns torcedores nele. Só posso imaginar mesmo, ainda que não sentir de forma forte, o que sente e o que sentirá o gremista. Por mais que se pense que a Arena está magnífica, ficou pronta de forma bem rápida e contará novas histórias ao torcedor, é impossível esquecer de um lar.
Quando o árbitro apitar o final da partida, mais que o Gre-Nal de número não sei qual, com a garantia da classificação gremista à fase de grupos da Libertadores do ano que vem, terá sido encerrado, mas um lugar que durante tanto tempo foi palco de frustrações e alegrias de um conjunto de pessoas tão diferentes e tão iguais nos minutos de antes, durante e depois da realização das partidas.
Graças a um amigo tricolor, eu pude ir ao Olímpico por duas vezes, sempre torcendo contra. Na primeira, ainda no ano passado, fiquei ao lado da Geral do Grêmio, controlando-me ao ver o Palmeiras abrir 2 a 0 e ceder o empate com um gol do Fernando, justamente na trave que eu via mais de perto, na última jogada da partida. A segunda foi este ano, quando o sergipano River Plate aplicou um susto com um gol no início da partida pela primeira fase da Copa do Brasil, mas sofreu uma virada por 3 a 1.
Aos gremistas que não tiveram a oportunidade de ir ao estádio, posso dizer que, de certa forma, entendo bem a situação. Alagoano, só vi pela primeira vez o Palmeiras num estádio no ano passado. Ainda que em São Paulo, no Canindé, já que o Palestra Itália estava em reforma. Por um bom contato, consegui visitá-lo já com uma parte das arquibancadas derrubada e sem o gramado. Ali, onde vencemos "só" a Taça Libertadores. Pesou na mente o fato de nunca ter ido à nossa casa antes, por mais que as condições econômicas não permitissem. Porém, não fui menor torcedor por conta disso. Mais distante, sofri, e como, da mesma forma de quem estava ocupando aquelas arquibancadas, e sigo saudosista dos bons tempos do agora velho Palestra.
A diferença talvez seja que a Nova Arena está sendo construída por cima do velho Palestra, no mesmo endereço. Ao contrário da Arena gremista, que desenvolverá outro ponto da cidade. Não reagiria bem enquanto torcedor a um adeus ao estádio; menos ainda quando for concretizada a implosão do espaço para a construção de prédios. Os gremistas passarão pela Azenha e mostrarão aos filhos que no lugar daqueles prédios havia mais que um estádio de futebol, mas o lar de tantas e tantas pessoas.
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