domingo, 18 de novembro de 2012

[Por Trás do Gol] Podia ser o Falcão, mas a Copa é do Neto!

Foto: Cris Gauthner/FIFA
Quando se pensa que seria a última Copa do Mundo de Futsal FIFA do maior jogador da história do esporte. Quando se pensa que ele, que vinha de uma temporada com lesões no Brasil, machuca-se logo na primeira partida. Quando se pensa que ele volta antes que os médicos esperavam e tem uma paralisação facial, provavelmente por estresse. Quando se pensa em tudo isso e ainda o vê virando um jogo de quartas de final contra a Argentina ou empatando a final contra a Espanha, deveria ser "fácil" de dizer: Falcão é espetacular. E é mesmo, mas a Copa do Mundo 2012, realizada na Tailândia, fica marcada pela estrela de Neto. 

Lembro da Copa de 2004, a disputa das semifinais contra a Espanha, que por conta de um tropeço na segunda fase faria uma "final antecipada" com o Brasil. Empate no tempo normal e na prorrogação e no último pênalti, o jovem Neto encheu o pé e a bola explode no travessão. O Brasil acabaria em terceiro lugar naquele ano, com a Espanha levando o bicampeonato em Taiwan - não se assustem, colocar torneios "menores" em países "estranhos" faz parte da política de espacialização do futebol e seus derivados para aumentar os negócios da FIFA.

MUNDIAL
Creio ter acompanhado quatro dos sete jogos da competição deste ano e me incomodava com um time muito "normal" para o futsal, de grande qualidade, mas com os gols saindo no toque de bola mais que com a abertura de espaço individual. Talvez  por conta da ausência de Falcão em boa parte dos jogos, mas também porque imaginava que alguns jogos precisaria ser decididos no diferencial "brasileiro". 

Era um mundial com muitos favoritos. Para além dos campeões Brasil e Espanha, havia Rússia, Itália e Irã. O último caiu ainda nas oitavas, para a zebra colombiana e o primeiro pegou a Espanha, repetindo a final do torneio europeu, ainda nas quartas de final, ficando pelo caminho. Restou à Itália o terceiro lugar na competição após ser eliminada pela Fúria nas semifinais.

Além disso, após a goleada de 16 a 0 sobre o fraco Panamá, o Brasil sofreu para vencer os seus confrontos seguintes, apesar de, teoricamente, serem mais fracos que o da outra chave. Nas quartas, a Argentina abriu dois a zero e graças a gols de Neto, mas, principalmente, aos dois do Falcão, um na prorrogação, o time seguiu em frente. 

Nas semifinais, um gol logo no início e parecia que a Colômbia ficaria para trás tranquilamente. Ledo engano. Os colombianos empataram o jogo e deram aquele frio na barriga nos torcedores brasileiros, que viram o time terminar a partida por 3 a 1.

Na final, nada melhor que pegar a Espanha, reconhecida por jogadores e pelo próprio técnico, Marcos Sorato, como num nível acima das outras seleções de futsal.

FINAL
Quem viu o primeiro tempo em zero a zero, com a Espanha com a maior posse de bola, tocando-a o tempo inteiro, pode ter se lembrado da base de jogo do time de futebol de campo. Eu estranhei a atitude resguardada do Brasil, que demorou a conseguir algumas, e poucas, finalizações.

O segundo tempo foi diferente, tivemos gols e posturas mais ofensivas de ambos os lados. Para começar, o Brasil veio com uma formação mais rápida e com Falcão em campo, dando trabalho para a seleção espanhola. Ainda assim, as marcações venciam o confronto, que dava a crer que só poderia ser modificado nas bolas paradas (faltas, laterais e escanteios).

Num escanteio, Neto chutou forte, no canto e abriu o placar para o Brasil, logo nos primeiros minutos. A Espanha sentiu o golpe e se perdeu por alguns instantes, com os maiores campeões do mundo segurando mais o jogo, controlando o resultado. Porém, tudo mudou em dois minutos.

Aos 9, cobrança de falta na entrada da área, três na barreira brasileira e só um na sobra, com o número 4 deles sozinho na segunda trave. Na cobrança, Miguelín recebeu a bola e enfiou o pé nela, para grande defesa de Tiago, mas estava lá o número 4 na sobra. Gol de Torras, empate da Espanha.

O Brasil parecia não ter sentido tanto o gol, mas mal deu tempo de verificar isso. No minuto seguinte, Aicardo recebeu a cobrança de lateral na esquerda e deu um chute seco. A bola seria defensável, mas desviou num jogador brasileiro no meio do caminho e enganou Tiago. Espanha 2 a 1.

O time brasileiro tentava de todas as formas, inclusive com a volta de Falcão à quadra. Quando faltavam menos de quatro minutos, Sorato resolveu colocar pela primeira vez na Copa o goleiro-linha. Com a Espanha fechada, o time tocava a bola até que Falcão encontrou um espaço para chutar. E que chute! No ângulo! Brasil 2 a 2. 

Os dois times tentavam, com medo, chegar ao gol do título em tempo normal, mas não conseguiram. Pior para a Espanha, que carregava as suas cinco faltas para a prorrogação - a partir da sexta, o Brasil teria direito a tiro na linha de dez metros.

A prorrogação foi bem movimentada, mas sem gols para os dois lados. Faltando pouco mais de um minuto, o Brasil teve a chance de marcar num tiro livre de 10 metros, mas Rodrigo parou no pé direito do goleiro Juanjo. Quando parecia que iríamos acompanhar a segunda decisão de pênaltis seguida, brilhou o melhor jogador do torneio.

Neto recebeu de Falcão, deu um toquinho por cima da perna de Fernandão, a bola quicou na linha, ele deu uma ajeitada e encheu o pé no canto direito. Sem chances para Juanjo! Sem chances para a Espanha, há 19 segundos do final. A defesa de Tiago no último segundo só consolidou o hepta campeonato mundial da seleção brasileira de futsal (cinco sob a insígnia da FIFA).

O mesmo Neto que fora o responsável direto pela jogada que eliminou o Brasil da Copa de 2004 - é verdade que num grupo muito desunido -, que ficou de fora do mundial realizado aqui no Brasil em 2008 por uma lesão, torna-se o responsável direto pela jogada que deu mais um título ao futsal brasileiro, sendo escolhido o melhor jogador da Copa do Mundo de Futsal FIFA 2012.

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