quarta-feira, 7 de março de 2012

[Em busca do El Dorado] 1 ano de Rio Grande do Sul

Cabeça querendo pular do pescoço, mais e mais e-mails com trabalhos a fazer e sendo cozinhado em banho-maria no forte verão do Rio Grande do Sul... Pois é, há um ano eu nem imaginava que o calor gaúcho pudesse ser bem maior que o do litoral nordestino. Muito menos que eu poderia sentir falta das praias, algo que nunca gostei muito por conta da vermelhidão da pele depois. Como diria o companheiro que edita o programa de rádio conosco, eu peguei a pior sequência de frio e calor no Rio Grande do Sul nos últimos anos.

Frio vem de bater os dentes, de não sentir as bochechas ou a boca, de não aguentar ficar parado em frente ao computador, mesmo cheio de roupas. Porém, o calor vem que até ficar em casa cansa, com o problema de se não ter água de coco ou caldo de cana na esquina e, muito menos, uma boa praia para passar os finais de tarde comendo tapioca.

Este texto de um ano por aqui foi muito pensado, mas na hora de digitar algo sobre poucas coisas me veem à cabeça - se bem que ela está querendo sair do pescoço, então... Mas vamos lá. Até mesmo porque eu não tinha a intenção de escrever coisas como um colega da época da graduação fez com o seu um ano em Brasília, ou uma colega do Mestrado fez ontem, ambos via redes sociais.

É algo que é visto com estranheza para a maioria das pessoas, mas eu não tenho tanto apego/saudade da família que ficou em Alagoas. Não que eu não sinta falta, porém, sair de casa era uma opção pensada há alguns anos, então a liberdade teria que pesar mais. Por mais trabalho que se dê em centralizar todas as atividades para a sobrevivência, o que inclui economia doméstica, lavar, passar, cozinhar, etc.

Mas deixar o mal humor se apropriar dessas "mal-traçadas linhas" seria injusto. Nesses 366 dias aqui vividos, não necessariamente todos eles passados por aqui, profissionalmente/academicamente, o meu crescimento foi muito bom. Como costumava falar até pouco tempo, em Alagoas eu tinha que correr atrás das coisas, aqui são elas que correm atrás de mim - e já estou num ponto de ser obrigado a dispensar uma ou outra, fazer o quê?

Neste período, pude (pagar e) ir para alguns eventos de nível nacional e internacional em outros Estados, apresentando trabalhos, discutindo os mais variados assuntos de ordem científica, conhecer uma pessoa ou outra e, o melhor, consegui ver o Palmeiras em campo, com Marcos estreando a camisa especial detalhes em dourado e ainda visitei o Palestra Itália em reforma!

Também acompanhei jogos aqui no Rio Grande do Sul. Fui a Pelotas conhecer a famosa fanática torcida xavante, do Brasil de Pelotas; segurei-me no meio da torcida do Grêmio, torcendo para o Palmeiras aqui no Olímpico - se bem que para um palmeirense que ficou no meio da torcida do São Paulo no Morumbi e no tobogã vendo jogo do Corinthians, isso é de menos... -, também vi Canoas X Cerâmica no campo da Ulbra, aqui perto, em Canoas. O Beira-Rio só fui para ciclo de palestras, nada de jogo por enquanto.

Mas o bom mesmo em termos futebolísticos foi sentir o nível da birra entre torcedores de Grêmio e Inter e o ódio de alguns outros, resistentes e apaixonados torcedores de seus clubes menores, ao menos com poucos recursos financeiros, com direito a faixas "anti-grenais" e blogs que tomam como objetivo de acompanhamento os que não são vistos, lidos e ouvidos nos grandes meios de comunicação gaúchos.

Conheci algumas pessoas nesse período, muita gente boa, algumas com direito a rodas de chimarrão, boas conversas - mesmo que eu continue não saindo muito, e irritando muitos por conta disso. Amigos? Sim, talvez, e estranhamente até, em maior quantidade que em terras caetés, seja no grupo de pesquisa ou, principalmente, no apartamento em que divido.

Alagoas sempre representou muito para mim, mesmo quando criança, em que foram dez dos doze primeiros anos de vida morando numa cidade em outro Estado. A diferença agora é que não dá para pegar o carro, ou ir de ônibus, atravessar o querido Rio São Francisco e chegar em Maceió.

Acho que uma grande diferença daquela época para a atual, é que sou "sofredor" do CSA de carteirinha, acompanhando os jogos do clube rodada após rodada, consequentemente, mais me irritando a cada partida que comemorando uma possível volta aos gloriosos tempos que marcam a história do maior campeão do Estado. Mas nem por isso deixo de acompanhar os demais jogos e o campeonato em si, um dos melhores dos últimos anos.

Paro por aqui. Não está rolando hoje, como prova o título sem reticências ou as mais prováveis exclamações. Caso outro dia voltemos ao funcionamento normal, faremos outro texto. Até mesmo porque, pelo menos, terei mais onze ou doze meses pela frente.

A ideia era encerrar o texto com uma música, mas com o andar atual das carruagens da indústria da música no Brasil, deixo a letra de uma delas e o link para quem quiser ouvi-la. Chico Buarque e "Meu caro amigo":

Meu caro amigo me perdoe, por favor
Se eu não lhe faço uma visita
Mas como agora apareceu um portador
Mando notícias nessa fita
Aqui na terra tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta
Muita mutreta pra levar a situação
Que a gente vai levando de teimoso e de pirraça
E a gente vai tomando e também sem a cachaça
Ninguém segura esse rojão
Meu caro amigo eu não pretendo provocar
Nem atiçar suas saudades
Mas acontece que não posso me furtar
A lhe contar as novidades
Aqui na terra tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta
É pirueta pra cavar o ganha-pão
Que a gente vai cavando só de birra, só de sarro
E a gente vai fumando que, também, sem um cigarro
Ninguém segura esse rojão
Meu caro amigo eu quis até telefonar
Mas a tarifa não tem graça
Eu ando aflito pra fazer você ficar
A par de tudo que se passa
Aqui na terra tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta
Muita careta pra engolir a transação
E a gente tá engolindo cada sapo no caminho
E a gente vai se amando que, também, sem um carinho
Ninguém segura esse rojão
Meu caro amigo eu bem queria lhe escrever
Mas o correio andou arisco
Se me permitem, vou tentar lhe remeter
Notícias frescas nesse disco
Aqui na terra tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta
A Marieta manda um beijo para os seus
Um beijo na família, na Cecília e nas crianças
O Francis aproveita pra também mandar lembranças
A todo o pessoal
Adeus

2 comentários:

  1. Pena você não estar aqui na quarta-feira para poder ver o Palmeiras em terras caetés. Estarei lá sem dúvida. Abraço.

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  2. Pois é, Bruno. Já estava em Maceió no título da Copa dos Campeões de 2000, mas por problemas em casa não pude ir ver a final - como você foi. Desta vez, com quase toda certeza, iria.

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