Eu comentei antes da reunião do Leia Mulheres Maceió começar ontem que, dentre tantas coisas boas, a discussão de um livro num clube de leituras acaba trazendo outras visões a partir de determinada obra que podem ter passado despercebidas. Acabou sendo o caso de ontem, ao comentarmos "Maria Flor etc.", da alagoana Arriete Vilela.
Dos contos do livro, três eu tinha registrado na memória como marcantes: "A filhinha", "À Procura de uma mãe" (cuja personagem Maria Flor dá o título à obra) e "Saia Rodada". Cada qual por um motivo, num livro que para mim seguiu uma trajetória pesada ao trazer cenas quase sempre fictícias - à exceção do conto "O envelope" -, mas de um cotidiano que reflete vários de nossos problemas sociais, ainda mais alagoanos.
Porém, um dos comentários acabou dando luz a outro conto, a situações que eu passei durante a semana, dias depois de ler o livro. Em "Jonas", Arriete conta a história de um homem que chega aos 70 anos sem ter feito nada que pretendia. Seguiu o caminho mais fácil que te indicaram, o caminho que nunca gostou, mas que deixou-se levar. Talvez a única decisão realmente sua tenha sido a derradeira.
Dias antes alguém falou para mim: "Você leva tudo a sério, esse é o problema". Eu estava/estou há semanas com dores de cabeça; dormindo menos que deveria, mas de forma natural; e cada vez mais irritado com as coisas e problemas do dia a dia do trabalho, que deixam a cabeça a ponto de explodir. Foi a volta da sensação de que nada adianta trabalhar tanto, dedicar-me tanto. Sempre haverá algo pendente para alguém reclamar ou para eu ficar frustrado, em qualquer área.
Venho num processo desde julho do ano passado de aprender a me respeitar, independente de quem seja meu ou minha interlocutorx, e respeitar os limites da minha mente. Surpreendi-me ao ter percebido que não é possível seguir em 200% para nada, já que o corpo não aguenta. Com raros momentos de exceção - caso do futebol, em que saio do 80 racional para ir ao 8 não racional rapidamente -, não consigo viver, pois não chego ao meio termo entre o 8 ou 80.
Sofri para fazer um artigo, cuja ideia vinha de meses. Algo que faz parte do meu trabalho, que eu gosto, mas que a mente, que sobreviveu a um ano muito complicado como foi o do ano passado, mesmo com todos os alertas ligados de ter chegado ao limite, não liberou espaço para isso em 2016.
Em conversa com amigos, numa reunião de pesquisa antes da do Leia Mulheres, ao contar isso, um me disse que eu deveria encarar. Respondi que não, que tenho que respeitar a minha mente. Repetiu isso ao nos despedirmos. Citei que uma pessoa havia me dito que eu levo tudo a sério, o outro amigo perguntou quantos anos esta pessoa me conhecia e a deu razão, com mais anos de certo convívio comigo - ainda que nunca tenha me dito isso antes.
Viver foi o compromisso que eu assumi comigo mesmo após a devastação da mente que me ocorreu ano passado. É algo muito difícil, pois são 28 anos e 3 meses mais empurrando a vida do jeito que dá do que a vivendo. Mas as conversas desta semana me relembraram o porquê de eu não querer mais ser um "Jonas".
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