Ano passado foram mais de 20 jogos, entre Maceió, São Paulo e um em Santana do Ipanema. Como o caso da segunda cidade tem opções aos montes, de noticiosos a opinativos, resolvi escrever um pouco mais neste blog em 2017 sobre o Centro Sportivo Alagoano (CSA). Entendo que o clube tenha iniciado em 2016 um novo ciclo vitorioso de sua história, que pude acompanhar em mais de uma dezena de partidas enquanto sócio-torcedor. Para 2017, temos ainda mais, com Copa do Brasil, Nordestão e Série C fazendo companhia ao Alagoano, pois finalmente temos calendário garantido para o ano inteiro!
A ideia aqui é falar de futebol, mas especialmente contar as histórias que aparecem nas minhas idas e vindas por estádios, assunto e lugar que tanto adoro. Poucas vezes consegui escrever sobre elas nos últimos anos - eis um
caso - e talvez me propondo a criar uma espécie de sessão no blog me ajude a não esquecer de contá-las.
A volta
Quando soube no final de dezembro que o CSA iniciaria a temporada com dois amistosos contra o Confiança, animei-me a ir aos dois. O de Maceió, na próxima quarta-feira, fácil. De férias, é só ir e voltar a pé para o Trapichão. O da ida, ontem, mais difícil, pois costumo ir a estádio sozinho mesmo aqui, então não tenho um grupo que conheça que pudesse ir de carro - o que deverá ser um problema com os mandos de campo tendo que ser no interior na primeira fase do Alagoano.
Tentei convencer o meu pai a ir comigo. Não rolou. Tentei ver se conseguiria encontrar um colega de Whatsapp proletário do
Baião de Dois. Também ele não pôde. Tentei, por fim, uma colega de grupo de pesquisa que nunca foi ao Batistão e que queria ir este ano. Também não aconteceu.
Fiquei na dúvida se valia a pena fazer uma viagem super rápida, que gastaria dinheiro consideravelmente, só para ver um amistoso. Quase desisti. Mas resolvi que tinha que ir. Afinal, estou de férias e estou trabalhando mais que descansando - ainda que o labor seja menor que em período menor -, com a viagem tendo sido a tradicional de final de ano para a casa dos meus pais. Além disso, morei em Aracaju de 1990 a janeiro de 2000, mas não recordo de ter ido ao Batistão. Segundo meu pai, fomos quando eu era pequeno, mas nada ficou na memória. Recordo-me de ter ido ao Etelino Mendonça, para jogo da Série C do CSA contra o Itabaiana, em 1997; e ao João Hora Filho em 1999, ver o Sergipe ganhar do Vitória pelo Nordestão.
Cheguei no estádio perto das 17h, comprei meu ingresso, vi o ônibus do CSA chegar e fiquei esperando a abertura das portas, cerca de 1h depois. Enquanto isso, via a presença, pequena, da torcida proletária e alguns poucos torcedores do Azulão, geralmente em grupo, por lá.
Seu Enéas
Para a minha surpresa, não há qualquer divisão entre torcidas no Estádio Lourival Batista, especialmente agora num formato de "Arena" após a Copa do Mundo FIFA Brasil 2014. Andei um bocado por ele até escolher ficar onde tinha maior aglomeração de torcedores azulinos. Durante o primeiro tempo, um senhor com uma camisa polo do Corinthians, que fora ao jogo com o filho, acabou puxando conversa comigo.
Seu Enéas mora em Aracaju com a família há 3 anos, mas sempre passa ao menos uma semana por mês em Maceió e acompanha o CSA. Era a primeira vez dele no estádio porque não gosta de sair à noite, preferindo assistir aos jogos pela TV fechada em casa. O filho, curiosamente, joga na base do Sergipe porque fica bem perto da casa deles.
Algumas semelhanças nisso é que a família dele mora no Siqueira Campos, mesmo bairro que minha família morou em Aracaju por alguns anos, numa rua, se não me falha a memória, paralela a que nós moramos. Em Maceió, ele chegou a morar no mesmo conjunto que eu, conhecendo algumas vizinhas - por isso ele me disse o nome, algo não tão comum em conversas alheias que temos por aí e que eu costumo atrair.
Para irritação do grupo alagoano, o técnico Oliveira Canindé resolveu escalar o centroavante Daniel Cruz como ponta-direita, fazendo a cobertura na defesa, com Geovani, o nosso camisa 10, como uma espécie de falso-9, moda barcelonista. Não dava certo. O time ficava sem referência na frente e Daniel cansava muito tendo que ir e voltar, sem ter maior habilidade para controlar a bola. Só perto do final do primeiro tempo é que ele passou ao meio do ataque, com o setor ofensivo se movimentando mais, invertendo de posições. Foi nessa reclamação, e na identificação de jogadores que eu e Seu Enéas começamos a conversar. o intervalo foi todo nisso.
Para o segundo tempo, em meio a tantas mudanças típicas de amistoso, o jogo ficou muito melhor. Aos 8 minutos, num bate-rebate após um escanteio, a bola sobrou para Jeam, substituto de Daniel, acertar o canto e marcar o que seria o único gol da partida. O único muito mais por falhas dos atacantes do Confiança, que tiveram quatro chances claras de gol na marca do pênalti, duas muito bem defendidas por Mota, goleiro que veio do Volta Redonda, nosso algoz na final da D, e que deve dar muito trabalho ao titula Jeferson.
No final do jogo, Enéas perguntou como eu iria voltar, deu algumas sugestões de "segurança" para o entorno da Rodoviária e se despediu de mim. Foi ele que me fez perceber que no dia seguinte, 8 de janeiro de 2017, minha família completaria 17 anos da volta a Maceió. A ficha caiu para valer porque peguei o ônibus de 0h10 do dia 08. Veio tudo aquilo de novo na memória.
Como demonstrei anos atrás por
aqui, essa mudança deixou marcas muito profundas em mim, que eu diria que definiram a minha personalidade, para o bem e para o mal. Algumas muito boas, afinal eu já havia colocado na cabeça que queria cursar Jornalismo pela UFAL mesmo sem saber que voltaria, o que acabei fazendo. Além disso, a mudança serviu para sair da zona do conforto e me ajudou enormemente para eu me tornar o profissional e pesquisador que sou hoje. As ruins estão centradas na desconfiança das pessoas, afinal largamos toda uma vida, amigos, escola, estilo de vida, por algo novo, depois de uma experiência de mudança de classe social que me fez ficar muito receoso com qualquer pessoa. Além disso, ao menos até 2008, foram anos bastante difíceis para a família nas mais diferentes esferas possíveis. Talvez eu só tenha reparado o quanto tenha sido necessário para a minha formação pessoal a partir da ida ao Mestrado, no Rio Grande do Sul.
Foi a primeira vez que estive nos dias 07 e, novamente, por parte do dia 08 de janeiro em Aracaju. Ainda bem que a volta foi sem ninguém ao lado, porque algumas lágrimas caíram - ainda estou sob efeitos de um
dezembro difícil. De 2000 para cá, tive alguns reencontros e desencontros com Sergipe. Em 2012 eu quase tentei a seleção de doutorado por lá, o que não ocorreu por uma falha dos Correios na entrega da documentação. Devido a uma fatalidade, meu grupo de pesquisa teve de ser transferir à UFS em 2013, o que me fez ir algumas vezes para lá de 2014 para cá. Nesse meio termo, namorei uma sergipana, algo que acabou rapidamente e eu sempre acabo pensando que nas duas vezes que tentei uma "volta" mais frequente parece algo para atrapalhar. Coisas que acabam não tendo que ser.
No final das contas, pensando no Anderson até 2000 e no que é hoje, algumas mudanças importantes para a vida. A UFAL esteve como dois objetivos de vida e se tornou presente na minha vida, ainda que de uma forma não planejada. Especialmente por isso é que posso ir quando quiser para Aracaju e e pude me manter interligado de alguma forma com Sergipe.
Na próxima quarta-feira, CSA e Confiança voltam a se enfrentar, mas desta vez aqui perto de casa. Imagino que sim, mas espero poder ter outras histórias a contar.
Ficha do jogo
Confiança 0X 1 CSA
Data: 07 de janeiro de 2017 - 19h
Local: Estádio Lourival Batista (Batistão) - Aracaju-SE
CSA - Jeferson (Mota); Denilson (Celsinho), Leandro Souza (Lucas Silva), Douglas Marques (Leandro Cardoso) e Rafinha (Matheus); Panda (Serginho), Everton Heleno (Marcos Antônio), Cleyton (Joãozinho), Geovani (Didira) e Thiago Potiguar (Cassiano); Daniel Cruz (Jeam). Técnico: Oliveira Canindé
Gol: Jeam (CSA), aos 8 do primeiro tempo
Cartões amarelos: CSA (Douglas Marques, Daniel Cruz, Panda).
2017 do CSA
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