sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Apresentem-me esta "forma contemporânea"

Nesta quinta-feira foi o último dia da Semana da Imagem, evento realizado pelo grupo de pesquisa TCav daqui da Unisinos e que é parceiro do Cepos na linha de pesquisa 1, Mídias e Processos Audiovisuais, do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação. Conheço o pessoal da linha, professores e estudantes por conta do convívio em disciplinas comuns e posso dizer que já estou "acostumado" à maneira de se observar a comunicação por parte deles.

Eles vêem o comunicacional na perspectiva da "tecnocultura audivisual", uma espécie de ambiência em que vivemos na contemporaneidade, ou que estejamos caminhando para, em que os meios de se comunicar são entendidos como máquinas de visão, não enquanto novas linguagens, por isso que costumo dizer que eles utilizam da questão técnica mesmo, numa visão benjaminiana.

Enfim, explicações à parte, o assunto deste post é algo que já havia discutido durante o Lusocom, no GT de Comunicação e Política: a Internet, ou mundo digital, como garantidor de relações comunicacionais horizontalizadas já no espaço contemporâneo.

LUSOCOM
No Lusocom, devido a questão de atrasos dos apresentadores, um pesquisador português que desenvolveu um trabalho sobre a comunicação institucional da cidade do Porto pediu para apresentar no de Política e, como viajaria, foi o primeiro. Em seguida, apresentou um doutorando de Educação da UFSCar sobre a visão de Gramsci sobre a imprensa. Ou seja, dois pólos diferentes de análise sobre a comunicação e que, consequentemente, tenderiam a gerar uma baita discussão. E deu.

Pinto Teixeira, acho que este é o sobrenome dele, questionou se poderíamos aplicar conceitos tão duros, como no que se considera um consumidor de mídia passivo, para os dias atuais, em que, "todos podem produzir informação e difundi-la, com democracias firmes que possibilitam ter uma representação igualitárias nas câmaras políticas". Mais ou menos isso, já que foi há duas semanas.

Escutei alguns comentários de colegas e não tive como deixar de discordar dessa realidade sobre redes sociais e produção na Internet que apaga qualquer existência de indústrias culturais estabelecidas. Lembro de ter respondido que no Brasil o poderio da comunicação "tradicional" ainda era pesado - especialmente após uma colega de EPC, da Unesp, ter dado o exemplo do Sind. dos Professores de SP, que ainda se "informam" com o JN. 

Além de lembrá-lo que a realidade comunicacional brasileira é bem diferente da europeia. Aqui a televisão, a principal mídia massiva, começou e sempre foi comercial, enquanto lá começou e foi até um bom tempo estatal, com a concorrência e disputa, posterior à abertura do mercado no setor, permitir variações nas posições em termos de audiência. Em território brasileiro, por mais que perca audiência e share, a Rede Globo de televisão continua muito forte, mesmo que não tanto quanto antes.

Como o GT tinha que andar, inclusive eu tinha que apresentar um trabalho sobre o "Valerioduto" e como são estabelecidas as relações político-econômicas dos grandes grupos midiáticos brasileiros, a discussão não prosseguiu.

SEMANA DA IMAGEM I
Nas aulas de Audiovisualidades nas Mídias, no semestre passado, realizada com professores do PPGCC do TCav, num momento específico questionei um dos autores quanto à afirmação que "nunca se produziu tantas informações quanto hoje". Em que pronto fui respondido que isso é verdade, porém, nunca tantas produções foram tão irrelevantes.

Enfim, durante a Semana da Imagem, o assunto de mídias digitais como a "alternativa" voltou, e em dois momentos, mesmo que sob perspectivas um pouco diferentes.

Na terça-feira, o professor Celso Cândido (UNISINOS) participou da mesa "Impacto das novas mídias no estatuto da imagem: McLuhan 2.0". Antes de adentrar no que o professor falou em específico, já aviso logo que McLuhan, que completaria 100 anos em 2011, não está na minha lista de autores sobre Comunicação por uma postura teórica que, apesar de ter diminuído meus ranços nos últimos meses, não concordo por conta de certo exclusivismo sobre a técnica em contraposição ao exclusivismo ao conteúdo.

Voltando ao tema base deste texto, durante a apresentação do prof. Celso, que não anotei por completo e nem pretenderia resumir, logo dou aqui a minha interpretação, ele falou no poder da comunicação contemporânea, em que se sai de uma produção de "um para muitos", para "muitos para muitos". As novas mídias possibilitariam novas formas de produção, em que os indivíduos podem ser narradores de suas próprias histórias.

Cândido dá o conceito de "intercriatividade", que representa um avanço quanto a interatividade (associada a algo mais responsivo que dialógico - expressão bakhtiniana que fica por minha conta). Não se tem apenas uma capacidade de escolher, mas de se criar, de forma que estaríamos num momento em que se tem cooperação e criação coletiva, num "empoderamento molecular" que define as formas de vida da nossa época.

Confesso que fiquei inquieto desde quase o início da apresentação dele, mas a minha questão foi a "pergunta clássica" - como ele mesmo disse ao responder - se estaríamos mesmo numa sociedade assim na contemporaneidade. Para mim, não podemos esquecer que determinadas relações sociais, políticas e econômicas continuam aí e, além disso, o fato de que em países como o Brasil o acesso à Internet não ser "massificado" grande, por exemplo. Além disso, imagino que, como possibilidade, poderíamos estar numa época de transição para uma comunicação horizontal efetiva.

Um dos argumentos dele, até mesmo porque é assunto "para um debate maior", foi que muitas pessoas utilizam a Internet. Se quando ele iniciou essas discussões se falava em 200 milhões de pessoas com acesso, hoje seriam 2 bilhões. Além do fato de os brasileiros estarem entre os primeiros nas listas de redes sociais e, principalmente, acesso por horas/mês de Internet.

Volto ao ponto inicial deste sub-tópico, podemos acessar mais, porém o que se pode considerar relevante, ou da mesma relevância que um telejornal, por exemplo, viaja pela web e é de tal forma popularizado? Para mim, e um conceito de direito à comunicação ou socialização oriunda disto, não basta o acesso, mas se precisa de um processo de aprendizado tanto no que tange à melhor utilização técnica das máquinas de visão, agora audiovisuais, quanto numa socialização de conteúdos culturais que, ainda não temos da melhor forma - para alegria de adornianos.

SEMANA DA IMAGEM II
(Com sono, mas terminarei o texto...)
Na quinta-feira foi a vez do professor da UFSC Massimo Canevacci se apresentar em duas mesas, na de "Tecnocultura Audiovisual" e numa apresentação denominada "Carpe-codex". Em ambas ele tocou em temas que me trouxeram curiosidade, caso de uma "divisão comunicacional do trabalho" no lugar da "divisão social do trabalho" marxiana, e na importância da internet enquanto direito fundamental do ser humano.

Pelo que eu entendi do que foi proposto pelo professor Canevacci, ele ainda considera a comunicação atual verticalizada, em que a internet seria fundamental para horizontalizar, e entende que se deve desenvolver um tipo de democracia outra, uma "cidadania transitiva", em que se pudesse transitar por vários países, sem ter uma nacionalidade que o defina. Além disso, não haveria hoje mais indivíduo, mas multivíduo. 

À noite, numa apresentação mais voltada a uma composição de "metrópole comunicacional", ele voltou ao tema da "divisão comunicacional do trabalho" e finalmente pude perguntar se isso não seria uma proposta na tentativa de centralizar a resolução dos problemas no comunicacional, ao contrário da proposta de Marx que considerava como formador do campo do trabalho, questões sociais, econômicas e políticas - faltando o quesito cultural nele, acrescido a partir dos frankfurtianos. 

A resposta dele foi que horizontalizando a comunicação se pode criar um conflito político, já que a política depende muito da comunicação e sua alteração. Cada indivíduo, inclusive com as mídias digitais, tem a preocupação em produzir seu conteúdo, numa situação que conflitua com a hierarquização vertical da atual política.

CONCORDÂNCIAS E DIVERGÊNCIAS
De forma geral, quem me conhece antes da vinda à Unisinos sabe o meu posicionamento sobre o Twitter, em específico, e alguns destes já riram de mim após a utilização desta rede social e o quanto eu a utilizo. É uma ferramenta importante e interessante a se ocupada, mas não pode se a única.

O exemplo atual das manifestações árabes e inglesas mostram que as redes sociais foram importantes para a difusão, mas se não fosse a luta diária, com manifestações da população, pouco teria mudado, até mesmo porque a primeira atitude dos governos ditatoriais foi fechar os caminhos de comunicação via rede. Se uma coisa fosse tão ligada à outra, as manifestações teriam se encerrado. Além disso, o quanto sabemos do processo nesses países hoje a não ser o mínimo que é/foi oferecido pelas indústrias culturais tradicionais?

Já defendi as redes sociais noutra aula no semestre passado. Não vejo essas novas mídias como revolucionárias, a salvação da sociedade desigual que continuamos a viver, mas não deixo de admitir que podemos falar algo. Este blog, o site Estratégia & Análise, o Sururu Fresco e o Observatório da Imprensa, espaços que alguns dos meus textos são publicados, são provas disso. 

Porém, um dos problemas da difusão um-um ou muitos-muitos é que não se tem "fórmula" para que um assunto importante vá parar, por exemplo, no Trending Toppics do Twitter, espaço que continuo achando com possibilidade de informações mais efêmeras. O filósofo esloveno Slavoj Zizek parou por conta de conversas com a cantora pop Lady Gaga, não por sua análise filosófica, que é muito interessante, por sinal.

Mesmo com a crise que reflete a "Fase da Multiplicidade da Oferta" de bens culturais, um assunto para se tornar público, de forma geral, tem um maior alcance na mídia hegemônica "tradicional" que numa nova mídia - que até possui uma via de mão-dupla, após muito "sacrifício", com as mídias sociais, que não a balizam totalmente. 

No Chile, os protestos dos estudantes geraram uma rede de rádios comunitárias no país que transmitem o assunto de forma a contrapor às informações da "grande mídia local". Um velho meio de comunicação que ainda tem maior amplitude de recepção que as webrádios - que não devem deixar de existir por conta disso.

Tragamos o exemplo do presidente da CBF, há 22 anos no cargo, Ricardo Teixeira. O #foraricardoteixeira ficou alguns dias nos TTs do Twitter, mas as manifestações públicas contra ele levaram, por enquanto, no máximo 500 pessoas às ruas de uma cidade como São Paulo! Ainda muito pouco, por mais que seja "algo", perante o que (não) se tinha antes.

O próprio Teixeira, numa soberba "sinceridade sanchezniana", disse à revista piauí que só se preocuparia quando aparecesse no Jornal Nacional, como apareceu indiretamente no último sábado. Porém, o motivo não foi a marcha organizada pela Frente Nacional dos Torcedores em São Paulo, mas uma divergência quanto à mudança de horários sem consulta dos jogos do Brasileirão deste ano.

Concordo também, e plenamente, que a informação atingiu um patamar de fundamental importância para o modo de produção capitalista na sua fase contemporânea, em que é isso que movimenta os mercados financeiros mundiais. Porém, pensar que resolver este problema pode resolver tudo é esquecer que este problema, o da comunicação, deriva de outros, e não o contrário.

sábado, 13 de agosto de 2011

Em busca do El Dorado: A primeira aula sozinho


Bem que prometi aos amigos @guerravictor e @mamaedoben outros textos, com detalhes sobre a viagem a trabalho feita a São Paulo, mas um convite de última hora e, para variar, com aceite da minha parte, mudou todas as perspectivas de escrita para blogs. O assunto a ser relatado é a primeira vez que dei aula sozinho - já que comecei uma aula no semestre passado, em que o professor se atrasaria por conta de uma reunião.

Mas antes que todos achem que "estou muito bem", não é bem assim. Um professor amigo de grupo de pesquisa, e de perspectiva revolucionária, com quem desde o começo por aqui faço "estágio docência" na disciplina Radiojornalismo 1, teve alguns problemas quanto aos novos horários de aula deste semestre. Dentre eles, a aula de Rádio 1 foi transferida para a segunda-feira, o que motivou minha ausência na primeira do ano; e o fato de ele ter aula agora também nas sextas-feiras, sua "folga" de Unisinos.

Fato é que ele já tinha marcado uma viagem nesta sexta-feira pela manhã e, após algumas "conversas"  com o coordenador da graduação daqui, nada foi resolvido quanto a um substituto para ele nesta sexta-feira. Então, enquanto fazíamos a reunião do nosso núcleo de estudos - é, estou envolvido em outro desses por aqui também -, ele perguntou se eu tinha o que fazer nesta sexta-feira. Nem precisava dizer do que se tratava, mas ele disse depois: "pode dar mais essa força e me substituir?".

O pânico passou por mim, já que a disciplina era Redação para Rádio e TV, o assunto da primeira aula era "nota coberta". Tudo bem que a minha vida acadêmica "oficial" é estudando TV, tanto no TCC quanto agora na dissertação, além de acompanhar muitos telejornais por conta do trabalho em Maceió, mas a minha prática nessa área é pequena. Aceitei. Era só me preparar que conseguiria.

PROBLEMAS
Como se trata deste autor que vos escreve, é claro que o relato não seria o mais normal possível, de "tudo deu certo"... Quando fui confirmar a sala e pegar a chave para abrir a sala, descubro que o pessoal do posto de atendimento não sabia que este meu amigo tinha aula dia de hoje. Ainda expliquei que mudou neste semestre, mas foi preciso o coordenador aparecer de não sei onde para tentar resolver o imbróglio - após quase meia hora de espera e de estudantes indo e vindo, subindo e descendo.

Eu disse "tentar", já que após mais algumas conversas com os outros dois professores que têm turmas na disciplina, com a definição da sala em que eu deveria estar, enquanto eles dividiriam a outra, ainda fui interrompido algumas vezes pela chegada do coordenador e de um dos professores na sala.

E isso porque não falei ainda da forma como me olhavam quando dizia que ia substituir o professor da disciplina. O coordenador quando me viu no posto de atendimento e foi informado que eu era o substituído perguntou: "Você? Vai substituir o Bruno?". É, na verdade foi um "é você que vai substituir o Bruno?", mas bem que a entonação e a vontade dele eram a de perguntar a primeira opção.

Os dois outros professores também. Um deles, o que entrou na sala, perguntou de onde eu conhecia o Bruno. Tive que explicar que era do mesmo grupo de pesquisa que ele e que também era mestrando no PPGCC desta universidade.

Ah, e as caras dos estudantes quando a outra professora disse que os matriculados em turma tal, que não faço a mínima vontade de lembrar por ter mudado quase tudo um tempo depois, seguissem-me até a sala vizinha!

Car@s leitor@s que chegaram até este blog e não me conhecem. Tenho 23 anos e sou mestrando, com um rosto com algumas espinhas, cabelo cortado baixo, mas que não quer ficar quieto. Enfim, tenho colegas com 21 anos, mas imagino a surpresa dos discentes. Devo ser novo para o que estão "acostumados". Além disso, sou franzino, costas tortas, não dou moral alguma numa primeira visão, ainda mais para ser professor (substituto) de universidade privada.

VAMOS À AULA!
No início, não parava de chegar gente na sala. Até que alguém chegou e reposicionou as pessoas, tendo cerca de 15 a 20 no final das contas para esta aula. Fiz a minha apresentação, a da disciplina e de como imaginava que ela transcorreria ao longo do semestre, incluindo como poderiam ser as verificações de aprendizagem (aqui, "Graus"). Depois, mãos à massa! Encher o quadro de informações sobre notas, mais específico sobre nota coberta televisiva.

Como carta na manga, ou melhor dentro da mochila, puxei o notebook e apresentei três exemplos que havia pesquisado ao longo do dia, de forma a melhor exemplificar o que seriam as tais "notas cobertas". Destrinchei as partes mais importantes sobre a produção, questão do curto tempo e, o principal, busquei por exemplos de empresas diferentes e com conteúdos diferentes. 

A primeira matéria veio do Jornal da Record, um "protesto diferente" de policiais grevistas de Goiás, que colocaram num outdoor um "bem-vindo à terra da violência". Depois, uma matéria da TV dos Trabalhadores, canal aberto de fundação educativa de um sindicato dos metalúrgicos de São Bernardo do Campo. Por fim, como não deixaria de ser, uma matéria com futebol, do Jornal Nacional.

É claro que não deixei de fazer piadas e criticar algumas posturas profissionais e de alguns órgãos de imprensa. Levando em consideração minha formação social e ideológica não dá para fugir disso. O que é bom, já que descontrai o ambiente e, além do mais, não tiro da cabeça nestes momentos que até o início de janeiro deste ano eu era graduando tanto quanto eles - por mais que não tivesse aula há um ano.

É ISSO!
Saí de lá satisfeito. Apesar que tenho certeza que não chego nem aos pés do amigo que substituí, uma enciclopédia ambulante como costumamos dizer nos bastidores do Periscópio da Mídia. Alguém que ouvi alguns comentários sobre. Primeiro, que eu não assustava tanto quanto ele numa primeira aula; depois, que uma moça fora avisada para não pegar as disciplinas com ele; e, por último, que ele causava amores ou ódios, pessoa esta que gostava muito das aulas dele.

Foi engraçado sair de lá e passar algumas coisas da minha trajetória na cabeça. Pode ter sido algo localizado e ainda bem distante de uma realidade de venda de força de trabalho para o campo da educação, mas foi bem legal ter essa experiência.

Até o fim do semestre já tinha definido participar ainda mais das aulas de Rádio1, agora com obrigação formal com a universidade. Enquanto isso, esta força de trabalho (intelectual) segue com quem é "responsável" por pagar nossas contas.

(Ah, este post marca também os 5 meses aqui em São Leopoldo. Sexta-feira de temperatura "alagoana" = 33º C)